Capítulo 45

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Raulf:

A cada consulta com a doutora Fernanda eu sentia que saia de lá mais fortalecido, passei a frequentar o grupo que ela indicou e de início confesso que não gostei muito, ficar ali ouvindo casos e mais casos de pessoas que haviam passado pelo mesmo que eu ou até casos piores, isso mexia comigo ainda, porém, Theo incentivou-me a continuar e depois de um tempo tive a coragem de eu mesmo falar ao grupo:

_ Oi... Meu nome é Raulf, e eu estou aqui para compartilhar com vocês o que aconteceu comigo, não é fácil falar eu confesso, mas eu estou preparado para encarar isso de vez, quando eu cheguei aqui e ouvi vocês dividir a história que vocês viveram e uma boa parte era semelhante ao que eu passei, confesso que minha vontade foi sair correndo, não é fácil mexer na ferida que ainda não cicatrizou por que dói, mas eu sei que para curar tem que limpar toda a sujeira impregnada, e é assim mesmo que eu me sentia sujo.

Parei de falar e olhei para o Theo, sentia que estava preste a chorar, mas respirei fundo e continuei:

_ Eu sou gay, e morei junto com um rapaz durante dois anos, mas não era uma relação saudável, ao contrário, eu me deixava manipular ao ponto de parar a minha vida para satisfazê-lo por completo, mas era uma entrega unilateral, não era recíproco, em uma tarde eu fui na casa dos meus pais, e quando voltei para casa o encontrei na cama com outro homem, resolvi dar um fim a esse relacionamento, mas entrei em um estado de depressão, meu irmão então me convidou insistentemente a ir a um clube com ele, de início eu neguei o convite, disse que não tinha vontade de sair, mas ele não aceitou não como resposta e acabou me convencendo a ir com ele ao tal clube, e para minha surpresa era uma casa de sexo, preconceituoso com o lugar eu logo quis ir embora, mas eu sabia que meu irmão não me deixaria em paz, então fiz um acordo com ele, eu iria entrar no clube apenas por um dia, e nunca mais ele iria me chamar a voltar... Ele concordou e eu entrei, curioso eu olhava para todos os lados reparando nos outros casais que se formava por ali, até que eu o avistei. Aquele é o Theo.

Apontei para o Theo estendendo-lhe a mão que veio ao meu encontro:

_ Bem esse é o Theo, o meu namorado... A primeira vez que nos encontramos foi nesse clube, eu me encantei e acabei retornando, o Theo e eu nos envolvemos e assumimos um compromisso, porém, o meu ex apareceu lá no clube e tentou abusar de mim, e isso desencadeou um trauma que me fez procurar ajuda. É horrível a sensação que eu sentia, me sentia sujo, era como se eu fosse o culpado mesmo que eu soubesse que não, era como se eu o tivesse provocado. Eu nunca imaginei passar por algo semelhante e na verdade a gente pensa que nunca acontecerá, mesmo que aconteça com alguém próximo a nós, no nosso pensamento achamos que isso nunca acontecerá com a gente.

Pausei a fala um minuto depois prossegui:

_ Mas aconteceu, e o meu primeiro pensamento foi, o que eu fiz para que isso acontecesse comigo?

Percebi que o Theo moveu a cabeça lentamente:

_ Foi difícil, mas o apoio do Theo foi fundamental para que eu tivesse coragem para denunciar a tentativa de abuso que sofri, como vocês sabem é normal não querermos falar sobre o assunto após sofrermos essa violência, eu me sentia culpado, vulnerável, qualquer toque do meu namorado, mesmo que fosse toques que eu desejava, mas, me levava de volta aquele momento e eu o afastava, e eu não achava justo com o Theo que eu tivesse esse bloqueio, mas ele não desistiu de mim, ele teve muita paciência, hoje eu já consigo ter intimidade com ele, eu estou em tratamento e aos poucos estou ganhando confiança em mim, chegar aqui nesse grupo e me abrir dessa forma foi obra da paciência e da perseverança do meu namorado, ele me deu força, me incentivou, e eu tenho tanto a agradecer a ele que a única forma que eu encontro é dizendo que eu o amo muito.

Theo beijou-me, abraçando-me em seguida sobre o aplausos unânimes:

_ O Raulf não é o único que entrou com bagagens nessa relação, eu também tinha os meus fantasmas que estou aprendendo a combater, e ele não vai dizer, mas eu digo que de nós dois eu sou o mais complicado, eu sofria de filofobia, tinha medo de me apaixonar então vocês podem imaginar o quanto compliquei a vida desse rapaz, então quando eu resolvi assumir o meu amor aconteceu isso com ele, o meu medo foi não consegui ajudá-lo, mas nunca pensei em deixá-lo, desistir do Raulf nunca passou pela minha cabeça, confesso que não era fácil querer abraçá-lo e sentir que ele se afastava para não receber o meu abraço, mas eu sabia que a reação dele era justificável, então eu tinha que encontrar uma forma para chegar a ele, um atalho, pesquisei como ajudá-lo, procuramos juntos uma psicoterapeuta, fizemos tudo em concordância e se ele hoje está fortalecido eu também estou, é uma vitória nossa, por que não somos mais um, não lutamos sozinhos, hoje somos dois que lutamos por um ideal, ser feliz.

Depois que a reunião acabou, ficamos ainda conversando com outros participantes e saímos de lá bem animados, fomos direto para casa, na manhã seguinte teríamos uma primeira conversa com o advogado para ver como estava a situação do clube Essência, nada tirava a ideia da cabeça dos rapazes de serem donos do Essência, e como Theo e eu ficamos responsável pela parte burocrática, estamos indo cumprir a nossa parte.

Theo e os rapazes juntaram suas economias e já haviam conversado com o Gerard e ele estava de acordo com a venda, mas precavidos os rapazes estavam buscando informações com as pessoas experiente no assunto para não entrarem em um barco furado, uns ficaram responsável para ver as finanças, conversar com o responsável pela contabilidade da casa para ver quanto entrava e quanto gastava por mês gerenciar uma casa como o Essência, outros ficaram responsável para ver se os documentos do clube estava tudo certo, e Theo e eu ficamos com a parte burocrática, agilizar as documentações, ver a segurança do lugar, era estranho pois os rapazes trabalhavam ali a anos mais nunca se preocuparam com essa parte, mais ao querer assumir o lugar, deveria ver tudo isso, e a segurança para todos os clientes era essencial.

Assim que tudo estivesse certo, eles pensariam em como reinaugurar a casa com cara nova, trazer a identidade dos novos donos ao ambiente, e lógico que eles deveriam colocar um freio no Chris e no Vlad que eram os mais extravagantes da turma. Mas todos eles se entendiam bem, e era bom ver tantos planos sendo colocados em práticas.

Eu não tinha direito de ficar preso ao problema, o problema existia mas estávamos nos tratando, eu não podia ficar focando no problema, quando tinha tantas coisas boas ainda para viver ao lado do Theo e dos rapazes que estão sempre do nosso lado nos apoiando. 

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