Tobio Kageyama...
A sala está preenchida por um silêncio interminável, o único som é de mastigação, mas como se para compensar, o olhar da pessoa ao meu lado está cravado em mim, apesar de manter minha vista longe do mesmo, a sensação de desconforto me domina e algo em minha mente grita ansioso, como se houvesse algo a ser dito.
Engulo o último pedaço do bolinho de arroz, e me viro bruscamente encarando o Hinata.
- Você quer me falar alguma coisa?
Ele aponta o dedo indicador para si mesmo.
- Eu? - assinto.
- Você está me encarando a muito tempo. O que você tem para me dizer?
O mesmo dá de ombros.
- Não posso simplesmente te olhar sem ter nada em mente? - nego.
- Então... vai me dizer?
O alaranjado respira fundo, seu olhar antes baixo se levanta, em uma corrente elétrica se conecta ao meu... e nesse momento o ar parece ficar pesado, algo me diz que mesmo que eu quisesse não seria capaz de desviar do castanho de seus olhos.
- Eu... - ele limpa a garganta- Sabe, sempre fui apaixonado pelo vôlei, me esforcei muito para chegar no nível que estou hoje, sempre tive problemas pela minha baixa estatura, por isso aprendi a ser mais veloz e dar saltos cada vez maiores. Mas mesmo tendo um ótimo ataque- ele olha para baixo e seus olhos ganham um aspecto triste, nublado... mas mesmo assim seus lábios estão curvados em um meio sorriso, vejo nitidamente quando seus dedos apertam o fino tecido de sua calça- Não é suficiente entende? Eu não consigo ser o que meu time precisa, as vezes acho que atrapalho em algumas situações... eu quero poder fazer mais por eles na mesma medida que quero melhorar por mim. Por mais que eu tente todos os dias, nada parece me ajudar de verdade.
Ele novamente me encara.
- Por que está me dizendo isso?
- Eu fiquei curioso quando me falaram a seu respeito ontem de manhã, acabei pesquisando sobre você, vendo algumas partidas e pensei que talvez... você poderia...
Meu peito se agita, como se antecipasse o que o Hinata estava prestes a dizer, em um ato impensado me levanto da cadeira.
- Sinto muito mas não posso te ajudar com isso.
Passo pela sua cadeira, e viro de costas, mas antes que eu possa dar um mero passo, sinto o aperto familiar em meu pulso.
- Por que me disse para dizer se não estava disposto a sequer me ouvir até o final? - engulo em seco.
- Se eu soubesse que era sobre isso certamente não teria falado nada.
Ele me puxa bruscamente pelo ombro me fazendo olhar em seu rosto.
- Por favor Kageyama... Eu te ajudo no que você quiser, mas eu preciso de você.
Abro um sorriso sem mostrar os dentes e puxo meu braço, me soltando de seus dedos.
- É por isso que me ajudou ontem? - minhas palavras saem quase que em um sussurro.
- O que você está falando? - ele dá um passo para frente ficando muito próximo de mim - Eu já te disse o porque te ajudei, faria isso com qualquer pessoa, não foi um ato especial para você.
- Qualquer pessoa? - me aproximo dele, posso sentir sua respiração em meu rosto quando me curvo em sua direção - É mais fácil você admitir que só me ajudou, me trouxe a pomada e veio almoçar comigo só porque queria que eu te ajudasse.
A ternura de seus olhos é substituída por um olhar confuso.
- É tão difícil assim entender que as pessoas podem se preocupar com você?
Ele estica o braço me afastando dele.
- Você não precisa agir como um idiota porque te pedi ajuda, não precisa achar que cada ação minha foi porque queria algo de você.
- Eu que estou agindo como um idiota? - dou um passo para trás.
- Sim está, e você sabe muito bem disso - abro um sorriso.
- Você me pediu ajuda, e eu já dei minha resposta - viro de costas.
- Você não vai sequer me ouvir?
Continuo andando.
- Kageyama- ignoro o mesmo me chamando, até chegar perto da porta.
- O que eu quero você não pode me dar - engulo em seco.
Antes que eu tenha uma resposta saio pela porta e ando a passos rápidos pelo corredor, até chegar às escadas, o sinal vai tocar em breve e sinceramente não estou com ânimo para ver nenhuma aula, portanto, sigo para fora em busca de algum lugar para ficar. Até que vejo o que parece ser uma quadra de treino ao longe. Começo a andar até lá.
Meu peito parece queimar. Um lado meu tem plena consciência que as palavras que disse ao Hinata foram um exagero, não deixei nem ao menos ele terminar de falar... me deixei ser tomado pelos meus sentimentos, por essa mágoa que arde em meu peito sem trégua. Cada vez que alguém me diz algo sobre o vôlei, é como se minha garganta fechasse, no mesmo momento que a cicatriz em minha alma agoniza em dor.
Cada vez mais que eu tento escapar desse sentimento, sou dominado por ele. Essa sensação de que uma peça essencial da minha vida foi arrancada de mim, e nunca mais poderá ter algo que complete esse vazio, me faz quebrar todos os dias...
Olho para os lados antes de levar as mãos na maçaneta da quadra e girar... quando a porta se abre dou de cara com uma quadra de vôlei, perfeitamente organizada... as bolas estão colocadas em cestos, a rede brilha com o sol que vem dos blocos de vidro no teto, o chão parece estar perfeitamente limpo... uma sensação de familiaridade faz meu peito doer.
- Oi, posso ajudar?
Me viro bruscamente para a voz que soa atrás de mim, uma menina de cabelos longos e óculos me encara.
- Está procurando alguém? - desvio o olhar.
- Perdão, acabei entrando aqui por engano.
Antes que ela fale algo eu passo pela mesma, saindo de lá, andando em qualquer direção que me afaste daquele lugar. Olho para minhas mãos que parecem tremer... paro próximo de uma árvore e respiro fundo, sinto minha respiração se normalizar e fecho os olhos lentamente.
As vezes quando faço isso, só quero abri-los novamente e notar que meus últimos meses não passam de um pesadelo, mas quando abro os olhos... ainda estou no mesmo lugar.
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Do outro lado da rede *Kagehina*
Fanfiction"E se tudo pelo qual você lutou a vida toda, simplesmente desaparecer em uma fração de segundos e quando você desperta da escuridão, a única coisa em sua mente é uma voz vibrante que grita a cada instante que você nunca mais poderá estar em uma quad...