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Laís Silva
Quinta
8:30


Nem me pergunte que loucura foi aquela na casa do Alex. Até agora eu ainda estou me perguntando como foi que chegamos naquilo.

E o pior nem foi ter acontecido, o pior foi eu ter gostado e descoberto que a certeza que eu tinha, de não sentir nada por ele, caiu por terra.

Foram quinze anos longe um do outro, eu aprendi tantas coisas e no meio disso achei que não gostava mais dele. Mas no final isso só estava guardado lá no fundinho esperando pra sair.

Me senti uma adolescente de novo, parecendo que estava dando o primeiro beijo, borboletas na barriga e meio perdida.

Mas a gente se conhece muito a ponto de não esquecer algumas coisas e eu posso afirmar que foi como voltar a anos atrás e perceber que ninguém conseguiu me fazer sentir isso até agora.

Confesso que ainda tenho meus pés atrás, mas vou dar esse voto de confiança. E fazer isso sem que ninguém saiba, porquê pode não dar certo e eu não quero que ninguém além de nós tenha expectativas.

Lucas e Cecília não tiveram aula hoje e já sei que eles não vão parar o rabo em casa.

Desci e fui pra cozinha onde os dois já estavam sentados tomando café e já arrumados, tô falando.

- Bom dia, em pé essa hora?- deixei um beijo na bochecha de cada um e me sentei.

- A gente vai ajudar lá no galpão, eles vão distribuir kits e essas coisas pro pessoal!- Cecília falou com a boca cheia de pão. Meus filhos sempre estão dispostos a ajudar e eu fico feliz de mais por isso.

- Laís deixaram umas flores pra você aqui hoje cedo!- Maria avisou e eu a olhei.- Não sei quem mandou, o rapaz da floricultura só entregou.

- Humm tá de admirador secreto dona Laís?- tinha que ser a Cecília. Isso só pode ser obra do Alex.

- A meu Deus, eu não vou aguentar outro coxinha!- Lucas falou fazendo careta e eu tive que rir.

- Eu também não sei quem mandou!- fiz a pêssega e fui até o jarro que a Maria tinha posto as flores.

Rosas brancas, acho que alguém é bom de memória, é a flor que eu mais gosto, porquê me lembra o meu pai, ele gostava de flores e quando não estava trabalhando ele cuidava das flores que ele mesmo plantava no quintal da nossa antiga casa.

No meio das flores tinha um cartãozinho, o Alex é muito doido.


" Para deusa, feiticeira mais linda desse mundo.
Ainda lembro que essas são as suas flores preferidas."


Só aquele coiso pra fazer isso mesmo, guardei o cartão no bolso e fui tomar café.
Nada como um homem querendo te conquistar.

Meus pimpolhos foram pro galpão e eu fui trabalhar, hoje os entregadores resolveram vir todos de uma vez e vai virar uma zona, pra completar ainda tenho que ir no banco a tarde, preciso de cheques e tentar aumentar o limite do meu cartão.

Entrei direto pra minha sala, preciso organizar aquela pilha de notas fiscais pra não ficar perdida depois.

É coisa encima de coisa, porquê não é um estabelecimento só, são cinco em vários lugares do Rio, deu um trabalho danado pra conseguir crescer tanto? Deu e muito, ainda mais por eu ser mulher e ter que ficar batendo cabeça com vários machistas, sempre quando eu chegava nas reuniões com os fornecedores eles se espantavam, porquê esperavam um homem de terno e gravata. E eu tinha que ficar provando que sabia colocar ordem.

Luz em todo morroOnde histórias criam vida. Descubra agora