Capítulo 51

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Theo:

Eu não seria capaz de enfrentar tudo isso sozinho, ter Raulf do meu lado foi imprescindível para me dar força para suportar esse sentimento ruim, com ele do meu lado eu me sentia forte, minhas forças se redobrava, e ele me fez cercar-me da proteção das pessoas que realmente se importava comigo e com a minha felicidade, após uma conversa sobre filhos com ele, uma conversa franca sobre o assunto onde abordei o meu medo de não ser um bom pai quando resolvermos ter uma criança, ele me pediu para ligar para os meus tios, foi minha tia quem atendeu:

_ Oi tia...

_ Theo, que bom que você ligou, eu estava muito preocupada com você, como foi a sua conversa com a sua mãe?

_ Foi esclarecedora tia, foi tão esclarecedora que posso dizer sem dúvida alguma que aquela mulher não pode e não merece ser chamada de mãe, minha mãe se assim a senhora permite sempre foi a senhora.

_ Claro que eu permito meu filho.

_ O Chris teve muita sorte de ter uma mãe tão amável e dedicada como a senhora.

_ Eu não sou a sua mãe biológica Theo, mas sou a sua tia, e eu prometi no túmulo do meu irmão que cuidaria de você, e eu tenho muito orgulho do homem que você se tornou.

_ Eu agradeço à senhora e o tio por ter me amado. Esse amor é recíproco eu amo vocês como meus verdadeiros pais.

Raulf que estava do meu lado deu-me um beijo em meu rosto dizendo:

_ Também amo a senhora tia.

Assim que o telefone foi desligado, puxei Raulf ao meu encontro e o beijei juntando meus lábios ao dele:

_ E eu amo você meu pequeno.

Após aquele dia me concentrei no trabalho, e só tocava naquele assunto desagradável com a doutora Fernanda nas consultas, a ajuda profissional foi muito importante nesse processo, nos pontos que eu apresentava dificuldade, ela me auxiliou a entender e aceitar tudo o que havia acontecido, era difícil explicar o sentimento mas a rejeição daquela mulher mexeu com a minha parte mais sensível, eu aceitava o fato daquela mulher não ser a minha mãe, eu aceitava o fato dela pensar somente nela e em mais ninguém, eu entendia tudo isso que o abandono dela foi uma escolha e não uma opção, mas ainda assim, eu precisava viver esse luto, pois eu sentia que ela havia morrido, eu matei a imagem daquela mulher dentro de mim, e para isso eu precisava viver esse luto até que ela virasse uma página em branco para mim.
Seria tão mais fácil virar a página e não sentir as conseqüências dos erros cometidos por aquela mulher, mas se era assim que tudo teria fim, eu iria o passar passo á passo:

_ Doutora, o Raulf e eu, iniciamos uma conversa, mas ainda existem muitas dúvidas a respeito.

_ Do que se trata?

_ Filhos, eu fui rejeitado por aquela mulher e eu não sei como me sairei como pai entende?

_ Theo... Você e o Raulf estão pensando em ter filhos agora?

_ Não agora, mas daqui a uns anos sim.

_ Então não vamos pular etapas, vamos primeiro cuidar de você, eu sei que não é fácil, que é muito recente, mas eu quero que expresse em palavras tudo o que está sentindo Theo, é importante que você deixe sair de você cada palavra sem camuflagem, eu sei que normalmente procuramos palavras, mas aqui você é livre para falar o que desejar.

_ Eu só sinto um vazio, um buraco negro, é como se eu fosse entrando nesse buraco e não encontrasse sinal algum de luz.

_ Para que você encontre a luz, você precisará encontrar a saída e você só poderá encontrar essa saída adentrando até o fundo Theo, sem medo.

_ Eu não sei o que a senhora quer dizer com chegar ao fundo, eu não sinto nada por aquela mulher, ela é uma estranha para mim.

_ Isso Theo, continue falando o que você sente.

_ Quando eu era criança e você sorria para mim, era como se o sol se iluminasse, você era a minha mãe, e eu achava você a mulher mais linda do mundo, mas... Um dia sem precedente simplesmente tudo mudou, amanheceu um dia chuvoso e a senhora arrumou suas coisas, e sem olhar para trás, sem pensar em mais ninguém, você foi embora, durante anos eu me perguntei a razão, durante um ano eu me perguntava se poderia fazer algo para que você voltasse, mas isso nunca aconteceu, e então meu pai morreu, e foi aí que você apareceu.

Fiquei em silêncio enquanto uma lágrima escorria por meu rosto:

_ Então eu apareci Theo, e o que você sentiu quando eu apareci?

_ Eu estava magoado, estava perdido, não queria de forma alguma te encontrar, eu não sabia o quanto isso afetava a minha vida até encontrar o Raulf, e por causa dos seus erros eu quase deixo ele escapar, por medo de amá-lo, sim eu tinha medo, tinha medo de novamente ser abandonado, eu jamais iria te procurar, eu não queria, você me abandonou e eu não queria enfrentar um confronto com você, mas por causa do Raulf achei que isso era importante para afastar de vez esse fantasma que você se tornou na minha vida, por um minuto eu tive esperança, tive esperança de você ter um motivo plausível para ter me abandonado, mais descobrir que você é a pior pessoa que existe, egoísta, fria, calculista, e eu não preciso de uma pessoa assim na minha vida, ou melhor eu não quero você perto de mim, dos meus amigos, mas principalmente eu não quero você perto do Raulf, você resolveu sair da minha vida, e agora não tem entrada para você, não te desejo mal, afinal eu tenho o teu sangue correndo nas minhas veias, e isso eu não posso mudar, mas isso não significa que eu precise ter qualquer laço afetivo com você, siga o seu caminho e eu seguirei o meu ao lado de pessoas de verdade, de pessoas com sentimentos nobres, de você tudo o que quero é distância e esquecer que um dia te chamei de mãe.

_ Então você não me perdoa?

_ Perdoar... A vida, ou o destino, ou seja, lá o que for que fez com que você fosse embora, me trouxe as melhores pessoas para que fossem os meus pais, o meu pai faleceu devido a se entregar a bebida e mesmo assim com todos os problemas permaneceu ao meu lado o tempo todo, nunca pensou em me deixar, mas você não pensou duas vezes, você queria viver em liberdade, sem alguém para te atrapalhar, mas agora sou eu quem não te quer, sou eu quem quero seguir o meu caminho com as pessoas que realmente importa, para mim você ainda não é uma página virada, pois ainda está doendo, mas chegará o momento em que você não passará de uma lembrança ruim que vou fazer questão de apagar da memória.

Depois de dizer tudo aquilo fiquei em silencio por um minuto sem olhar para a doutora, depois fui me acalmando e a olhei:

_ Muito obrigado doutora, parece que um peso saiu das minhas costas ao poder dizer tudo isso, eu não imaginava que precisasse desabafar dessa forma tudo o que eu disse. Sinto-me verdadeiramente aliviado.

_ Que bom Theo, esse peso que sentia é porque você estava guardando tudo aí dentro, isso só te faz mal, é melhor explodir, vomitar tudo o que sente de vez do que ficar guardando mágoa, tristeza e alimentando esses sentimentos. Eu me sinto feliz que você está progredindo no tratamento, tanto o Raulf como você, um auxiliando o outro tem se submetido ao tratamento e tem respondido positivamente.

_ Eu não vou parar com o tratamento doutora, porque quero ser sempre o melhor para o Raulf.

_ E vai Theo, amor e boa vontade é uma junção incrível, e isso vocês dois estão buscando juntos, estão enfrentando e crescendo juntos, quando um casal faz em concordância o melhor pelo relacionamento nada e ninguém poderá impedir que esse relacionamento seja saudável. Vocês dois tem sido um exemplo para outros casais aqui, pode parecer algo pequeno o andamento do tratamento de vocês, mas não é, quando chegaram aqui, o Raulf era uma pessoa amedrontada, tinha medo do toque devido ao que tinha enfrentado e hoje ele foi o teu suporte, e o mesmo acontece com ele, você é o pilar da estrutura do relacionamento de vocês dois.

_ A doutora tem razão, sem o Raulf do meu lado, eu nem cogitava a ideia de procurar aquela mulher para confrontá-la. Foi por amor a ele que enfrentei isso, por ele eu enfrentei meus medos, mudei meus conceitos, eu faço qualquer coisa por ele, o Raulf mudou a minha vida.

_ E você já disse isso a ele?

_ Todos os dias, e direi até o último dia da minha existência.

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