Luz em todo morro

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Isabela Bartolini
Domingo
11:40am

Eu sempre coloquei ordem na minha família, até o dia que os meus filhos começaram a andar com as próprias pernas.

Alex é uma mistura perfeita minha e do João, meu falecido marido, sempre me deu alguns trabalhos, mas também é um bom filho.

O Marcos é meu filho do coração, na verdade já posso dizer que é meu filho sangue mesmo. Crio ele desde os sete anos de idade, a mesma idade do Alex. Marcos sempre me deu menos trabalho que o Alex, mas na maioria das vezes os dois estavam juntos na traquinagem.

Não fui uma mãe regida, mas não fui a mais liberal, colocava limites pra tudo e quando não me ouviam eu ia pra chinelada mesmo.

Infelizmente chega um ponto da vida que os filhos precisam andar com as próprias pernas e conhecer os limites da vida sozinhos.

E o Alex foi o que me deu mais trabalho, ainda me da na verdade.

Como todo mundo já sabe o que ele aprontou, nem preciso repetir, mas posso garantir que foi uma das coisas que ele fez que mais me decepcionou e ele sabe bem disso. 

Me decepcionou porquê até então, eu achava que tinha criado um homem e não um moleque.

Quando o João morreu os dois tinha quase dezessete, pensei que dali pra frente seria mais fácil cria-los sozinha, mas no primeiro problema eu senti uma falta enorme do João, resolver tudo sozinha era dez vezes mais difícil.

E por isso eu fiquei ainda mais decepcionada com o Alex, quando ele largou a família dele. Sei bem o que a Laís passou sozinha, tendo que se virar em dez e depois em vinte, com a chegada na Ceci. 

Tentei ajudá-la de algumas formas, mas também não podia me meter em tudo e com o passar do tempo a Laís só mostrou o quanto ela é uma mulher de verdade.

Meus netos cresceram, lindos, saudáveis, bem cuidados e com tudo que precisaram.

Sei que hoje o Alex vê e sente o dobro de culpa e arrependimento por ver que os filhos cresceram e não precisaram dele.

Eu que o visitei durante quinze anos no presídio sei bem o quanto ele mudou. A cada visita ele mostrava um pouco dessa mudança e me orgulho muito disso, dele ter evoluído e agora consegue reconhecer os erros e estar tentando consertar.

Podem dizer que ele merece isso e muito mais por ter feito o que fez. Mas eu que sou mãe, que o conheço melhor do que qualquer pessoa nesse mundo posso afirmar que não é fácil pra ele, lidar com esse desprezo, com as pessoas julgando ele o tempo inteiro e saber que os filhos não o querem perto.

Todas as vezes que ele volta de mais um tentativa falha de falar com os filhos, eu vejo nos olhos deles que aquilo machucou mais do que ele demonstra, vejo o quanto o ele se sente impotente e fica sem ânimo.

E eu não preciso que ele me diga nada, uma boa mãe sabe ler seus filhos.

Não posso me meter nisso, mais rezo a Deus para que eles se acertem e eu possa ter a minha família reunirá e em paz.

E o Marcos é aquela pessoa que consegue me alegrar em instantes.

Construiu a família dele com a Bruna, que é uma menina de ouro e estão felizes, nunca me deu trabalho em relação a isso, muito pelo contrário, sempre deu valor a família e a coloca em primeiro lugar sempre.

Me deram o meu primeiro neto, o Bruninho, é uma bênção de menino, carinhoso, cuidadoso e inteligente, meu orgulho.
Assim como os outros dois, Lucas e Ceci, não sei nem como descrever, mas os jeitos e o gênio é todinho do Alex, a mesma coisa de ver ele.