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Kenma Kozume...

Um bocejo escapa de meus lábios, quando raios de luz passam por meus olhos. Me mexo bagunçando o lençol abaixo de mim. Aos poucos meus olhos se acostumam com os feixes de claridade que vem da cortina parcialmente fechada.
    
Passo meus olhos ao redor do  quarto bem organizado, e as memórias voltam a minha cabeça. Fiquei tanto tempo conversando com o Yamaguchi que as horas  se passaram rapidamente, não iria dar tempo de pegar o ônibus e por isso o moreno me fez ficar em sua casa. Por sorte suas roupas caberam em mim, apesar de ficarem grandes.
    
Passo a mão em meus olhos e me viro...
- O que?...
    
Dou de cara com o Yamaguchi encolhido no pequeno Futon que usei para dormir, tem mais cobertas do que peguei ontem a noite, a maior parte está jogada por cima de mim... Seu corpo está embolado como um gato faz para dormir e se aquecer... parte do seu corpo está para fora do Futon.
    
Ainda meio confuso com a cena me arrasto para sentar, levanto os olhos para a cama do mesmo, que está meio desarrumada... respiro fundo e volto meu olhar para a pessoa ao meu lado, seus lábios estão entreabertos e o cabelo uma bagunça, mas estranhamente isso não diminui nenhum traço de sua bela expressão... ele não tem nenhum traço marcante, ou uma beleza especial, na verdade é um tipo bem comum... Mas tem alguma coisa que torna difícil desviar o olhar, mesmo que eu não saiba dizer o que é.
- Yamaguchi - o chamo mas o mesmo nem se mexe - Ei - levo minha mão até seu rosto parando a milímetros da sua pele, engulo em seco e passo meus dedos por seu cabelo, tirando os fios que antes estavam caidos em seus olhos. Seu nariz se mexe com isso e sua mão arrasta a coberta para cobrir metade de seu rosto, inconscientemente sorrio com a cena. Me abaixo ficando próximo dele - Yamaguchi.
- Hmm- um murmuro sai de seus lábios apesar de seus olhos permanecerem fechados. Rio baixo.
- Por que veio para o Futon? Vai ficar com dor por dormir torto desse jeito- minhas palavras parecem fazer com que ele se desperte e seus olhos se abrem parando nos meus. Não estamos muito longe um do outro, se não fosse pela coberta cobrindo a parte inferior de seu rosto eu poderia sentir sua respiração. Engulo em seco e me afasto com um movimento brusco.
- Kenma... - ele se senta rapidamente quase caindo, estico meu braço o puxando de volta, um leve sorriso surge e entendo isso como um obrigado - De madrugada ficou muito frio, não iria conseguir te levar para cama, fiquei com medo de cair com você no chão... tentei te chamar mas você não acordava.
     
Absorvo suas palavras e consigo o imaginar tentando me acordar... realmente costumo ter um sono pesado e como não estava dormindo bem nos últimos dias, assim que deitei noite passada cai fortemente nos braços de Morfeu.
- Então... decidi vir para o Futon com você, com as cobertas que trouxe sabia que você não iria ficar com frio - abro um sorriso leve.
- Mas você dormiu torto quase caindo...
- Pelo menos eu dormi, não iria conseguir se achasse que você estava passando frio - ele me interrompe e suas palavras de alguma forma faz com que uma onda acalentadora bata em meu peito.
- É... pode se arrumar primeiro... vou arrumar o quarto.
- Eu faço isso - ele está puxando as cobertas quando coloco minha mão sobre a sua, seu olhar se levanta parando nos meus.
- É o mínimo que posso fazer- ele suspira e puxa sua mão lentamente.
- Meus pais estão trabalhando... vou fazer o café da manhã para nós. Te espero lá embaixo então - assinto com um sorriso.
- Certo.
   
Vejo ele se levantar e calçar a pantufa, a passos arrastados ele sai do quarto, não sem antes me dirigir um leve sorriso. Acompanho cada movimento com o olhar e só o desvio quando me vejo sozinho no cômodo.
     
Suspiro fundo e começo a organizar as coisas.
     
O Yamaguchi é uma pessoa minuciosamente cuidadosa, não posso deixar de admirar alguém assim, mesmo em qualquer situação ele sempre coloca as necessidades dos outros antes das suas, por um outro lado imagino que deve ser cansativo... se ele cuida tanto dos outros quem o lembra de cuidar de si mesmo?
    
Dobro a última coberta e olho ao redor.
- Que idiota você foi Tsukishima - sussurro para o vazio.

Tadashi Yamaguchi...

Olho para a mesa mais uma vez antes de virar para terminar de fazer meu mingau, está frio e gosto de comer isso de manhã para me esquentar.
- Quer ajuda? - a voz do Kenma surge e olho para trás, o mesmo está parado já vestindo suas próprias roupas, o cabelo arrumado. Abro um sorriso.
- Pode sentar para comer, tem pão, alguns biscoitos na mesa.
   
Escuto o barulho da cadeira arrastando.
- Você não vai comer? - balanço a cabeça assentindo.
- Estou terminando de fazer mingau, eu fiz um pouco mais, mas se você não come...
- Não tenho o hábito, mas já que você fez para mim eu vou comer - olho para trás e vejo seu breve sorriso, acabo sorrindo também - Onde fica as tigelas?
- No armário aí do lado, na parte de cima a esquerda.
- Certo- mexo mais um pouco o mingau e quando desligo o fogo vejo que as tigelas já foram postas na mesa. Divido o líquido, colocando a panela na pia em seguida.
    
O Kenma se levanta pegando sua tigela antes de sentar novamente, faço o mesmo. Assopro um pouco quando passo a colher.
- Obrigado pela hospitalidade - olho para o loiro e abro um sorriso.
- Não é nada demais... somos amigos não é?
    
Ele parece surpreso um pouco e abre um sorriso que faz com que seus olhos fiquem cerrados.
- Sim.
    
O silêncio cobre o ambiente quando começamos a comer.
- Está gostoso- ele diz me encarando.
- É uma das poucas coisas que sei fazer direito- minhas palavras fazem com que ele ria.
- Eu sou pior... a maioria dos dias compro comida pronta.
- Não julgo, faço o mesmo quando estou com pressa de ir para algum lugar- o loiro assente antes de voltar a comer.
- Ah, vou ter que passar em um lugar antes de ir para a estação.
- Eu vou com você- ele me encara - Tenho que ir no mercado de qualquer forma, não me custa nada te acompanhar até a estação.
- Eu vou na loja de jogos, estou esperando um chegar e o dono me disse que chegaria no fim de semana.
- Vamos juntos- ele assente.
- Vamos... - vejo ele levar a colher até a boca, ainda sem tirar os olhos de mim, logo recua um pouco, seus olhos se fecham com rapidez  e vejo lágrimas nos cantos.
    
Rio brevemente.
- Estava quente?
- Estava... - ele me encara, e na troca de olhar começamos a rir.
      
Sua risada preenche o ambiente junto com a minha, levando a melancolia do dia acinzentado para longe...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora