~28~

3K 426 80
                                    

Tobio Kageyama...

Após o término do primeiro período, o sinal anuncia que está na hora do intervalo, quase que no mesmo momento eu me levanto e vou em direção a porta, a maioria dos alunos ainda estão pegando suas coisas, fico encostado na parede esperando por ele.
- Eu não entendi, você me empresta suas anotações depois Tsuki?
- Hm, mas não acostuma- escuto uma risada baixa, que nem preciso me virar parar saber a quem pertence essa voz, olho para a porta e dou de cara com o Hinata, que assim que me vê para e abre um sorriso- Eu já vou descer.
- Até mais - o loiro me olha de relance e caminha em direção as escadas.
     
Ele me encara com uma expressão confusa.
- Achei que você já tinha saído - balanço a cabeça em negação.
- Estava te esperando, achei que poderíamos decidir como vamos começar essa primeira semana de treino - ele assente.
- Vamos comer primeiro, eu acordei atrasado não tive tempo de tomar café da manhã.
- Eu... - antes que eu pudesse terminar de falar, suas mãos rapidamente vem em minha direção, seus dedos segurando os meus, sem uni-los totalmente, mas o simples toque faz com que eu me sinta absorvido, como se algo estivesse sapatiando em meu corpo, uma melodia que ecoa por cada pequeno espaço de meu ser, ao ponto que até mesmo minhas palavras parecem sumir de minha boca, e eu apenas me permito ser arrastado pelas escadas.
    
Algumas pessoas pareciam nos observar, o Hinata nem ao menos se importa, e não solta minha mão por um segundo que seja, até que chegamos na cantina, só então ele se vira para me olhar. Meus olhos encontram os seus e meu coração parece parar por um instante, se eu fosse mais nítido com minhas emoções possivelmente teria ficado vermelho, mas apenas sinto minhas orelhas queimarem. Desvio o olhar e de forma meio brusca puxo minha mão da sua.
    
Ele fica com a mão parada no mesmo lugar por um tempo, enquanto a minha está no bolso da minha calça, em uma tentativa de esconder o fato que a mesma parece formigar e queimar, quase como se gritasse que sente falta do calor e dos dedos delicados do outro.
- Me desculpa por ter pegado sua mão- olho para ele.
- Ok- ele sorri.
- Eu vou pegar um lanche, o que você quer?
- Pão de creme- ele assente e a mulher que estava no balcão chama o próximo cliente.
    
Vejo ele fazer o pedido e se virar na minha direção com um pão de creme nas mãos.
- Por que pediu para mim?
- Facilita as coisas - ele se vira para pagar, sem me dar chance de protesto.
- Eu pago o meu... - ele coloca a mão na minha que estava segurando a nota que tirei do bolso.
- Tudo bem... a próxima é por sua conta.
    
Olho para ele confuso.
- Próxima?
- É- ele segura o lanche em suas mãos e saímos da fila - a próxima vez que formos comer juntos.
    
Meu coração para com essas palavras, me lembro poucas horas atrás quando estava tentado a ir encontra-lo para irmos na cafeteria... É uma oportunidade de chamar ele...
- Amanhã. Vamos naquela cafeteira- falo derrepente e desvio o olhar, ele para de andar.
- Acho uma ótima ideia- ele olha para mim e parece pensar por um momento-  Está muito cheio aqui.
- Quer subir para a sala? - o alaranjado nega.
- Tenho uma ideia melhor, vem - sem me importar muito para onde estamos indo eu o sigo até que estamos fora do prédio principal.
- Estamos indo para que lugar?
    
Ele não me responde, então não tenho escolha a não ser apenas segui-lo em silêncio, passamos da quadra em céu aberto onde algumas pessoas estavam jogando uma partida de basquete, atravessamos um conjunto de pequenos arbustos e vejo uma árvore de cerejeira ainda não florecida, não tem muitas pessoas aqui, para ser sincero, além de nós dois não vejo ninguém.
    
O Hinata para e se senta embaixo da árvore, seu rosto se levanta e logo seu olhar está em mim.
- Senta comigo.
- Hm - me sento ao seu lado, ele abre o lanche e começa a comer com certa velocidade- Você vai engasgar.
    
Ele limpa o canto dos lábios com o polegar e sorri.
- Eu... - mordo um pedaço do pão antes de continuar- Dei uma boa olhada nas partidas e algumas técnicas de treino, acho que dentre tudo o seu saque é o que precisa de maior atenção. Vamos primeiro focar nisso, ao menos nessa semana, parando alguns dias para analisar partidas, quero que você consiga prever jogadas.
- Prever jogadas? - assinto.

Me viro ficando de frente para ele.
- Existe um salto de diferença entre as pessoas que conseguem analisar um jogo e as que não conseguem. Pois, você consegue saber como agir em cada momento e situação, fica até mais fácil pontuar ou reverter um placar. Cada pessoa tem seu jeito particular de jogar, mas não é tão distante de um padrão, se você souber analisar isso, seu corpo com o tempo vai agir por instinto ao bloquear um ataque ou impedir que a bola bata no seu lado.
- Ah, acho que entendi - ele me encara- Como vamos fazer isso?
    
Mordo mais um pedaço do pão.
- Hoje, vamos apenas treinar sua postura de saque. Mas, na sua atenção que eu mencionei, vamos analisar alguns jogos e jogadores, você pode tentar fazer isso até mesmo com seu time, saber como eles vão se comportar e absorver algumas jogadas. O melhor modo de aprender algo é observar, copiar e aprimorar.
- Vamos treinar naquela quadra? - assinto, sem pensar muito pego meu celular do bolso e desbloqueio entregando para ele.
- Passa seu número, te mando mensagem quando estiver saindo, e o horário para nos encontrarmos.
    
Ele sorri e pega meu celular, vejo ele discar o número por alguns segundos antes de me devolver o aparelho. Coloco o mesmo no meu bolso novamente, quando me viro, vejo o olhar do alaranjado preso no meu, um sorriso tímido em seus lábios, seus cabelos desordenados estão mergulhados no conjunto de sombras das folhas da árvore, que parecem dançar em seu rosto, mudando o ponto de luz a cada momento.
    
Sem notar prendo a respiração, não posso deixar de notar a beleza natural que ele exala, esse atrativo em seu olhar inocente e o carisma em seu sorriso de ternura.
- Obrigado por tudo Kageyama- desvio o olhar.
- Hm.
    
Ele se curva e seu olhar baixo me encara, ficando mais próximo de mim.
- Você está com calor?
- O que? - ele derrepente coloca a mão na minha testa, fazendo a mesma coisa com a sua.
- Você está ficando vermelho... está se sentindo bem?
- Eu... - perto... ele está muito perto. Posso ver seus cílios e a sombra que fazem em seu rosto, o tom castanho deslumbrante, os lábios entreabertos, sua respiração calma... se eu descer meus olhos, posso ver o subir e descer de seu peito enquanto ele respira. Minha mente parece estar em um estado de alerta - Estou bem- me afasto.
    
Ele volta ao seu lugar inicial.
- Não sabia que você era sensível ao calor.
    
Tenho sorte de ele ser idiota e não notar que a única coisa pelo qual eu sou sensível... engulo em seco... É ele.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora