~57~

2.5K 262 169
                                    

Kei Tsukishima...

O que é ódio se não as pontas de uma grande árvore enraizada no que um dia já foi amor? E o que fazer com a turbulência de uma alma confusa, quando derrepente uma tempestade grande do passado se funde ao terno presente, a qual o peito já estava tão acostumado?
    
Sinceramente eu não sei... e me sinto estúpido por não saber.
    
O problema de guardar seus próprios sentimentos a sete chaves, de esconder em um semblante inexpressivo que está vivendo tragédias, é que chega um determinado momento que a natureza humana toma controle, ninguém é imune o tempo todo, ninguém é forte o tempo todo. Eu, tão acostumado a fingir ser inabalável, me torno um estúpido quando começo a ruir.
    
E nada me prova mais essa fraqueza oculta do que meu próprio coração, do que minha própria mente incapaz de seguir sem parar no mesmo lugar, mesmo que escolha diferentes caminhos a cada tentativa. É como correr dentro de um ciclo vicioso... se há escapatória não é visível para quem está na parte de dentro.

    
Sentir esses lábios nos meus me traz a brisa do passado, como mil flechas atravessando meu fúnebre corpo.
    
Acho que todos somos estúpidos quando nos apaixonamos pela primeira vez... Eu não fui diferente. Quando conheci o Kuroo, eu estava entrando no ensino médio, e meus pais buscavam uma escola em que eu pudesse ter um caminho para trilhar no vôlei, meu irmão é um grande jogador, que até mesmo nos tempos que ainda frequentava a escola já era reconhecido por massas... e ele achou que uma boa opção era o colégio Nekoma, apesar de ficar relativamente longe da minha casa, valeria a pena.
    
Como é de costume, fomos fazer uma visita no colégio. Enquanto meus pais falavam com os responsáveis eu dei uma volta pelo terreno, até parar no ginásio. Já passava das três da tarde, e uma única figura treinava... solitariamente com um grande entusiasmo. Eu apenas fiquei parado observando cada detalhe, simplesmente não conseguia desviar meus olhos.
    
Era um tipo bem comum... alto, corpo relativamente bem estruturado ao ponto de ficar visível a boa forma através da camiseta, cabelos negros e molhados pelo suor. Nada de especial ... mas havia algo sobre ele que me deixava sem ar...
    
Em um momento de descuido meus pés me levaram para o interior da quadra, chamando atenção do desconhecido, que passou a me encarar com um meio sorriso que faria muitos perderem a estrutura de suas pernas.
    
Quando penso nisso agora, não consigo me lembrar bem da forma com que tudo aconteceu, é bem turvo na minha mente. Com momentos de lucidez e outros extremamente turvos. Mas sei que fiquei um bom tempo naquela quadra, treinando com ele. Quando meus pais vieram me procurar, eu saí e sem nem ao menos saber o nome do moreno.
    
Por fim eu não quis ficar no Nekoma, meu melhor amigo na época, o Yamaguchi iria para a Karasuno e por isso eu decidi ir também. E as férias chegaram rapidamente, um dia eu saí para andar por aí sem ter bem um objetivo em mente... Até que o vi... esse momento eu me recordo bem, ele estava parado conversando com uma bela menina de longos cabelos loiros, como se fosse por mágica, quando meus olhos pousaram nele o mesmo virou e sorriu. Como se já soubesse que eu o veria.
    
Eu o vi falar algo para a menina e vir andando em minha direção. Ele me chamou para comer algo, e por algum motivo eu aceitei, apesar de não ser do meu natural... descobri que seu nome era Kuroo, e rapidamente ele me tratou como se já fôssemos conhecidos a muito tempo. É raro eu me sentir confortável com alguém, e por isso não recuei a sua aproximação. Depois trocamos números e quando cheguei em casa já havia mensagem dele, me chamando para fazer qualquer outra coisa algum dia.
    
A gente passou a se ver sempre, eu passava cada vez mais tempo fora de casa com alguém que não era o Yamaguchi. Mas, algo me dizia para manter segredo sobre o Kuroo, talvez porque desde o início eu sabia que ele não seria um amigo normal...
    
Sem nada demais, apenas passávamos um tempo juntos. Ele me contava muitas coisas e jogava comigo, iamos no cinema, andávamos sem rumo... Ele me disse que era bissexual e da forma que ele falava não parecia ser grande coisa, e acho que pela primeira vez eu me senti confortável, sem achar que havia algo de errado comigo. Pois no fundo eu sempre soube, que eu nunca olharia para uma garota da forma que eu via um garoto, que nunca me sentiria da mesma forma.
    
Quando as aulas começaram nos víamos menos, mas nos falávamos todos os dias. Eu sempre gostei do espírito livre que ele tinha, mas com o tempo ouvir ele falando de outras pessoas me inquietava. Foi aí que eu notei que estava apaixonado por ele.
    
Uma noite que nos vimos, estávamos sentados em uma praça, ele olhou para mim e fixou seu olhar, não lembro quem tomou a iniciativa primeiro, se foi eu... se foi ele... só sei que nos beijamos. E no momento que isso aconteceu algo despertou em mim. Era como se pela primeira vez eu estivesse me abrindo.
    
O Kuroo me mostrou um mundo que eu carregava em mim, ele fez com que eu visse as coisas com leveza... Apesar de não termos uma relação sólida ou séria, eu me sentia bem, não me sentia só quando estava com ele. Eu era eu, pela primeira vez.
    
Mas tudo começou a dar errado, pois eu via ele com outras pessoas. E por mais que eu soubesse que não pertenciamos um ao outro, eu não gostava da ideia de saber que outros ou outras o viam da mesma forma que eu, o sentiam da mesma forma que eu.
    
Eu sou tão acostumado a reprimir meus sentimentos, que engolia cada dor. Cada palavra. Cada lágrima. Cada náusea. Cada sofrimento... a raiva de saber que enquanto eu estava em casa, talvez ele estivesse beijando outro alguém, que outro alguém saberia qual seu calor, sua força... a forma com que ele fica lindo de cima, ou como me causa arrepios estando por baixo.
    
Eu estava me sufocando e não sabia lidar com isso, quando soltei tudo... ele foi um idiota, e então eu virei as costas, e por mais que me doia ninguém nunca via, nem mesmo ele sabia do peso de cada lágrima ou que sequer elas existiam.
    
Um tempo depois o Yamaguchi se confessou para mim... e ele sempre foi tudo que eu desejei e por ele fechei meus olhos para o passado, e segui ao seu lado. Eu o amo... eu sei disso.
    
E realmente quero me bater agora até ficar sangrando por ter me revirado na cama, mesmo jurando que eu não viria eu vim até o Kuroo. Minha garganta queima. Minha mente está turva e meu corpo reage a seus lábios... e eu me odeio por sentir isso.

    
Abro os olhos e o empurro para longe fazendo com que ele caia no chão.
- Me deixa em paz - quando escuto minha voz duvido por um instante que veio de mim mesmo, está trêmula... está fraca...
    
Sinto algo quente descer pelo meu rosto e um salgado chegar até meus lábios, meu peito está doendo apesar de eu não saber o porquê.
    
Eu quero sair daqui.

Vejo o Kuroo levantar sem tirar os olhos de mim.
- Tsuki...
- Não me chama assim - grito a plenos pulmões, nesse ponto minha lente já está um pouco embaçada.
    
Indo contra minhas palavras ele se aproxima e me abraça.
- Me perdoa por...- ele sussurra. Não espero ele terminar e saio de seu abraço. As lágrimas ainda estão caindo e algo me diz para sair daqui logo.
    
Sem virar para trás eu começo a correr, escuto sua voz me chamando mas ignoro. Está difícil respirar.
    
Não sei quanto tempo corro, só paro quando sinto que ele não está mais atrás de mim, me encosto em um poste e respiro fundo. Tentando acalentar essa dor sem sentido.
- Que merda eu estou fazendo?

                              ~♡~

Eu tentei explicar um pouco o relacionamento passado de ambos, espero que tenha ficado nítido o que o Kuroo representou para o Tsuki...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora