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Alex (Cobra)
Sexta
10:20am

Três dias que eu voltei pro morro e ainda estou me adaptando.
Muita coisa mudou no movimento, tudo mais tecnológico.

Aprendi até mexer num celular, tô me virando bem.

Depois da "conversa" com a Laís um pá de coisas ficaram mais claras pra mim.

E uma delas é que eu amo essa mulher.

A anos atrás eu cheguei a duvidar disso e meio que me forcei a acreditar nisso pra poder seguir o meu plano de alcançar a "liberdade".

Mas quando eu vi ela de longe foi como da primeira vez que eu a vi.
Eu adolescente, só tinha uma meta, que era conquistar o coração da novinha. E talvez essa seja uma das minhas metas atuais, depois de conquistar os meus filhos, mesmo que a missão de tê-la de volta pareça impossível, nada me impede de tentar.

Depois quando eu a vi na casa da Bruna, de perto foi diferente, eu senti que esse sentimento que eu achei não ter estava ali o tempo inteiro. Mas eu o sufoquei.

Laís estava igual, mas ao mesmo tempo diferente e o jeito frio que ela me tratou só deixou bem claro que eu tinha perdido realmente muita coisa nesses quinze anos e talvez tenha perdido o amor dela também.

Mas quando ela me olhou, caralho, eu vi, eu vi ali no fundo dos olhos dela que ainda existe alguma coisa. E eu vou fazer ela sentir de novo.

Mesmo que eu seja um filho da puta que não mereça nada, eu vou tentar.
Tentar até que eles me perdoem.

Fiquei durante esses dias observando eles, quando podia, porquê agora fico muito tempo na boca também, Caco está me atualizando, combinamos de ficar juntos nessa, os dois se ajudando, como sempre foi.

Lucas, Cecília e Bruno estudam fora do morro pela manhã, a tarde o Lucas sempre fica com o Bruno jogando bola, em casa ou então ajudando a Laís no negócio dela. Sempre com a cara de bolado/puto, mas quando tá com os amigos sorri bastante, ele também joga muito e vai me dar um trabalho dobrado.

A Cecília nesses três dias sempre vai pro galpão onde funciona os projetos do morro. Pelo que vi ela é bem na dela e também não é muito de sorrisos, está sempre sozinha, com o Lucas e o Bruno ou com a mãe. 

Percebi que ela gosta muito de ficar no mirante, eu também gostava.
Na terça fiquei observando ela e o Lucas lá, no mesmo banco de concreto que eu sentava com o Caco pra conversar ou pra fumar sem a coroa apertar a mente.
Caco já tinha me falo da relação dos dois, que são unidos pra tudo.

Cecília não era mais uma menininha, a garota já tem peitos gente. E isso chama a atenção desses vagabundos filhos da puta. 
Esses dias tive que dar uns tapas num zé que falava dela numa rodinha depois que ela passou, toda alheia ao que acontecia a volta dela.

E por acaso acabei conhecendo o namoradinho da Laís.

Juro pelo amor de Cristo que não é porquê eu sou da oposição. Mas o cara não tem nada haver com ela, um coxinha engomado de dar dó. Só observei.

Não vou mais adiar a minha conversa com eles, vou fazer isso hoje mesmo.

Já me preparei pra eles me rejeitarem e fazerem eu me sentir pior do que eu já tô.

- Irmão se prepara, porquê o bagulho vai ser tenso!- Caco falou depois de eu dizer que ia falar com eles hoje a tarde.

- Eu imagino, mas faz parte! Não podia esperar que eles me recebessem de braços abertos!- larguei a caneta que eu usava pra fazer as anotações no caderninho sobre a mesa.

Luz em todo morroOnde histórias criam vida. Descubra agora