Do outro lado da rede *Kagehina*

~10~

Tobio Kageyama ...

O leve uivar do vento batia nas janelas da minha casa, fazendo o som se transformar em uma espécie de palavras balbuciadas em um sussurro animalesco, ou ao menos, foi essa a sensação que tive quando fui despertado de meu sono, duas horas antes do que deveria... o quarto estava preenchido pela escuridão, iluminado parcialmente pela leve luz da lanterna de mesa, que fazia as sombras dos objetos ao meu redor parecerem maiores do que realmente são.
  
Por sorte, acordei sem dor alguma, e sem pressa para encarar um novo dia, apenas fiquei deitado olhando para o teto, sem fazer ou pensar em nada realmente. Por breves momentos fui levado a lembrar do Hinata e a situação toda de ontem por completo, desde o momento que nos encontramos na quadra até eu chegar em casa quase três horas depois. Sinceramente, não estou nem um pouco motivado a ir para a escola hoje, por algum motivo não quero ter que encara-lo, sinto que tudo que aconteceu foi vergonhoso demais...
  
Esse pensamento de torcer para que o mesmo não venha falar comigo, me acompanha durante todo o percurso até a escola, até que eu passe pelo portão principal, dou uma olhada rápida ao redor antes de ir em direção a minha sala. Tem poucas pessoas nos corredores, ou seja, pude ir sem grandes problemas, assim que cruzo a porta noto que a sala está vazia, além de mim não há nenhuma pessoa no ambiente, suspiro aliviado enquanto ando até meu lugar.
  
De modo desajeitado jogo a bolsa em cima da mesa, meus dedos vão ate a cadeira para puxar a mesma quando som de passos me faz parar.
- Kageyama- olho para trás, e me deparo com o largo sorriso do alaranjado, enquanto vem até mim.
- Hinata - falo baixo o mesmo apenas sorri, ao chegar perto de mim, uma sacola é esticada na minha cara.
- Pega - sem pensar muito apenas obedeço. Meu olhar intercala entre o pequeno e a sacola em minhas mãos.
- O que é isso?
- A pomada que passei em você ontem. Como parece ter te ajudado, trouxe um frasco.
  
Apenas assinto com a cabeça antes de por a sacola na mesa. Puxo a cadeira para me sentar, mas noto que o Hinata está me encarando fixamente, fazendo meu corpo formigar em desconforto.
- Mais alguma coisa? - ele fica em silêncio e abre um leve sorriso.
- Eu queria saber se não quer... almoçar comigo hoje?
- Não.
 
Me sento bruscamente.
- Ah Kageyama, por que não? - ele se curva colocando as mãos na mesa.
- Prefiro comer sozinho.
- Só hoje - balanço a cabeça em negação.
 
O alaranjado move os lábios em um bico de insatisfação. Olho para seus olhos que ficam cerrados com a ação, sua expressão que o deixa... engulo em seco... fofo talvez. Meu peito parece se agitar levemente quando desvio o olhar.
  
Vejo de relance o mesmo se afastar lentamente até a outra ponta da sala, me recuso a olhá-lo, mas escuto o som do mesmo se sentando no mesmo instante que passos são ouvidos se aproximando da sala.

Shoyo Hinata...

Encaro as coisas atrás do vidro, tentando achar algo que o Kageyama possa gostar de comer, assim como ontem, notei que ele não desce para a lanchonete da escola, permanece na sala durante todo o tempo. Sei que ele disse que não comeria comigo, mas não pode me impedir de sentar próximo dele.
- Então? - olho para a expressão impaciente da mulher a minha frente, só assim percebo que já devo estar a muito tempo decidindo o que pedir. Um sorriso envergonhado toma meu rosto.
- Seis bolinhos de arroz recheado por favor.
 
Ela assente e se abaixa para pegar os mesmos, vejo os bolinhos de arroz serem colocados em um pequeno pote descartável, antes de serem esticados em minha direção. Pego o recipiente no tempo que entrego o dinheiro.
 
Após pegar o troco me viro para ir em direção a sala, quando meu olhar se fixa na mesa do time. Todos estão conversando, mas algo em especial chama totalmente minha atenção... O Nishinoya está falando animadamente sobre algo, e o olhar terno do Asahi está preso no pequeno... como se fosse a coisa mais extraordinária do mundo, na mesma medida que o leve curvar em seus lábios fazem com que os pequenos feixes de sentimentos escapem de seu peito em uma explosão impossível de ser contida. Qualquer pessoa olhando para esta cena, poderia dizer com clareza o que este tipo de olhar significa. Qualquer pessoa, menos o Nishinoya.
 
Dou de ombros enquanto volto a andar. Quanto tempo irá se passar, até que os sentimentos do Asahi sejam notados? Não que isso seja algo da minha conta, mas fico aflito só de pensar em como o moreno lida com isso, não acho que o amor seja um sentimento que consiga se manter oculto por muito tempo, é uma correnteza forte demais em nosso íntimo para que não faça barulho em nosso externo. Mas todos os meus pensamentos sobre isso não passa de suposições vazias.. nada de concreto os tornam confiáveis.
  
Respiro fundo quando paro em frente a sala de aula, a porta está levemente encostada. Arrumo os bolinhos em uma mão, e com a outra puxo a maçaneta, no momento que a porta se abre, meu olhar é direcionado para a figura solitária no fim da sala, olhando fixamente para a janela, encarando tudo lá fora, tão absorvido que nem ao menos nota minha presença. Abro um leve sorriso e me aproximo lentamente.
   
Os raios de sol refletem em seu rosto, dando destaque para o par de olhos azuis, os cabelos negros caidos em seu rosto, brilham incessantemente. Sinto o ar se tornar escasso por um instante... ele é lindo.
  
Seu olhar para em mim, fazendo meus pés cravarem no chão a sua frente.
- O que está fazendo aqui?
   
Levanto o pote para que o mesmo possa ver.
- Você come bolinho de arroz não é?
- Disse que eu não queria comer.
  
Assinto enquanto coloco o pote em sua mesa, logo puxo a cadeira mais proxima e coloco a seu lado, me sento e olho diretamente para seu rosto.
- Mas eu quero estar em sua companhia... - abro um sorriso- Já tive o trabalho de pegar comida pata nós dois- abro o pote e aproximo o mesmo do moreno - Seria uma falta de respeito você me expulsar Kageyama.
  
Um longo suspiro escapa de seus lábios.
- Você nunca escuta o que eu falo - suas mãos vão ate um dos bolinhos que é levado até sua boca.
   
Um sorriso largo toma meu rosto... quem sabe agora eu consiga achar uma forma de falar com ele...