47

2.2K 145 39
                                    

Cecília Oliveira
15:45

Desde de manhã que eu estava com vontade de vir aqui no mirante.
Tem um tempo que eu não venho aqui, mas nada mudou.

O banco está no mesmo lugar, o melhor lugar.  Onde o sol pega fraquinha e quando ele se põe dali da pra ver direitinho.

Certas épocas do ano isso aqui fica lotado de pessoas, mas agora estava vazio como eu gosto.

Conectei os fones de ouvido no celular e coloquei na playlist aleatória.
Tinha esquecido como é bom vir pra cá.

Já tinha ouvido uma cinco músicas quando alguém sentou do meu lado no banco. 

- Tá perdido aqui?- perguntei pro Kaique. Tem uns dias que eu conversei com ele. Acho que ele não gosta muito de falar comigo na frente dos outros seguranças, ele disse que é por conta do meu pai.

- Único lugar que não tem ninguém!- me ofendi por ele ter me chamado de ninguém, mas a cara dele não estava tão boa.

- Eu acho que eu sou alguém!- pausei a música e tirei os meus fones.

- Tu entendeu!- encostou as costas no banco e tirou o boné. Como eu imaginei o cabelo dele é muito bem cortado num corte disfarçado. 

- O que aconteceu?

- Várias paradas!- bem resumido.

- Quer falar sobre essas paradas?- imitei a voz dele.

- Só quero ficar na minha mesmo da pra ser?- grosso.

- Só queria ajudar! Grosso!- resmunguei pondo meus fones de ouvido.

- E grande!- ouvi ele falar. Pra falar essas coisas ele não tá putinho. Quero nem saber também.

Aumentei o volume e ignorei ele. Isso que da querer ajudar as pessoas, ainda vem com ignorância esse imundo.

- Eu que tô bolado e tu que fica puta?- tirou o meu fone.

- Tá falando comigo por quê? Você não queria ficar na sua?- olhei pra cara dele. Inseto.

- Tu quer entrar na minha mente mesmo não é?

- Eu não quero nada. Me deixa na minha, da pra ser?- nada como usar o que uma pessoa disse contra ela mesma.  

- Muito suja você, usando o que eu disse contra mim!- bagunçou o meu cabelo e eu o repreendi.

- Saí pra lá!- bati na mão dele.

- Tu quer mesmo saber o que aconteceu?- assenti- eu meio que discuti com o meu pai, na verdade falei várias pra ele. Eu tinha alguns problemas com ele!- bem resumido ele.

- De problema com pai eu entendo. Até uns meses atrás eu não tinha um pai!

- E o Alex?- como a história é longa eu resumi os acontecimentos- tu jura?- assenti- rolê brabo.

- Pra você ver, mas agora a gente se resolveu e estamos bem!

- Nunca ia imaginar, o Alex fala muito de vocês!

- É... ele mudou muito. E o seu pai?- ele me resumiu a situação dele com o pai, desde a morte do irmão dele até hoje, acabei descobrindo que o pai dele é o dono da Rocinha, nunca tinha imaginado.- Se o meu pai mudou o seu também pode, como você disse ele já começou hoje. Mas se você colocar barreiras vai ser mais difícil. Com o Lucas foi difícil por isso, ele tinha muita raiva do nosso pai e só depois de muita insistência ele cedeu!

- Tô ligado, mas não vou voltar pra Rocinha, teu pai deixou eu ficar e vai me arrumar alguma coisa! Acho que a gente precisa de tempo um tempo longe um do outro.

Luz em todo morroOnde histórias criam vida. Descubra agora