Capítulo 116

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Saiph ON

      Aquelas palavras ecoam em minha cabeça como um soco desferido sem piedade.

     "- Saiph, você é o irmão biológico do Betel."

     Eu amo a voz daquela mulher, mas essa foi a pior frase que eu poderia ter ouvido sair daqueles belos lábios.

      Um pequeno pedaço de merda, é isso que estou me sentindo ao saber que compartilho do mesmo sangue que aquele desnaturado filho de uma puta. Em minha cabeça, ele era um rei estúpido, capaz de ouvir um demônio antigo e perverso, levar seus conselhos em consideração até arruinar parte dos seus guerreiros.

      Depois de tanta marra, se mostrou um perfeito idiota. Agora, mudou pra algo muito pior na minha concepção.

    Aquele homem não é, e nunca será meu pai.

    - Saiph, sou eu. - A voz soou tão distante, que ignorei. Permaneci fitando o quão simétrico o piso de madeira do meu quarto pode ser. - Saiph, posso entrar? - Sim, agora eu tenho absoluta certeza de que ouvi. Porém, me dou o deleite de ignorar propositalmente. Não quero ver ninguém, mesmo essa pessoa sendo meu adorável irmãozinho não biológico. - Vou entrar. - Por que eu não me surpreendo? O som da porta abrindo se transforma em um ruído ao precisar empurrar a mesa virada, que barrou o caminho. Pensei que fosse madeira de verdade, mas quando o material se rachou assim que joguei na porta, pude ver o quão falso e de quanto pó artificial era feito. - Mas o quê...!

    - Vai embora.

    - Quebrar seu quarto ajudou a desestressar?

    - O que você quer?

    - Falar com você.

    - Lamento. - Suspiro e estico os pés na madeira lisa e envelhecida do chão, soltando ainda mais o peso das costas na lateral da cama. - Mas eu não quero falar com você.

    - Eu sei.

    - Então saia.

    - Eu vou.

    - Ótimo.

    - Mas antes... - Seus passos pelo chão são audíveis, já que parece chutar algo de metal pra chegar até a cama, se sentando nela ao meu lado. Pelo canto de olho vejo seu jeans. Rígel fica bem neles, o deixam com uma aparência jovem, parecido com um personagem daqueles filmes chatos de adolescentes. - Eu fiz a Ella ir ver a Lana.

    - Obrigado.

    - Afinal, esse estado seu é um pouco...

    - Deplorável?

    - Instável.

    - Eu nunca a machucaria, nem no meu pior momento, Rígel.

    - Eu sei. Mas também sei que afastaria ela...disso. - Completa e noto sua mão apontar em volta. Que exagero. Eu nunca gostei muito desses móveis mesmo. - O Betel foi trabalhar. - Pigarreia. - E eu também preciso.

    - Vá em paz, não pretendo fugir do castelo, me veja como uma princesa indefesa.

    - Na verdade, diria que hoje você será o dragão.

     Sua frase quase me fez sorrir, porém passou longe. Meu rosto parece congelado, mesmo que eu queira soar brincalhão ou até mesmo irônico, sinto as palavras saindo com uma entonação de raiva.

    Não estou bravo com o Rígel.

    Nem com a Bellatrix.

    E por mais incrível que possa parecer, também não estou com o Betel.

Cinturão de Órion (COMPLETO/REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora