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Vanessa Magalhães
19:30pm


Desde o dia que entrei nessa favela eu vim com apenas um objetivo:

Derrubar o Cobra.

Só não imaginei que ia ser tão fácil.

Aos dezesseis eu me envolvi com o Veron, frente do complexo da Maré. Antes mesmo de saber que ele era casado.
Acabei me apegando de mais, talvez pelo jeito de me tratar diferente, carinhoso, fazendo as minhas vontades e fazendo eu me sentir única, nem a minha mãe me tratava daquela forma.

Quando descobri da mulher dele, tentei me sair, não queria ser amante, mas naquele dia ele disse que me amava e me fez uma proposta.

Entrar no Vidigal e puxa o tapete do Cobra.

E quando voltasse me tornaria fiel dele e isso era tudo que eu mais almejava, ser assumida como fiel, ser feliz ao lado dele.

No começo achei aquilo uma loucura, ainda mais depois que descobri que o tal Cobra era casado, mas o Veron me garantiu que eu ia conseguir e quando concluísse a missão iriamos ficar juntos.

Então me mudei pro Vidigal, como uma simples moradora nova.
Pra não dar tão na cara no começo arrumei um emprego como atendente numa loja de roupas e fui mapeando o território.

Quando cheguei ele vivia pra cima e pra baixo com a mulher, pareciam um casal bem feliz. Mas não me deixei abalar. Precisava manter o foco.

Fiz amizade com algumas meninas, fui no baile, o sondei pra saber melhor como ele era, como se comportava.

Então comecei a jogar.

Pensei que seria extremamente difícil, mas não foi e ele caiu de primeira, chega a ser engraçado, parecia ser tão fiel e na minha primeira investida ele veio.

Confesso que não foi ruim, mas eu não estava ali porque queria, então não foi tão prazeroso, mas ele se acabou e não foi atoa que voltou inúmeras vezes.

Pra completar o meu " teatrinho" até arrumei uma confusão com a mulher dele, não sabia que ela estava grávida e pelo esculacho que ele me deu depois, ela quase perdeu o bebê.

Cada dia que passava eu sentia nojo dele e se o Veron tivesse me dado carta branca tinha matado ele em alguma das vezes que ele dormiu ao meu lado, mas eu não podia.

Eu passava cada passo que o Cobra dava pro Veron, ele estava armando tudo com o comandante da Bope e também da operação. A Bope iria invadir e prender o Cobra, o morro ficaria frágil e assim o Veron invadiria e tomaria o comando da favela.

Fiquei sabendo que o morro receberia um novo carregamento de armas, porquê ouvi o bobo no telefone, e dei a planta completinha pro Veron e eles conseguiram interceptar o carregamento, o que deixou o morro ainda mais frágil. Estava tudo perfeito e logo meu pesadelo acabaria.

Mais de nove meses aguentando esse cara não é uma tarefa fácil. . Levei alguns tapas e puxões de cabelo que vou cobrar dobrado pro Veron depois.

E hoje não poderia receber notícia melhor.

Cobra foi preso.

Não me contive de felicidade e precisei ligar pro Veron, sei que ele não gosta que eu ligue porquê alguém pode ouvir, mas não aguentei.

- Conseguimos amor! Não vejo a hora de poder te ver!- falei rápido assim que a ligação foi atendida.

- Quem tá falando?- aquela voz que eu bem conhecia, Fernanda, "fiel" dele- Perdeu a voz? Quem é?- não sabia o que falar. De fundo ouvi a voz dele perguntando o que estava fazendo e desligaram.

Se ela falar que fui eu tenho certeza que ele vai me encher depois.
Tive que conter a minha felicidade e me fazer de triste pra ninguém desconfiar.

Tenho pena do Cobra, a única que vai querer fazer visitas pra ele é a mãe, porquê a ex dele não vai se prestar a isso, ainda mais depois dele ter saído de casa assim que o filho nasceu e tá nem ai pro menino.
Outra coisa que eu nunca vou entender, ele fala de liberdade e que quer aproveitar a vida, mas fica namorando uma foto da criança que ele tem no celular. Nem sei como ele consegue dormir a noite, deve sofrer de culpa e remorso por ser uma pessoa assim.

Viajei nos meus pensamentos e me assustei com batidas na porta, quando você tem culpa no cartório até um vento que bate na cara te assusta.

Fechei a porta do quarto e cruzei a sala para abrir a porta. Devia ter me fingindo de morta. Digamos que o Caco nunca foi muito meu fã e muitas vezes quase mandou tudo pro buraco, inclusive eu.

- Posso trocar uma palavra contigo?- assenti dando passagem pra ele e fechando a porta.- tu já deve tá sabendo que o mano caiu e quero saber se tu vai fazer as visitas- me encarou sério e a minha garganta até secou, meu plano era meter o pé daqui amanhã cedo pra nem dar tempo dele vir aqui. Veron não tinha me dito o que fazer caso isso acontecesse.

- Eu não posso fazer visita, não tenho nenhum laço comprovado com ele!- falei a primeira coisa coerente que veio na minha mente.

- Isso nois arruma. Só quero saber essa fita, tu vai ou não?- cruzou os braços me fazendo ficar ainda mais nervosa.

- Não vou, até porquê não vou ganhar nada indo fazer visitas! Pode arrumar outra pessoa!- falei o mais séria que consegui.

- Sempre soube que tu nunca ia segurar uma barra dessa- falou com ar de riso- Não sei o que o Cobra viu em tu, não passa de uma mina fútil e emocionada que não sabe nada da vida. Acho bom tu se orientar e tomar um rumo na vida. Cobra vai gostar muito de saber que o lanchinho preferido dele não quis ir fazer uma visita!- descarregou tudo encima de mim e saiu batendo a porta. Soltei a respiração que nem tinha percebido que estava presa.

Preciso meter o pé daqui.

Tranquei a porta e fui pro quarto, peguei três malas grandes e comecei a por as minhas roupas, sapatos e demais coisas nelas. Não vou ficar esperando a casa cair encima de mim.

Peguei uma bolsa cheia de dinheiro que o Cobra deixou aqui e distribuí nas malas. Não vou sair com uma mão na frente e a outra atrás. Não mesmo.

Vou esperar até amanhã e vazar, aproveitar que ele largou um carro aqui e vou usar, já deixei tudo arrumado, não podia dar bandeira.

Dessa vez vai dar tudo certo pra mim. Eu vou ter a vida que sempre sonhei, ao lado do homem que eu amo e vamos construir uma família, como ele me prometeu.

Esses meses aqui serão apenas um detalhe na minha vida e logo esquecerei.

(...)

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Vanessa Magalhães/ 18 anos

Vanessa Magalhães/ 18 anos

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