~13~

3.4K 429 33
                                    

Shoyo Hinata...

Tento acompanhar o som das vozes ao redor da mesa, enquanto eu faço a primeira refeição do dia, que não passa de um copo de expresso da cafeteria próximo a escola.
- Então Hinata o que você acha?
- O que acho? - a Shimizu assente.
- Estamos pensando em ir no templo próximo ao centro, fazer uma oferenda antes de começar as competições do ano, para começarmos os treinos com o pé direito.
 
O Tanaka completa.
- Estávamos pensando em sábado.
- Sábado? - abro um sorriso - Está ótimo para mim. Vamos todos juntos? - o Tsukishima nega.
- Vamos nos encontrar no templo de manhã.
- Podemos ir juntos- o Nishinoya fala me encarando, assinto.

O Sugawara começa a falar sobre sua grade de aulas, quando uma longa figura passa apressadamente pela nossa mesa. Quase que no mesmo instante abandono o copo de expresso e me levanto.
- Aonde você vai? - o Yamaguchi me pergunta.
- Vou mais cedo para a sala. Até mais- Não espero ouvir uma resposta e rapidamente corro para alcançá-lo.
 
Subo as escadas as pressas até chegar ao corredor, ele já estava no meio do mesmo. Diminuo o ritmo de meus passos até que o Kageyama entre na sala, faço o mesmo poucos segundos depois.
 
Assim que meus pés cruzam a porta, os olhos azuis se focam em mim... não abaixo a cabeça e nem sorrio, apenas mantenho nossos olhares conectados, até que estejamos frente a frente. Respiro fundo.
- Kageyama... Eu queria... - engulo em seco - Você está bem?
 
O mesmo apenas assente e se senta em sua cadeira.
- Eu achei que algo tivesse acontecido ontem, você não apareceu...
- Eu só não queria vir para a aula - ele me interrompe- Não tem nada a ver com algo que você fez.
  
Me abaixo e coloco minha mão em seu braço, assim que o faço um olhar ameaçador é dirigido a mim, rapidamente tiro meus dedos de sua pele.
- Então... Está tudo bem entre nós? - as palavras saem com certa resistência, não por receio de dizê-las em voz alta, mas pelo medo da resposta que se seguirá.
- Entre nós? - ele sorri de lado - Não é como se tivéssemos uma relação para ter algo.
  
O sorriso que antes se formava em meus lábios morre por completo. Tento encontrar uma resposta, e rapidamente estico minha mão direita em sua direção.
- Nesse caso ... por que simplesmente não começamos de novo então? - balanço minha mão na sua frente.
 
Seu olhar cai para minha mão esticada e para meu rosto, antes de afastar a mesma com cerca ríspidez.
- Não seja idiota - rio.
- Ok... mas podemos nos conhecer melhor não acha?
 
O Moreno balança a cabeça em negação.
- Não estou interessado.
- Mas eu estou e por isso, te convido para um café - ele ergue a sobrancelha confuso.
- Um café? - assinto.
- Te encontro na quadra que nos vimos aquela vez, amanhã bem cedo, para tomarmos café antes de virmos para a escola.
- O que te faz pensar que eu vou a seu encontro?
  
Dou de ombros com um sorriso.
- Não tem nada que me diga que não vai.
 
Antes que ele possa me dizer uma resposta desanimadora, viro de costas.
- Vou terminar meu expresso antes da aula começar - corro em direção a saída da sala, com um sorriso no rosto e uma sensação de alívio que domina meu ser por completo.

O dia se passou lentamente, uma aula pareceu durar mais que deveria, meu corpo gritava para jogar, então assim que o sinal bateu, joguei minhas coisas desajeitadamente na bolsa antes de correr para a quadra.
  
Assim que cheguei, noto que os únicos no local sou eu, o Daichi e o Sugawara, ambos quando me olham abrem um largo sorriso.
- Chegou cedo - assinto.
- O treinador não vai vir essa semana?
 
O Moreno balança a cabeça em negação.
- Nessa primeira semana seremos apenas nós,  ele está com muito trabalho mas disse que vem na próxima.
  
Logo passo a me alongar, no momento que o restante do time chega e se juntam a mim. Ficamos um bom tempo nos alongando, até o Sugawara anunciar que vamos aprimorar nossos saques hoje.
 
Logo começamos a preparar duas filas, em cada ponta para treinar os saques. Em especial o do Yamaguchi continua impecável, seu alcance é longo, e tem grande impacto em nossas partidas, muitas vezes pontuando com o saque do mesmo.
 
Eu diria que cada um de nós possui habilidades únicas que faz sermos quem somos. Não estou dizendo que temos o dom, mas sim que temos a vontade para superar nossos desafios, quebrar nossos limites e seguir em frente. Desde o início é isso que me inspira em meus colegas de time, a força e a coragem que compartilhamos. Nunca os vi desanimados ou abatidos, mesmo quando estamos perdendo uma partida, ninguém fraqueja... Até o final tentamos mudar o placar.
  
A alguns anos atrás o time de vôlei da Karasuno estava derrotado, a muito não se ouvia grandes feitos ou participações nas competições importantes, até se falou do desligamento do time da grade da escola, mas um de nosso veteranos que hoje já se formou, lutou bravamente para manter o time em pé, e passou a tarefa para o Daichi, que dá o seu melhor todos os dias por todos nós, mesmo que as vezes ele pegue no nosso pé até mesmo nos pequenos detalhes, todos nós sabemos que é por amor.
  
Gosto de pensar que o tempo nos fez uma família, uma grande familia, muito além da união que temos em quadra, temos também fora dela. Isso que nos faz ter tanta sincronia enquanto jogamos, a capacidade de entender o outro sem uma conversa em palavras, o conhecimento íntimo tão profundo que faz com que jogadas sejam efetuadas sem nem ao menos terem sido planejadas com antecedência.
  
Essa vibe me faz acreditar em mim cada vez mais, e por isso sinto que preciso melhorar, mas também não posso deixar de pensar que o mesmo possa acontecer com o Kageyama, ao estar próximo do time talvez ele possa ver uma saída. Quem sabe ele consiga ver que ainda não acabou por completo a chama que arde em seu peito...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora