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Alex (Cobra)
13:20 pm


Um mês inteiro quebrando a porra da cabeça.
Primeiro o morro ficou sobre ameaça da polícia, o meu informante já tinha passado a visão que a polícia quer subir pra pacificar e principalmente querem a minha cabeça.

Pra piorar um morro rival interceptou uma carregamento de armas novas que estavam chegando. Depois desse dia eu fico só filmando todo mundo, tem X9 nessa porra e eu vou achar.

Depois vem a Vanessa, mina perturbada do caralho, tava se achando a fiel ela, caçando briga na rua com as outras. Cheguei no meu limite, não gosto de bater em mulher, nunca precisei.

Mas a enviada do capeta me tirou da graça. Peguei ela no meio da rua brigando com uma das minas que tava comigo num baile. Arrastei ela até em casa e dei o que ela merecia. Ficou toda roxa mesmo, não tive pena, amassei legal.

Quis ficar de marra pra cima de mim ainda, a abusada, me ignorando, dois puxão no cabelo e uns tapas foi suficiente pra ela ficar pianinha. E já deixei avisada que na próxima ela vai parar no hospital.

Tem uns dias que não piso lá, fica me enchendo de mensagens mais nem tô dando moral. Só palmeando, achando que eu não tô vendo nego comentando que ela anda de conversa com um vapor meu. Roda ele e ela.

O que é meu, é meu e eu não gosto de dividir.
Se eu sonhar que ela anda me tirando de corno, não vai ficar bom pra ela.

De ontem pra hoje eu nem dormir, tô  ficando num quartinho que tem aqui na boca.

O informante avisou que a qualquer momento a Bope e os caralho vão invadir, deixei geral em alerta. Mandei reforçar a segurança na favela toda e deixar os caras equipados.

Mas sabe aquela sensação ruim no peito? Eu estava sentindo. Pressentido a merda.

Eu e o Caco passamos grande parte da tarde resolvendo uma paradas que estavam pendentes.

Bem no fim da tarde os fogos foram lançados, foi só o tempo de vestir o colete e pegar os armamentos.

O morro é meu e eu boto a cara mesmo, vou na linha de frente, onde a trocação é firme.

Mais de vinte minutos de confronto e eles ainda não recuaram.

Passei por um dos becos correndo abaixando atrás de um carro, recarreguei a metralhadora e percebei que tinha pouca munição, tinha que correr pra boca mais próxima, ia ter que passar pelo meio do fogo cruzado.

O que mais te impedi de sentir medo nesses momentos é a adrenalina. Ela corre nas minhas veias e me deixa acelerado, só consigo pensar em atirar e me manter vivo.

A polícia sabe que agora no fim da tarde tem muito morador na rua e mesmo assim eles invadem com tudo. Tão nem ai pra ninguém.

Meu rapidinho apitava sem parar, geral falando pra caralho.

- Tô chegando na boca cinco, preciso de munição!- coloquei o radinho no bolso sem esperar por resposta.

Olhei pra trás pra ver se vinha alguém e entrei no beco com tudo. Só me dei conta da merda quando olhei pra frente e me deparei com quatro fuzis apontados pra mim. Eu estava fudido, sem munição nas armas e se eu tentasse puxar o fuzil nem ia dar tempo de nada.

- Larga as armas no chão e põe as mãos na cabeça!- o policial do meio mandou e eu fui tirando tudo e jogando no chão. Não tinha como ninguém chegar pra me ajudar. Brotaram vários deles no beco e se eu tentasse qualquer coisa ia ser alvejado.

- Pegamos o meliante!- o outro policial avisou no rádio.

Me algemaram e foram me empurrado até a saída do beco, vários deles ficaram em volta pra impedir que alguém se aproximasse.

Não sou só um fudido. Eu estou fudido!

A adrenalina vai sumindo do corpo e a realidade vem a tona.
Me levaram direto pro presídio, depois de me revistaram, me levaram pra uma sala, algemado me mandaram sentar numa cadeira e esperar.

Não demorou nada e entrou na sala o que minutos depois eu descobri ser o chefe da operação. Com um sorriso estampando no rosto. Feliz de me ter ali.

- Se você der as informações que queremos, vai reduzir a sua pena!- conversa fiada. Eles não vão diminuir a minha pena, o que eles mais querem é me manter preso.

- Eu não sou rato, não vou entregar os meus!- posso ser tudo nessa vida, mas não sou rato, X9.

- Acho melhor você cooperar, ou a sua estadia não será fácil!- não ia fraquejar e dar o que eles queriam.- Eu só quero informações, da sua favela e da cúpula!

- Já disse que eu não vou falar porra nenhuma!- elevei um pouco a voz e foi o suficiente pra ele desferir um tapa no meu rosto. Filha da puta. Cuspi no rosto dele e achei graça em ver o sorrisinho de minutos atrás morrer.

- Você assinou a sua sentença, vai morrer no presídio, sozinho!- saiu puto da sala. Eu bem sei que não vão me manter aqui, num presídio comum onde a segurança é fraca e pode acontecer uma fuga. Vão me mandar pra longe.

Pelo menos um advogado bom o Caco vai me arrumar, eles acham que sabem muita coisa sobre mim, mas a única acusação que eles tem provas o suficiente é a de tráfico.

Outro agente me levou pra uma cela, não era compartilhada e tinha apenas um colchão no chão, uma pia e um vaso.

- Seu cantinho do pensar!- me empurrou lá dentro e fechou a porta de ferro passando a tranca.

A cela era húmida e a única entrada de luz e ar era uma "janela" com grades grossas de ferro no alto.

Sentei no colchão apoiando minha cabeça nos joelhos.

Minha mente estava a milhão, eu sabia que eles iam fazer de tudo pra tirar qualquer informação de mim e não iam ser nada amigáveis.

Do nada meus pensamentos foram na minha mãe, essa hora ela já tá sabendo, deve estar desesperada querendo notícias.

Até na Laís eu pensei, se tivesse comigo ia tá Desesperada também, era capaz de já tá aqui com um advogado. A minha saída da vida dela deve ter sido um livramento pra ela.

A única que ia pegar fila pra me ver na cadeia era a minha coroa, a vagabunda da Vanessa vai pular fora com certeza, a não ser que ela seja paga pra vir, caso contrário ela vai achar outro pra bancar os luxos. Assim como todas as outras.

Naquela noite eu não dormi, vi o dia nascer e a minha secessão começou cedo.

Novamente um carcereiro veio me buscar e me levou agora pra outra sala, toda fechada, apenas uma luz no teto. Era longe de todas as outras alas do presídio.

Amarrou as minhas mãos numa corda pendurada numa madeira no alto. Me deixando sem ter como me defender.

O comandante da operação e mais dois caras fardados entraram na sala.

- Se não vai falar por bem, vai falar por mal, você vai apanhar até abrir a boca e falar o que eu quero ouvir- deu dois tapinhas no meu rosto, sorrindo vitorioso por me ter ali, vulnerável.

Os caras começaram o trabalho deles, socos no rosto, na barriga, nas costelas, madeirada nas pernas e com uma barra de ferro batiam nas minhas costas. Meu nariz sangrava e doía, o soco que deram no meu olho direito fez com que o mesmo inchasse e quase não conseguia ver com ele, sentia o gosto de sangue da boca.

Eles esperavam que eu fosse gritar, chorar, pedir arrego. Mas eu aguentei calado, sentia meus pulsos arderem pelo atrito com a corda, mas não demonstrava nada. E isso os deixava nervosos. Quando estavam quase me deixando inconsciente jogavam água e voltavam ao trabalho.

Não sei por quanto tempo ficaram na quilo, só me lembro de acordar na enfermaria, tinha alguns curativos pelo corpo e tinha tomado um analgésico.

Me levaram novamente pra cela e eu recebi " comida " aquilo não parecia nem de longe comida. Mas como ia morrer de qualquer jeito comi. Se não fosse de porrada ia ser de intoxicação alimentar ou fome.

Minha cabeça doía pra caralho pelas pancadas. Deitei no colchão, que era como estar no chão e apaguei.

Dias difíceis me aguardavam e eu espero sair dessa vivo e inteiro.

(...)

Luz em todo morroOnde histórias criam vida. Descubra agora