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Tobio Kageyama...

Mais uma vez eu acordei antes mesmo do despertador, algo que está se tornando recorrente. Mas, desta vez o motivo não está na dor ou atividades pendentes, mas sim no convite do Hinata. É claro que eu não vou. Ou ao menos foi isso que pensei, mas antes mesmo que me desse conta já estava me arrumando e em poucos minutos já havia saído de casa, tomando a rua contrária da escola, a que me levaria até a quadra.
 
O caminho está particularmente solitário, não vejo uma única pessoa por um bom tempo, é apenas eu e minha discussão interminável comigo mesmo, ecoando nas paredes de minha mente.
  
Eu não faço ideia do motivo pelo qual eu estou indo vê-lo, obviamente eu não acho a ideia de tomar café com ele tão atrativa assim, mas na mesma medida que esse pensamento perpétua em minha cabeça, uma inquietação me domina, uma vontade me toma por completo, sou incapaz de nadar contra a maré no mar turbulento das minhas emoções... Isso fica incrivelmente nítido neste momento, que estou parado na quadra com o uniforme da escola e um casaco, segurando firmemente a alça da bolsa em meus dedos, encarando a esquina de onde sei que ele virá.
  
Uma parte de mim grita que talvez ele esteja tentando se aproximar para que assim eu aceite ajudá-lo, mas é algo que eu jamais irei fazer, eu sei que doeria muito estar próximo novamente do vôlei, sem poder realmente me unir a ele mais uma vez.
  
Respiro fundo e fecho os olhos por alguns segundos sentindo o clima gelado que envolve a cidade esta manhã, os abro lentamente e volto a olhar para a esquina, no mesmo instante que uma familiar figura surge, com um largo sorriso iluminando seu rosto, ele ergue os braços e os mexe freneticamente em um cumprimento engraçado.
   
Antes mesmo que eu note, um sorriso nasce no canto de meus lábios ao vê-lo se aproximar, uma sensação de paz afunda meu peito e não consigo pensar em mais nada ao ver seu sorriso... que se torna o único ponto de luz nesta manhã acinzentada.
- Bom dia Kageyama, esperou muito? - sua voz faz com que eu volte a realidade, apagando por completo o sorriso.
- Não, acabei de chegar - olho para ele - Aonde vamos?
  
O alaranjado se vira e aponta para o fim da rua.
- Tem uma cafeteria que costumo frequentar perto daqui, podemos ir lá, além disso não é muito longe da escola. Pode ser?
  
Dou de ombros e começo a andar, logo o Hinata segue a meu lado, andamos lado a lado. Por incrível que pareça ele fica em silêncio durante todo o caminho. Parando para pensar agora, não me lembro qual foi a última vez que andei junto com alguém desta forma pelas ruas, apenas para uma ocasião casual... devo confesar que não é uma sensação de todo ruim...

Shoyo Hinata...

Chegamos em frente ao café, que como sempre, está aberto. Gosto muito daqui, por ser um ambiente aconchegante e muito agradável. Assim que entramos um calor acalentador nos envolve, graças ao ar condicionado do local. Olho para os lados em busca de uma mesa desocupada, apenas duas estão vazias, aponto para a mais proxima da janela.
- Vamos nos sentar ali? - olho para o moreno que assente e passa a andar em direção a mesa, faço o mesmo.
  
Esta cafeteria é no estilo amadeirado, com a decoração clássica e sempre envolvida no aroma de grãos de café torrados. Isso faz deste lugar um dos meus preferidos da cidade, por ser tão calmo e alheio ao mundo agitado que nos cerca.
 
Puxo uma cadeira e me sento.
- Quer dar uma olhada no que vai pedir?- empurro o cardápio pela mesa até o Kageyama que pega o mesmo e abre.
  
Eu já conheço o cardápio, e sempre tenho as coisas que peço quando venho aqui. O calor interno da cafeteria, faz com que meu leve casaco se torne um pouco abafado, por isso decido tirar o mesmo e o coloco ao meu lado em cima da bolsa. Noto que o Kageyama me encara e abro um sorriso.
- Não está com calor? - o moreno nega.
- Estou bem - seu olhar volta para o cardápio, observo seus olhos se movendo enquanto lê o mesmo - O que foi? - ele me encara fazendo com que eu desvie o olhar.
- Nada... já escolheu alguma coisa?
- Acho que sim- abro um sorriso.
- Certo, vou fazer o pedido- olho para o balcão e ergo a mão, logo um atendente vem em nossa mesa.
- Bom dia Hinata.
- Bom dia - meu sorriso se torna mais largo, ao ponto de minhas bochechas doerem - Eu vou querer um Cappuccino médio e meia dúzia de biscoitos amanteigados - olho para o Kageyama - E você?
- Eu vou querer uma xícara de café e um bolo napolitano por favor - o atende assente.
- Já vou trazer o pedido de vocês - com essas palavras o mesmo sai em direção ao balcão.
 
Encaro a pessoa na minha frente, e tento encontrar as palavras certas para começar uma conversa com o mesmo.
- Como sabia que eu viria? - sou surpreendido por sua voz, abro um sorriso e dou de ombros.
- Eu não sabia, mas acreditava que você viria.
- Me chamou para tomar café como um pedido de des...
- Kageyama por que apenas não conversamos normalmente sem grande problemas?
 
O mesmo devia o olhar e assente.
- Então... - começo a falar - Como é Tóquio?
- Grande, populosa... Não tem muito o que dizer, é igual a outras cidades do mundo inteiro não tem nada de especial - rio.
- Nada de especial? Você diz isso porque você sempre morou lá - o mesmo assente.
- E você... sempre morou aqui?
- Não- olho para a rua através do vidro por um tempo - Eu cresci em uma cidade menor próximo das montanhas, me mudei para cá quando fui para o Colégio Karasuno.
  
Vejo que o Kageyama abre os lábios para falar algo, mas antes mesmo que um som saia a bandeija com nosso pedido é posta na mesa.
- Obrigado.
 
O atendente sorri e sai. Pego a parte do meu pedido e o Kageyama faz o mesmo. Tomo um pouco do Cappuccino e sinto meu interior se esquentar.
- Gostou daqui?
  
O Moreno está com um pedaço de bolo na boca e apenas assente, espero ele terminar de mastigar para obter uma resposta.
-  É clássico e aconchegante, o aroma de café também torna o ambiente mais agradável - sorrio.
- Pensamos o mesmo.
- Hinata - meu olhar crava no seu - Me...  - um pigarreio sai de seus lábios - Obrigado pela pomada, estou usando ela.
- Por um momento achei que você fosse se desculpar por algo.
 
Ele revira os olhos e leva xícara rapidamente até a boca, não tenho tempo de avisar antes do mesmo tomar um pouco do líquido especialmente quente, vejo seus olhos se fecharem e a xícara ser colocada com urgência na mesa. Começo a rir.
- Você está bem?
- Merda- ele passa a mão freneticamente no pingo de café no casaco.
 
Termino de mastigar um biscoito enquanto pego um guardanapo.
- Passa assim- me curvo e em um ato de instinto o puxo para perto de mim, o guardanapo em meus dedos estão pressionados em seu peito, meu coração estranhamente se acelera quando levanto o olhar e sou levado pela tempestade azul de seus olhos... engulo em seco.
- Você...
  
Ele pega o guardanapo da minha mão com ríspidez e se afasta.
- Obrigado.
- Ah... - volto lentamente a me sentar de forma correta - De nada- encaro minha próprias mãos ao sentir o lóbulo de minha orelha queimar e meu coração que ainda esta retomando o ritmo normal, bate confuso com suas próprias reações.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora