Capítulo 44

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Theo:

Tanto Raulf como eu estávamos ansiosos para contar a doutora Fernanda que rompemos a barreira imposta depois de dois meses. Entramos de mãos dadas a sala dela e sentamos na poltrona frente a ela:

_ Bom dia Raulf, bom dia Theo, como vocês estão hoje?

Raulf me olhou e sorriu incentivando-me a contar a doutora o que havia acontecido:

_ Doutora, há dois meses o Raulf e eu não conseguíamos ter uma relação sexual, uma relação ativa, nós tentamos várias e várias vezes mais falhávamos, então eu lembrei de um curso de massagem que fiz mas que nunca tinha colocado em prática, então tentei fazer com o Raulf e deu certo, nós conseguimos. Mas apesar de ter conseguido nós pensamos e achamos melhor não parar com as consultas.

_ E fazem bem, vocês venceram uma batalha de uma guerra, lógico que agora será mais fácil, mas a seqüela por um trauma psicológico vai além de manter uma vida sexual ativa, mexe a auto estima da pessoa, a pessoa pode evitar o contato físico, passa a não associar o sexo ao prazer, tem dificuldade em confiar em outra pessoa, tudo isso é uma série de complicações que uma pessoa que sofreu um abuso pode enfrentar, apesar do Thobias não ter feito o ato em si, somente a tentativa causou um trauma na vida do Raulf que precisa de cuidados específicos, mas o seu apoio Theo, e a ajuda logo que aconteceu foi importante, mas não é por que tiveram uma vitória que a guerra está ganha, então agora vamos dar um outro passo, vou enviar vocês a um grupo de ajuda, lá vocês poderão trocar experiência com outras pessoas que também passaram pelo que vocês passaram, e assim vocês poderão contar e ouvir o que vocês sentiram com o que passaram, eu sei que de início vocês irão pensar que é inútil alguém contar como se sentiu ao passar por algo tão ruim, mas com o passar dos dias verão o quanto é importante que vocês falem sobre o assunto e como isso pode ajudar a ambos, ao Raulf por ter passado por isso, e a você Theo para entende-lo melhor, essa é uma experiência que fará vocês se entenderem e se conectarem melhor, verão que a cumplicidade entre ambos se tornará mais forte e confiável.

_ Eu aceito doutora, confesso que falar sobre o assunto não é algo agradável, ainda fere, nunca imaginei passar por algo assim, mas se fará bem ao meu relacionamento com o Theo, eu aceito, eu amo o Theo.

_ Sim Raulf, você não está de todo errado em falar que quer fazer o tratamento por causa do Theo, porém, a motivação maior é você está bem para ser um parceiro saudável para o Theo, deixa eu explicar melhor, você não pode oferecer ao Theo, algo que não tem.

_ Como assim doutora?

Fui o primeiro a perguntar curioso sobre o que ela tinha a dizer:

_ O que eu quero que entenda é que você só pode oferecer ao seu relacionamento o que tem a oferecer ... , amor... Você ama e é amado, você é carinhoso e recebe carinho, é algo recíproco, uma relação é uma troca, se uma das partes não estiver saudável, a relação não estará saudável conseguem entender?

_ Acho que estou começando a entender...

Raulf disse e abaixou a cabeça, mas a doutora sorriu animando-o:

_ Raulf, você está no caminho certo, está buscando ajuda, mas é um processo, você bloqueou o sexo após passar por uma tentativa de abuso sexual, isso é normal de acontecer com quem sofre isso, mas já conseguiu ter uma relação, pode ser que daqui para frente você ainda tenha alguns bloqueios e é nessa hora que o parceiro normalmente cobra o porque do bloqueio se já conseguiu uma vez. E não entendem que isso é um processo lento que envolve confiança, sensibilidade, e muita paciência. Já tive casos aqui do esposo pedir o divórcio por que dizia que a esposa não queria ter relação com ele, a falta de compreensão sobre o problema é o maior causador de separação entre o abusado do seu parceiro, mas eu vejo em vocês dois uma cumplicidade, vocês estão buscando ajuda juntos e isso é muito bom, um relacionamento sem envolver os problemas que vocês enfrentaram já é conturbado por que envolve sentimentos, o egocentrismo e muitas diferenças, agora acrescente a tudo isso a filofobia e a tentativa de abuso, digamos que esses são ingredientes que ao invés de unir vocês fariam efeito contrário, e mesmo assim, vocês estão aí combatendo juntos a toda contrariedade, eu posso garantir a vocês que se conseguirem o equilíbrio nessa relação, vocês dois sairão dela muito mais fortalecidos.

_ É isso o que queremos doutora, o Raulf e eu aceitamos passar por qualquer tratamento para nos tratar.

_ Eu vou inscrever vocês a um grupo de ajuda, o responsável pelo grupo é um senhor de idade, mas não se engane com a sua aparência, ele é muito sensível para tratar com esse assunto, e uma vez por semana vocês irão voltar aqui para que eu avalie o progresso no tratamento.

_ Tudo bem doutora.

_ Theo... eu sei que a prioridade é os cuidados com o Raulf, mas e quanto a você, pensou no caso de procurar a sua mãe para afastar os fantasmas do passado de uma vez da sua vida?

_ Sim, eu irei procurá-la, vou escutar o que ela tem a me dizer, mas devo confessar que só vou procurá-la para está inteiro na relação que eu tenho com o Raulf, não quero nenhuma culpa, nenhum obstáculo entre nós, e sinto que todo o meu passado só irá deixar de me afetar quando conversar com ela, vou sem reserva, sem expectativa, mas não sei o que dizer a ela.

_ Eu vou estar com você Theo.

_ Isso é importante e é bonito na relação de vocês, o apoio.

_ Eu conto com isso, com o Raulf do meu lado eu sei que terei força para passar por isso doutora.

_ O apoio que um dá ao outro é o combustível para a relação de vocês engrenarem.

Eu olhei para o Raulf e sorri, ele diminuiu a distância entre nossos lábios e beijou-me antes de nos despedir da doutora. 

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