Capítulo 118

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       Teste dormir durante a tarde, em um dia que você acordou muito cedo e quem sabe saiu um pouco pra fazer compras, ou trabalhar.
     A sensação que se espalha pelo nosso corpo, óbvio, é de descanso, mas acima disso, em algumas ocasiões, é como se fosse outro dia, e assim que abre os olhos tem até uma certa dificuldade em discernir que horas são, onde está e em casos mais extremos, o próprio nome.

     Eu não sou louca, pelo menos espero que não, afinal essas situações sempre me acompanharam por ter um trabalho tão tarde. Porém, agora o motivo é outro.

      Perdi toda a noção de tempo, não consegui sentir medo mesmo quando todos, absolutamente todos os meus cinco sentidos foram "desligados", por míseros segundos, que mais se assemelharam a horas.

    Ou dias? Ou só segundos?

    O que eu estava pensando mesmo?

    - Meu anjo, pode abrir os olhos.

      Ah, eu estou...com eles fechados? Não, não...ou sim?

     - Rígel, vai ver o pirralho, eu ajudo a Bellatrix.

    Ajudar? Quem aqui precisa de ajuda?

     Ajudar...é uma palavra divertida se caso você repetí-la várias vezes.

    Ajudar, ajudar, ajudar...aju-dar. Se "aju" for uma fruta, você estará dando um fruto que cura?

    - Deite a cabeça dela, Saiph. Ella, sou eu, o Betel. Pode parecer confuso, mas confia em mim, vai passar. Tente abrir os olhos e deixe o seu corpo sentir.

    - Deixe o seu corpo sentir? De qual livro de autoajuda você tirou isso, cara?

     - Tem uma ideia melhor então? Pois nenhum de nós três teve problemas com viagens. Até o Arthur parece bem, e ele é humano.

     - Bellatrix, ouça seu namorado mais inteligente e abra os olhos pensando em algo que lhe dá raiva.
 
     - Raiva, irmão?
   
     - Sim.

     - Sério?

     - O que?

     - Se for raiva, então lembre o quão irresponsável o Saiph foi com o Arthur na segunda passada.

     - Nem pense nisso! Os três dias de celibato foram castigo pra uma vida toda!

     - Pernudo, o que é esse celibato?

     Será que é assim que os bebês se sentem quando vêm ao mundo??

      O segundo sentido que eu tenho de volta, já que o primeiro foi a audição, é o toque.

     Consigo reconhecer quando uma gota morna de algo pinga na minha testa, escorregando até a lateral da minha cabeça. A sensação é tão hipnotizante, que começo a sorrir quando a noto alcançar a curva da minha orelha.

     Levo a mão até o local e o líquido molha a ponta meus dedos, só então abro os olhos. E de início é como se tudo fosse desfocado e sem nenhuma qualidade.

     Mas é só o começo.

     O cheiro forte de grama molhada adentra o meu nariz, com tanta força que acabo tossindo até me acostumar com o odor puro e tão natural quanto caminhar no bosque, logo após cair uma tempestade.

     - Meu anjo, como se sente?

     Desvio o foco dos meus dedos molhados de água, para então fitar Rígel, começando a pensar na forma de responder sua pergunta sem parecer uma bêbada. Pois é assim que me sinto, entretanto não é ruim, apenas...novo. Isso é muito novo.

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora