Tetsuro Kuroo...
A rua está estranhamente silenciosa, não escuto nada nem mesmo o som de minha própria voz narrando meus pensamentos em minha mente, nem o som do meu coração... é como se eu tivesse me unido ao ambiente ao meu redor. Faz mais de meia hora que ninguém passa por aqui, nem mesmo uma única alma viva seja um humano ou animal pode ser vista, é apenas eu e o banco da praça cercado de árvores ao meu redor.
Suspiro fundo quando pego o celular no bolso da minha calça, não tem nenhuma mensagem dele e vejo que já passa das onze e vinte, eu disse que o esperaria as dez... e mesmo assim me mantive preso por mais de uma hora esperando por ele. Meu peito doi nesse momento como se estivesse sendo perfurado por uma lâmina, mesmo depois de tudo eu ainda tinha esperanças...
- Você ainda está aqui? - no momento que a voz familiar chega ao meu ouvido, meu coração treme e rapidamente coloco o celular no bolso antes de me virar, mesmo estando a alguns metros de distância eu paraliso por completo, me perdendo em seus olhos dourados quase animalescos.
- Eu... - levanto rapidamente nem sentindo meus pés no chão - Não achei que viria- falo por fim. Ele coloca as mãos no bolso do moletom e vira o rosto, ainda parado no mesmo lugar.
- Por que ficou parado por tanto tempo então?
- Você se atrasou de propósito?
Um sorriso de escárnio se forma em seus lábios quando ele se aproxima, sem olhar em meus olhos uma única vez que seja, se senta no banco e não sei se por uma impressão... penso ter visto certa dor passageira em seu sorriso.
Fico parado por um tempo olhando para seu corpo tão familiar sentado, o olhar perdido em um canto qualquer.
- Me chamou para ficar parado olhando para minha cara? - me sento ao seu lado, e passo a encarar uma árvore na minha frente, nesse momento uma brisa gélida faz meu cabelo voar. Não há mais nada além de nós dois e o silêncio.
- Como você está? - falo rapidamente.
- Não precisa perguntar coisas que você não se importa.
Rio baixo por alguns segundos.
- Não seja ridículo, eu sempre me importei com você, se não tivesse não teria te procurado.
Não obtenho resposta e mais uma vez só posso ouvir o sussurro do vento. Escuto um pigarreio ao meu lado.
- Estou bem... e você?
- O que você acha? - a pessoa ao meu lado dá de ombros.
- Sinceramente ... eu não me importo- engulo em seco e sou incapaz de dar uma resposta - O que te fez me procurar agora? - dou de ombros.
- Egoísmo- assim que falo me viro no exato momento que pela primeira vez seu olhar se junta ao meu, a distância não é tanta se eu esticasse meus braços eu poderia toca-lo facilmente. Faz quanto tempo que eu não sinto seu calor no meu? Eu me perdi nos dias.
Me levanto rapidamente.
- Estou com sede. Vamos comprar alguma coisa.
- Você não vai achar nada aberto.
Me viro para ele que está se levantando no momento.
- Tem um mercadinho vinte quatro horas não muito longe, a duas quadras daqui- falo e ele apenas fica em silêncio e se vira começando a caminhar em direção ao estabelecimento.
É como se eu estivesse sendo guiado pela esguia figura, pois eu sempre permaneço a alguns passos de distância. Mesmo que meu impulso grite para tomá-lo em meus braços, não sinto que possa andar ao menos ao seu lado nesse momento.
Seus pés param e ele olha para trás por alguns segundos.
- Eu vou - sem dizer mais nada ele entra e o vejo ir direto para as bebidas quentes, não consigo visualizar o que ele pega só o vejo sair com uma sacola em mãos no segundo seguinte - Toma - ele puxa algo de dentro para si e me estende a sacola.
Pego a mesma, meu olhar pousa na bebida... uma lata de chocolate... abro um sorriso.
- Você ainda lembra o que eu gosto.
- Não, eu só comprei porque eu tomo - ele abre sua própria lata e passa a andar na direção oposta em que viemos.
- Para onde está indo? - falo alto e tento acompanhar seus passos, com o dedo trêmulo abro a lata.
Depois de perguntar por diversas vezes eu desisto, e só o sigo por um tempo, até que minha bebida acabasse e a lata fora descartada em uma lixeira qualquer que encontrei no caminho.Acabamos parando em uma ponte, que leva próximo ao centro comercial e não tão distante da estação, posso ver grande parte da cidade daqui. Fico ao seu lado, em silêncio apenas encarando a vista.
Olho para o lado e seus fios loiros voam com o vento, o dourado de seus olhos ardem como duas labaredas perigosas, o óculos não consegue ocultar sua intensidade.
- Eu...
- Não sei qual é sua vontade louca de aparecer sempre que estou levando minha vida- ele começa a falar e imediatamente eu fico quieto - Eu não sei se te odeio ainda mais por isso ou se direciono esse sentimento a mim mesmo por ter vindo até você- ele ri - Qual o seu problema Kuroo? - ele se vira me encarando, engulo em seco me recusando a desviar o olhar.
- Fiquei cansado de dormir todos os dias segurando o celular, vendo seu número brilhar na tela, tendo a certeza que mesmo se eu apertasse o botão de ligar você não me atenderia... - abro um sorriso - Pode falar que me avisou. Você disse que eu iria me arrepender... estava certo Tsuki.
Ele desvia o olhar e vejo a tensão em seu corpo. Aperto meus dedos em minha própria mão.
- Eu te vejo em cada canto, eu achei que estava bem, mas quando esse jogo foi marcado me veio a tona a certeza que eu iria te ver, só de pensar meu peito doi... Eu estava ignorando o que eu sentia mas isso não faz o sentimento ir embora... Eu sei muito bem que eu não tenho o direito.
- SE VOCÊ SABE ENTÃO POR QUE VOLTA? - seus dedos apertam a barra de segurança da ponte, vejo eles tremeram, seu rosto está abaixado - Quer saber de uma coisa? - seu rosto se levanta e antes que eu possa reagir seus dedos apertam meu moletom e me puxam em sua direção, fazendo quase que nossos corpos se juntem, seu rosto próximo do meu - Você é podre. Que porra de sentimento você acha que tem? Você não sente saudade, só odeia o fato de que fui eu que coloquei um ponto final, só não aceita o fato que é outra pessoa que está ao meu lado. Pessoa essa que me ama de verdade, ele me assume, ele se importa... ele não fica com outras pessoas e reforça sempre que eu não sou o único. Ele é tudo aquilo que você não é- ele me solta bruscamente me fazendo cambalear. Apesar das palavras duras eu não vejo nada em seu olhar, além de dor, mágoa... ressentimento.
Ele se vira e dá alguns passos rapidamente, corro em sua direção e rodeio meus braços em um aperto forte em sua cintura, ele se debate por um tempo.
- Me solta Kuroo.
- Não... até você me ouvir- ele está de costas para mim, não vejo seu rosto, mas sinto cada dor das cotoveladas que estou recebendo nas costelas, engulo a dor e abro meus lábios- Eu sei que eu errei, eu sei que não te mereço. Eu demorei muito para notar que não tem sentido se não é você, eu estou cansado de te ver em todos os lugares, de não poder ir até você. É egoísmo eu te amar... - não termino de falar quando ele bruscamente se solta e assim que vira recebo um soco na boca.
- Que porra de amor você acha que sente?
- Você não é melhor que eu - o puxo pela gola da blusa, o sangue corre pela minha cabeça fervente - Não é uma merda ficar enganando alguém que te ama de verdade? E você... sente o mesmo?
- Quem é você para saber o que eu sinto?
- Eu sei que se você o amasse mesmo não estaria aqui comigo agora- ele desvia o olhar- Tsukishima... - com a mão livre eu seguro seu rosto o forçando a me olhar. Meu peito treme- O que você precisa... para acreditar em mim?
- Eu quero que você se foda - assim que ele fala a respiração quente bate em meu rosto, me levando de volta para lembranças de nós dois juntos, esse mesmo corpo que eu conheço tão bem... esse calor que nunca encontrei em outro lugar. Tento segurar minha sanidade, mas incapaz de ser forte eu o puxo e o beijo bruscamente, os movimentos de resistência param e apesar de sentir o sangue que ele arrancou dos meus lábios para se soltar eu não o deixo ir, e apenas levo minhas mãos para sua cintura o segurando no mesmo lugar.
Peito com peito, eu sinto seu coração batendo desde que ele gritou comigo. Quando me afasto ofegante um pouco de sangue pinga da minha boca, ele está vermelho e ofegante.
- Me diz... Você o ama? - meu polegar passa em seus lábios e o vejo estremecer.Me aproximo mais e o beijo delicamente sem forçar minha língua, ele não faz nada mas em um canto turbulento em seu ser eu sinto aquele que um dia me olhava com carinho e desejo, pois seus dedos arranham meu peito sobre a blusa como sempre costumava fazer, só não sei se essa ação é reflexo da raiva, dor, ou amor...
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Do outro lado da rede *Kagehina*
Fanfiction"E se tudo pelo qual você lutou a vida toda, simplesmente desaparecer em uma fração de segundos e quando você desperta da escuridão, a única coisa em sua mente é uma voz vibrante que grita a cada instante que você nunca mais poderá estar em uma quad...