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Tobio Kageyama...

Hoje é um daqueles dias que me levantei da cama, olhei para fora e me senti estranhamente melancólico, não posso atribuir este sentimento corrupto ao tempo, pois hoje o sol brilha incessantemente, ele surgiu tímido, mas olhando da janela neste momento parece estar cada vez mais brilhante... Tem muitos estudantes passando pelo portão principal, já que daqui a poucos minutos, estas cadeiras ao meu redor estarão ocupadas...
 
Cheguei um pouco mais cedo do que deveria, isto porque prefiro evitar estar em multidões, me deixam inquieto... prefiro andar sozinho pelos corredores, ao menos sem alguém esbarrando em mim a todo momento e sem precisar desviar das pessoas que me cercam.
 
Observo, o movimento do pátio principal diminuir, na mesma proporção que passos se aproximam da minha sala em conjunto, não me viro para olhar para a porta, continuo olhando através da janela a paisagem lá fora, sem realmente prestar atenção em algo, não tem nada que me pareça belo ou minimamente interessante. 
- Eu disse para você que não estávamos atrasados Tsuki- essa voz...
- Só fica quieto.
 
O som de cadeiras se arrastando e vozes simultâneas preenche o ambiente. 
- Posso me sentar aqui? - uma voz feminina me pergunta.
 
Vejo de relance seu corpo parado ao lado da cadeira da minha frente. Não me viro para olhá-la, apenas assinto com um movimento de cabeça.
- Posso? - respiro fundo.
- O lugar está vazio. 
 
Continuo olhando para fora, mas escuto a mesma se sentar.
- Você ficou chateado por não estar na sala do Yamaguchi? - a voz que me causou um certo toque familiar soa, parece estar longe de mim, mas se sobrepõe as demais, facilmente atraindo minha atenção.
 
Antes que eu me dê conta, já estou me virando em direção a voz... meus olhos são guiados para um menino de estatura baixa, que está curvado quase em cima da mesa do loiro atrás dele, os cabelos alaranjados estão desordenados, cada mecha jogada para um lado diferente... cerro os olhos quando um flash passa na minha mente, este foi o menino que me derrubou na faixa de pedestre quando sai para comprar os produtos de limpeza.
  
Sua voz é incrivelmente alta, posso ouvir mesmo estando no lado oposto da sala, isto que parece que o mesmo nem está se esforçando para falar alto. Continuo observando o mesmo falar animadamente, quando seu rosto para e começa a se virar em minha direção, não dá tempo de desviar, quando seus olhos se conectam aos meus por alguns segundos. Meu rosto continua imóvel, sem esboçar qualquer reação que seja, enquanto a pessoa que me encara abre um sorriso largo e levanta o braço em um cumprimento, vejo seus lábios se abrirem lentamente...
- Todos se sentando - a voz madura faz com que eu desviei o olhar em um espasmo, passo a observar o professor que entrou na sala.
  
Todo o movimento ao meu redor acaba, todos estão sentados em algum lugar, olhando fixamente para o homem, e assim a aula se inicia. O mesmo está apenas dizendo coisas básicas de apresentação e a metodologia que irá aplicar... meus olhos parecem estar pesando cada vez mais, mesmo eu tendo dormido exatamente oito horas, me sinto estranhamente cansado, ou talvez seja a voz calma do professor que funciona como um sonífero... minha vista fica turva, estico meus dedos e passo em meus olhos que lacrimejavam, no momento que um bocejo escapa de meus lábios.
  
Neste ritmo eu vou acabar dormindo... apoio meu rosto no braço que está firmemente em cima da mesa, meu olhar é atraído para um ponto laranja vibrante em movimento, passando por entre as duas únicas árvores no pátio... é uma borboleta... acompanho com o olhar ela ir de um lado para o outro, se permitindo ser levada pelo ar, flutuando com facilidade por entre as folhas, quase como se pairasse no ar... o pequeno animal, se afasta de meu campo de visão, passando por cima de uma estrutura fechada... estreito os olhos tentando identificar o que é aquilo, quando vim para cá hoje cedo, nem ao menos tive curiosidade de andar por aí para conhecer o terreno, apenas pedi informação a um dos professores sobre onde era minha sala...
  
Volto a olhar para frente, vejo que o professor está perguntando o nome dos alunos... nunca entendi bem a necessidade de fazer isso, de uma forma ou de outra você irá saber ao computar presença... acompanho com o olhar cada um dos estudantes dizerem seus nomes, quando chega a vez do dono dos cabelos alaranjados...
- Hinata Shoyo - ele diz seguido de um sorriso... que tipo de idiota sorri o tempo inteiro? Todas as vezes que olhei para ele, o mesmo estava com os dentes enfileirados em evidência, os olhos levemente curvados.
   
A cada segundo uma nova voz fica em evidência, não presto atenção realmente no nome das pessoas, apesar de olhar para cada uma delas. Quando chega minha vez, mantenho o olhar em um ponto qualquer sem encarar ninguém.
- Tobio Kageyama- digo em tom médio.
- Kageyama? - a voz estridente me faz virar a cabeça bruscamente.
- Algum problema Hinata? - o professor encara o mesmo que balança a cabeça em negação.
- Não... estou bem - seus olhos se voltam em minha direção, fixando em mim, como se analisassem cada pequena parte de meu ser. Uma sensação de agonia percorre meu corpo com brutalidade, eu quero desviar o olhar mas não consigo. É como se as pessoas que estão entre nós desaparecessem... Não há nada entre meu olhar e o dele, isso é no mínimo sufocante.
   
Minha respiração entrecortada é o único som que ecoa em meu ouvido, pisco repetidas vezes. O que eu estou fazendo? Respiro fundo e passo a olhar  para o professor, que nesse momento está escrevendo algo na lousa. Mas sinto uma estranha sensação de estar sendo observado, sei a quem pertence esse olhar, por isso, me recuso a virar, eu tenho que focar na aula e em mais nada.
  
O tempo foi passando e a voz do professor não parou por um único segundo, o sono me atingia com violência, depois da quarta vez eu perdi a conta de quantos bocejos eu dei, arrumo minha postura na esperança de me manter desperto, luto mentalmente contra a vontade de olhar na outra ponta da sala...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora