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Junho 2003
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Laís Silva
Segunda
8:20am


Acordei sentindo meu filho chutar a minha barriga, oito meses, quase nove. Lucas, meu primeiro filho, tão sonhando por mim, é a minha fonte de felicidade no meio desse caos.

Meu relacionamento com Alex anda bem difícil nesses últimos meses, do meio da gravidez pra cá na verdade. Nós somos "casados" a um tempinho, nos amávamos muito, nos respeitávamos e éramos felizes. No início da gravidez ele ficou feliz e queria participar das coisas, agora nem faz questão.
Até mesmo o nome do Lucas eu escolhi sozinha, perguntei várias vezes se ele tinha alguma sugestão e ele só dizia "Escolhe ai".

Ele começou a me trair e nem fazia questão de esconder, eu vivia passando nervoso por conta das mulheres que ele transava, me paravam na rua só pra jogar piadas, eu nunca fui de barraco, ainda mais grávida, então deixava passar.
Alex não falava nada, pra ele não fazia diferença.

No meio disso tudo tive um descolamento de placenta e quase um aborto espontâneo, foi quando eu deixei de mão pelo bem do meu filho.

Faz dias que ele não dorme em casa , antes eu morria ligando pra saber onde ele estava, mas hoje não mando nem uma mensagem.

Levantei e fui para o banheiro, tomei um banho, lavei meus cabelos e passei meu bio-oil pra evitar estrias.

Minhas roupas quase não estão cabendo, então peguei uma blusa do Alex e vesti com um shortinho de pano mole por baixo.
Ele deve ter outras roupas por ai, já que quase não toma banho em casa.

Penteei meu cabelo e calcei minhas slides, são mais confortáveis.
Desci e fui pra cozinha, a Maria, a senhora que está limpando a casa agora é super gentil e trouxe meu café.

Antes eu mesma limpava e cozinhava, mas com os problemas que eu tive não dava.

Graças a Deus a minha distribuidora de bebidas/barzinho dão uma grana boa e assim não preciso pedir nada pro Alex, as reformas no quarto que vai ser do Lucas, os móveis, roupinhas e todo o mais eu paguei com o meu dinheiro.

Eu construí tudo isso com a ajuda do meu pai antes dele morrer e usei o dinheiro que ele me deixou para investir e crescer.

Tomei meu café com algumas frutas e suco e fiquei na sala dando uma olhada no sistema dos meus negócios pelo computador.

A porta Abriu e o Alex entrou, sabia que era ele só pelo jeito de abrir a porta.
Mas nem olhei, continuei fazendo minhas coisas.
Ele subiu direto e ficou por lá um bom tempo.

Troquei mensagens com a Bruna, minha melhor amiga e irmã. Ela está me ajudando a resolver as coisas do parto do Lucas, já fomos no hospital, eles me levaram pra conhecer a ala de parto e todo o mais. Ela já tem um filho, o Bruno, tem cinco meses, uma gracinha.

—Quando que mexeram no quarto?— Alex perguntou descendo as escadas, quase três meses que o quarto do Lucas tá pronto e ele só foi ver agora.

— Tem uns três meses!— respondi normal sem tirar o olhos do computador.

— Tu não usou o cartão, comprou as coisas com a tua grana?— concordei, ele tinha me dado um cartão com um limite bem alto pra eu comprar o que quisesse, mas quase não uso pra não ser chamada de mercenária e interesseira como essas mulheres que ele banca.— Já sabe quando ele nasce?— que milagre, ele sabe que é menino.

— Sim, provavelmente na terceira semana desse mês!— tínhamos entrado em junho agora, ele vai nascer provavelmente entre os dias dezesseis e dezoito

— Lucas é legal!— só sabe porquê tem o nome Lucas em mdf em uma prateleira do quarto.

— É!— Já estava cansada desse papo.

— Tu podia ter usado o cartão pô, não precisava gastar teu dinheiro!— tive vontade de rir. Queria que eu usasse o cartão pra ele dizer que participou de alguma coisa depois?

— Não vai fazer falta pra mim, pode ficar de boa!— fechei o computador.

— Vou pra boca, mais tarde eu venho!— Nem entendi porque dele está avisando, dei de ombros e ele saiu. Por mim nem precisava vir aqui. Eu amo muito o Alex, mas estou aprendendo a deixar ele de lado, se ele não da importância por quê eu vou dar?

Passei o resto do dia fazendo pequenas coisas, já que não podia fazer esforço. Ajudei a Maria no almoço cortando alguns legumes e depois de almoçar fui dormir um pouco.

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18:30pm

Acordei já passava das cinco. A Maria já tinha ido, mas deixou a janta pronta.

Tomei água e voltei pro quarto, estou evitando ficar descendo toda hora. Tomei um banho e vesti outra blusa do Alex e outro shortinho de dormir. Meu look de guerra.

Fiquei atoa vendo uma série que eu deixei pausada.

Já estava quase cochilando quando o Alex entrou no quarto, deixou o fuzil atrás da porta e foi pro banheiro.

Meu Deus, por favor, se essa criatura veio pra cá pra encher a minha paciência pode eliminar ele, meu filho já não vai ter um pai presente de todo jeito.

Lucas tava meio agitadinho hoje, mas agora estava quieto, até estranhei, tentei brincar um pouco com ele e respirei aliviada quando chutou a minha mão.

Alex saiu do banheiro e foi se vestir, aproveitei e desci pra cozinha, última vez que venho aqui hoje. Coloquei um pouco de comida no prato e esquentei no micro-ondas. Sentei na mesa pra comer, junto com um copo de suco de laranja.

Lavei o que eu sujei e fui pro quarto.
Quando cheguei lá percebi que tinha desacostumado com a presença dele.

Escovei os dentes e deitei do meu lado da cama com o controle do ar em mãos.

Dei uma última olhada no celular e desliguei, fiz a mesma coisa com a luz, me cobri e virei de lado.

- Trouxe uma parada pro Lucas!- tornei me sentar ligando a luz da luminária do meu lado. Ele pegou uma caixinha de veludo que estava na mesinha ao lado dele.

Me entregou e eu abri, era uma pulseirinha de ouro com um pingentinho delicado de cruz.

- Valeu!- fechei a caixa e desliguei a luz voltando pra minha posição.

Se ele estava esperando mais alguma coisa se fudeo. Cansei de ser a trouxa que sempre ficava correndo atrás de migalhas. Nem sei se vou por essa pulseira no Lucas, já deve tá querendo comprar a criança com presente e olha que ele nem nasceu.

Nem vi quando ele dormiu, só sei que eu dormi, desconfortável por ele estar ali, mas dormir.

As coisas já foram fáceis de mais pro Alex, ele tinha tudo que um homem de verdade queria e não valorizou, jogou fora.
Agora ele que sustente e se contente que as mulheres que ele pega na rua e banca casa, silicone e até plástica. Não desejo o mal dele, mas se um dia cair quero ver se alguma delas vai querer ir pegar cadeia com ele, enfrentar fila de presídio cinco horas da manhã e passar por todo tipo de humilhação por ser  mulher de bandido. Se oferecer dinheiro pra ir é bem capaz de aparecer, mas se não tiver, vai ser difícil.

Infelizmente quando não damos valor, perdemos.

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Primeiro capítulo repostado♥️

Luz em todo morroOnde histórias criam vida. Descubra agora