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Tobio Kageyama...

Meu corpo sempre paralisa quando sou envolvido por seus braços, eu não sei o que fazer, não sei como reagir, assim como não sei ao menos controlar meus próprios batimentos cardíacos, que aceleram em uma velocidade surpreendente... meus braços estão parados ao lado de meu corpo, sentindo o calor do Hinata se fundir a minha pele. Engulo em seco. Eu deveria abraça-lo também?
    
A hesitação percorre minha mente quando levanto a mão lentamente, antes que eu possa tocar suas costas, sinto seus dedos se afrouxarem da minha camiseta, e ele se afastar aos poucos. Minha mão para no ar no meio do caminho, incapaz de retornar ao ponto inicial ou prosseguir.
    
Ele olha para mim e sorri, sem pensar muito levo minha mão até seus cabelos desordenados.
- Você está indo bem - minhas palavras saem mais baixas do que deveriam, quando fecho meus lábios, sinto meu corpo tremer internamente... minhas mãos estão em sua cabeça, os dedos afagando o fino fio de seu cabelo alaranjado, assim como o por do sol que vi mais cedo, sou incapaz de ignorar sua magnitude e beleza. Ele levanta o olhar, e quando nossos olhares se conectam meus dedos param de se mexer, me vejo imerso na tempestade castanha de seu olhar. Engulo em seco novamente, quando meu peito se agita- Vamos continuar - tiro minha mão rapidamente e começo a andar em direção a outra ponta da quadra sem olhar para trás, sinto meu rosto  queimar e a ponta de meus dedos formigarem. Me abaixo e pego a bola que estava no chão, olho para frente e a jogo para cima, antes de fazer a mesma ir até o outro lado.
    
Por sua vez, o Hinata já estava posicionado esperando para receber a mesma, vejo que seu olhar está preso no objeto que corta o ar, indo em sua direção, quase posso sentir seu tremor a cada segundo. Não desvio meus olhos, até que a próxima cena que se segue é ele avançando um pouco mais lento que a velocidade da bola, fazendo com que a mesma passe direto e bata no chão atrás de si.
    
Não muito tempo se passa até que o Hinata pegue a bola com a expressão sorridente. Ele aparentemente não se deixa abalar quando erra alguma coisa. Secretamente sempre admirei pessoas assim, que sabem encarar suas pequenas falhas sem deixar se abater profundamente, algo que eu nunca aprendi a fazer. Não sei lidar com a falha ou com erros, principalmente se são meus próprios, sempre me cobrei demais, por diversas vezes sentia meu corpo queimar em frustação sempre que errava algo, mesmo que fosse nos treinos com o meu time. Era um grande problema, porque em algumas situações eu explodia comigo mesmo, como se tivesse uma outra voz dentro da minha cabeça, gritando minha própria incompetência sem parar.
   
Mas o Hinata... Ele não para de sorrir mesmo quando erra algo, impossível não notar o brilho em seu olhar, a perseverança em sua postura, a forma com que ele encara tudo isso de uma forma surpreendente. As falhas apenas o faz querer superar suas incapacidades momentâneas.
    
Vejo a bola vindo em minha direção e não me importo muito, deixo que minha perna se mova por si só, em um pequeno cruzar para direita, sinto a bola bater em meu anti braço e ser mandada de volta. O Hinata corre e consegue segurar a mesma antes de chegar ao chão, mas ele para com ela em seus braços, e me encara.
- O que foi? - dou um passo em sua direção.
- Não faça movimentos bruscos. Não quero que você fique com dor por minha causa - dou de ombros enquanto me aproximo do alaranjado.
- Eu posso ficar parado o dia inteiro que ainda sinto desconforto, faz parte da minha rotina ficar cerca de meia hora cuidando da minha perna, não faz diferença um esforço a mais - estou na sua frente, apenas estico meu braço e tomo a bola de suas mãos - Eu não me importo com isso - falo baixo e viro de costas, voltando para onde eu estava.
- Mas eu me importo - paro meus pés e olho para trás.
- Por que se importar com uma coisa tão pequena?
- Porque é sobre você- ele diz as palavras rapidamente, quase juntando uma na outra. Logo que seus lábios se fecham um olhar de confusão se faz presente em seu rosto.
    
Sinto uma brisa gélida bater em meu rosto, fazendo alguns fios de meu cabelo tremeluzirem sobre meu olhar, que está preso na pessoa a minha frente. Porque é sobre você... engulo em seco e desvio um olhar, uma batida fora do ritmo toca em meu peito.
    
Viro de costas.
- Não vou estar no meu limite, então... relaxa - falo baixo incapaz de olhar em seus olhos.
- Hm.
    
Após o ocorrido, ficamos um bom tempo trocando saques, arrumando sua postura e naturalmente fazendo algumas recepções... Não dissemos mais nada um para o outro, tentei ao maximo me concentrar em gravar os pontos fracos e fortes do Hinata, para pensar em jogadas que podem servir bem para ele, mas minha mente frequentemente estava com suas palavras ecoando por todos os cantos de meu ser.
    
Vejo a bola vir em minha direção, pego a mesma e olho para a pessoa na outra ponta da quadra. Sua pele está brilhando, os cabelos molhados de suor estão em sua pele. Abro um sorriso. Seu corpo parece cansado, mas por outro lado seu espírito irradia disposição.
- Está ficando tarde. Vamos cessar por hoje.
- Certo- ele sorri e vem na minha direção - Eu estava com planos de te convidar para comer alguma coisa... mas eu não saiba que eu acabaria assim - ele ri.
    
Balanço a cabeça em negação.
- Está tudo bem.
- Era mais como um agradecimento por você ter vindo até aqui me ajudar- ele olha para mim - e se esforçar tanto.
    
Suprimo um sorriso quando olho para ele e me aproximo, coloco minha mão em seu ombro.
- Te espero aqui amanhã cedo para irmos na cafeteria- viro de costas e começo a andar para longe do Hinata.
- Vai com cuidado- olho para trás e sorrio.
- Você também...
    
Vejo que ele nem ao menos se vira para ir embora. Arqueio a sobrancelha.
- O que está fazendo aí parado? Z o pequeno dá de ombros.
- Quando você sumir de minha vista eu vou para casa - sinto minha orelha queimar.
- Idiota - sussurro para mim mesmo quando começo a andar, me esforçando para não mostrar fraqueza em meu caminhar, mesmo que eu esteja com dor... Não quero que ele se sinta culpado... quando eu estiver longe posso parar por um momento ou cuidar disso em casa.
    
Olho para os lados para atravessar a rua, quando dou um passo, posso sentir o par de olhos castanhos seguindo meus movimentos.
- Boa noite Hinata- falo um pouco alto sem me virar.
- Boa noite Kageyama - ele grita de volta, abro um sorriso.
- Até amanhã- sussurro enquanto me afasto, sabendo que a pessoa que deixei para trás ainda me observa com ternura.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora