Capítulo 39

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Raulf:

Eu sabia que procurar ajuda era necessário, mas me sentia desconfortável em contar como  me sentia a uma desconhecida, mas para agradar o Theo que em tudo estava apoiando-me que eu aceitei aquele procedimento de psicoterapia, ainda que desconfiasse do resultado.

A doutora Fernanda nos recebeu com um sorriso estonteante no rosto, embora eu estivesse sério, sentamos de frente a ela, e nervoso eu comecei a estralar os dedos, ela apenas observava minhas reações em silêncio, foi o Theo que iniciou a conversa:

_ Então doutora, nós estamos aqui por que precisamos de ajuda... Pesquisamos entre tanto nomes e chegamos ao seu.

_ E então no que posso ajudá-los?

Theo me olhou erguendo a sobrancelha para que eu iniciasse a minha fala, mas eu não sabia o que dizer então sem jeito meio afobado eu disse:

_ Então doutora eu... eu quer dizer eu...

_ Fica calmo Raulf, lembre-se que aqui você está entre amigos, não tenha pressa, a primeira consulta é sempre a mais difícil mesmo.

Puxei o ar e depois soltei:

_ Eu não sei se isso vai ajudar ou não, quero muito que funcione por que não quero perder o Theo, mas, confesso que não acredito que essa consulta vai ajudar.

_ Talvez, pode ser algo instantâneo ou pode demorar um pouco mais, mas garanto que o resultado é sempre favorável, aqui nós não forçamos nada Raulf, tudo dependerá do seu esforço e colaboração.

_ Como assim?

_ O nosso tratamento consiste na colaboração do paciente, a nossa linha de abordagem, nós iremos trabalhar com o roteiro que você irá nos proporcionar entende?

_ Acho que sim.

_ Então Raulf, vamos começar o que te trouxe aqui, será que pode me contar?

Olhei para o Theo em busca de apoio que cruzou seus dedos aos meus:

_ Eu sempre fui um rapaz tímido, e demorei a me relacionar com alguém, namorei dois rapazes, mas não demorou muito tempo e eles me deixavam falando que não queria compromisso sério, eu sempre me perguntei se algo em mim estava errado, então eu me dediquei aos estudos e foi então que eu conheci o Thobias...

Parei de falar e movi lentamente a minha cabeça em negação:

_ Pode me contar um pouco mais sobre o Thobias, Raulf?

_ Nós nos envolvemos e logo fomos morar juntos, tudo parecia um sonho, alguém tinha o mesmo projeto que eu, ter um relacionamento sério, e quem sabe futuramente criar uma família. Eu não percebi, mas eu me anulei por completo para satisfazer a ele...

Sorri mas tinha uma amargura por trás daquele sorriso:

_ Eu não quero você conversando com fulano, cicrano não é boa amizade para você, e assim eu fui me afastando de todos que ele julgava não ser bom para se manter contato, e assim aconteceu com a faculdade que eu tranquei, eu vivia em prol dele, vivia para agradá-lo, meu irmão Vlad me criticava por conta disso, mas eu não aceitava as suas criticas, endeusava o Thobias.

_ Era um relacionamento abusivo da parte dele e permissivo da sua parte?

_ Sim, eu permitia ele me manipular dessa forma por acreditar que eu o amava, ele saia quase todas as noites, e quando questionado, ele se irritava dizendo que casamento não era prisão, mas se eu fosse à casa dos meus pais visitar a minha mãe era preciso relatar com detalhes até mesmo o que foi conversado enquanto eu estava por lá. Eu me enganava dizendo que isso era cuidado.

_ E o que aconteceu para você ver que essa relação não era saudável?

_ Eu peguei ele com outro homem na cama, então dei um fim a esse relacionamento, mas entrei em crise, um começo de depressão... foi aí que o meu irmão me convenceu a ir em um clube de...

_ Um clube de?

_ Um clube de sexo... foi nesse clube que eu conheci o Theo.

Detalhei como conheci o Theo e o nosso envolvimento:

_ Com o Theo foi um envolvimento difícil pois ele fugia do que sentia.

_ Sim doutora é verdade, eu dificultei no inicio pois sofria com o medo de amar, por um trauma de infância. Mas aos poucos eu fui me abrindo e hoje posso dizer que amo, amo o Raulf e preciso que nos ajude para que fiquemos bem.

Theo contou um pouco sobre o começo do nosso relacionamento e a doutora anotava cada informação no prontuário, sobre o seu bloqueio em aceitar amar, e eu também contei-lhe sobre minha limitação sobre o sexo, e isso fez com que ela tivesse uma ideia de como era complicada a nossa relação inicial:

_ Eu passei por um trauma quando era adolescente doutora, minha mãe abandonou a mim e a meu pai e ele se entregou a bebida e por causa da bebida ele acabou morrendo, e eu fugia do amor, mas quando o Raulf chegou a minha vida, ele foi quebrando tijolo por tijolo do muro que eu havia criado como forma de proteção. Estamos vivendo juntos a mais ou menos dois meses, mas aconteceu algo que...

_ É importante que vocês falem o que está acontecendo Theo, para que possamos trabalhar e obter os resultados, o que foi que aconteceu que fizeram com que vocês viessem a me procurar?

Fui eu quem respondeu a pergunta dela:

_ Nós chegamos ao clube o Theo teve que ir falar com o Gerard, o Theo faz parte dos VIPs, ou melhor fazia parte, ele precisou falar com o Gerard e pediu que eu o esperasse, fiquei no lugar marcado a espera dele quando o Thobias se aproximou, ele começou a falar umas coisas e eu o ignorei, então ele tentou beijar-me e eu recusei... o Thobias segurou no meu braço machucado e começou a apertar com força, eu procurei com o olhar vê se alguém prestava atenção em mim, mas todos estavam ocupados e eu não pude me safar dos seus braços quando ele me arrastou para um dos quartos do clube, eu pedia para ele parar, mas nós dois estávamos nus e ele se esfregava em mim, foi horrível.

Comecei a chorar compulsivamente lembrando tudo o que havia sucedido:

_ Eu dizia para ele me soltar, dizia não, mas ele não parava, dizia que eu era dele e que nenhum outro iria tirar isso dele, eu juro que eu não queria.

Theo me abraçou:

_ Eu sei Raulf, eu sei que você não queria.

_ É normal uma pessoa que sofre esse tipo de abuso se sentir culpado pelo ataque, envergonhado e muitos até se recusam a falar sobre o assunto, se você veio procurar ajuda já é um grande passo para a cura, nada vai apagar o que já aconteceu, mas você pode lidar com isso sem uma sequela drástica mentalmente. É nisso o que vamos trabalhar 

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