Shoyo Hinata...
O ônibus para bem em frente ao templo, então assim que descemos do mesmo já consegui ver todos parados nos esperando.
- Fomos os últimos a chegar- sussurro para o Nishinoya que assente enquanto guarda o celular no bolso.
- É que você demorou demais - empurro a pessoa ao meu lado levemente com o ombro, e em poucos passos já estávamos frente a frente com o grupo.
- Esperaram muito?
A Shimizu olha para seu relógio de pulso.
- Sete minutos- ela abre um sorriso e seus olhos que possuem uma leve inclinação felina, brilham através do óculos, me fazendo sorrir em resposta.
- Vamos? - o Daichi diz.
- Sim- todos respondemos em coro e logo já estávamos subindo as escadarias.
O Sugawara anda na frente com o Daichi e o Tanaka, a Shimizu e a Hitoka seguem comigo no degrau de baixo, ao nosso lado na outra ponta o Nishinoya fala animadamente sobre algo com o Asahi que está focado em prestar atenção.
Olho para trás e vejo o Tsukishima com um leve sorriso nos lábios, uma expressão tão silenciosamente feliz enquanto sobe as escadas, o Yamaguchi está ao seu lado, ambos conectados por seus dedos entrelaçados, não posso deixar de sorrir com a cena. Sempre admirei a coragem que ambos tiveram para ficar juntos, mesmo que tivessem tido problemas com seus familiares no início, se recusaram prontamente a soltar a mão um do outro, dispostos a enfrentar qualquer coisa, desde que estivessem juntos eu sabia que iriam conseguir.
Volto a prestar atenção no caminho a minha frente, ainda tem alguns degraus para subir. A Shimizu está falando sobre algo ao meu lado, mas eu não consigo prestar tanta atenção em suas palavras, mas pelas partes soltas da conversa, vejo que ela está falando sobre uma saga de livros recém lançada. Um suspiro de cansaço acaba por escapar de meus lábios.
Chegamos no pátio principal do templo, e imediatamente o tom de nossa voz se tornou mais baixo. Mesmo que sejamos um grupo muito animado, sabemos ter o devido respeito quando estamos em um local como esse. Todos se aproximaram e passam a andar em direção ao pavilhão da água temizuya*, não são todos os templos budistas que possuem este pavilhão, diferentemente dos santuários que fazem parte de sua conduta ter.
Apesar dos outros visitantes, não tem nenhum barulho muito alto, nem mesmo o som de vozes, o máximo que posso ouvir é o som das folhas das árvores se mexendo com o vento. Uma sensação de paz sempre me domina quando venho ao templo, a tranquilidade domina o ar, e um toque de pureza se unifica ao cenário, em tons claros e um branco perfeito na estrutura das construções, o dourado das esculturas que brilham ao sol é um destaque impossível de não ser notado.
O Sugawara foi o primeiro a purificar suas mãos e boca com a água, logo foi a Shimizu e depois a Hitoka... um por um foi realizando o ritual e esperando até que todos terminassem. Eu fui o último, e assim que terminei seguimos para o altar.
Entramos e prestamos respeito ao templo e ao monge responsável, que graciosamente atendeu as nossas oferendas, como o arroz e o saquê.Ajoelhamos um ao lado do outro e com os olhos fechados, escutamos a bênção ser proferida, por uma voz madura e clara, que me remete ao leve sussurro do ar em uma superfície límpida de um rio solene.
Quando terminado, a Shimizu pega uma caixa de incenso, ao colocar uma moeda na caixa de oferenda. Acendo o meu e disperso a chama com um movimento de mão, antes de colocá-lo no incensário. Junto minhas mãos assim como todos comigo, e faço minha oração.
Além das palavras em agradecimento, espero no silêncio caído do ar que tenhamos sucesso nas competições, que eu consiga superar meus limites pessoais e me aprimorar como jogador, que eu possa... o ar parece escapar de meu peito quando o par de olhos azuis profundos invadem minha mente ... que eu possa trazer o sorriso de volta aos lábios do Kageyama...
Quando saímos do templo o sol estava mais brilhante do que quando entramos, já estávamos nas escadas quando eu sinto um peso extra em minhas costas, olho para trás e encaro o rosto do Tanaka na curvatura do meu pescoço. Abro um sorriso.
- O que está fazendo? - ele faz um bico com os lábios.
- Estou cansado.
- Cansado do que? - o Daichi tira os braços do mesmo de mim.
- Hoje era o dia que eu poderia acordar mais tarde, mas levantei cedo e sinto que meu espírito ainda está na cama - rimos.
- Você ficou a noite inteira jogando Ryu, está estampado na sua cara - o Nishinoya diz, e o moreno de longos cabelos ao seu lado concorda com um aceno. O Tanaka dá de ombros.
- Que seja.
Terminamos de descer a escada, e estamos mais uma vez parados em frente ao ponto de ônibus.
- Vamos comer alguma coisa, estou com fome - o Tsukishima diz em seu natural tom baixo.
Coloco a mão na minha barriga.
- Agora que você mencionou, acho que estou com fome também- abro um sorriso.
- Você acha que está com fome? - O Sugawara ri - eu tenho certeza disso, para onde vamos? - a Hitoka abre um largo sorriso enquanto nos encara.
- Tem um restaurante de churrasco no espeto próximo daqui, se não me engano é na esquina. O que acham?
- Acho uma ótima ideia- o Asahi diz e olha para o Nishinoya como se buscasse sua aprovação, abro um sorriso ao ver essa cena. Seriamente, por que é tão complicado para as pessoas ficarem juntas quando seus corações já parecem estarem conectados a muito tempo?
- Então vamos - o Yamaguchi sorri enquanto começa a andar, fazemos o mesmo.
Todos estão conversando entre si, apesar de seguir com o grupo eu me concentro nas coisas e pessoas por qual eu passo. Sinto que alguém está me encarando, e quando olho para o lado o Yamaguchi sorri docemente.
- Você parece estar tão distraído hoje - abro um sorriso.
- Acho que estou mesmo, sempre que saio do templo ou de algum santuário xintoísta, fico com o corpo tão leve que parece difícil até falar- rio por alguns segundos- É uma coisa natural - ele assente.
- É tão calmo naquele lugar que é até estranho voltar para o barulho da rua depois - rimos, ele passa seus olhos por mim até parar em meus braços - Sua marca está mais fraca, finalmente resolveu cuidar de si mesmo?
Balanço a cabeça em negação.
- Foi o Kageyama que insistiu em cuidar ontem...
- Ah, o Kageyama... - o tom de sua voz me faz olhar para ele um pouco desconfiado. Uma leve ondulação em sua voz ao falar o nome do moreno, me causou arrepios.
- O que foi? - o mesmo dá de ombros.
- Nada, só tenho a impressão que vocês estão se dando muito bem.
- Sim - abro um sorriso, tento pensar em como foi difícil ao longo da semana conseguir ter esse tipo de proximidade com ele agora... Mesmo que não tenha se passado mais que seis dias desde que o encontrei na quadra, parece que faz tanto tempo. É como se aos poucos ele fosse desmontando a pessoa que diz ser, e revelasse em pequenas ações os fragmentos de seu verdadeiro eu. Seja em um ato de cuidado, como quando ele me deu seu casaco, ou descuido de quando tomou o café quente sem sequer soprar... antes ele empurrava meu toque mesmo quando era para ajudá-lo, mas ontem... olho para minhas próprias mãos... Eu o senti em meus dedos, que estavam envolvidos em seu corpo e apesar do espanto, não vi repúdio ou hesitação em seu olhar, sinto que aos poucos eu estou conquistando a simpatia do Kageyama.
Derrepente todos param e eu faço o mesmo, noto que já chegamos no restaurante mencionado, e sem muita cerimônia entramos um a um. Assim que cruzei a porta o aroma da comida me faz flutuar e meu estômago roncar em descontentamento.
- Vamos sentar naquela mesa ali - o Daichi anda até a maior mesa e nos sentamos lá. O Nishinoya está em meu lado direito e do outro está o Sugawara. Logo já estávamos vendo o que pedir.
É um daqueles restaurantes que podemos fazer nossa própria carne, na pequena grelha ou panela grande que está no centro da mesa, portanto, estamos decidindo o que fazer, o conjunto de vozes simultâneas ao meu redor, nem parece que saem dos lábios das mesmas pessoas silenciosas de algum tempo atrás...~♡~
* Temizuya são locais de purificação onde se pratica o temizu, originalmente encontrado nos santuários xintoístas, mas também pode ser visto em alguns templos budistas.
Nada mais é que um reservatório de água, onde caem as águas em que as mãos e a boca são lavadas utilizando uma concha.
Neste ritual, primeiro se utiliza a concha, a segurando com a mão direita e lave a mão esquerda, depois a concha deve ser passada para a mão esquerda para que assim se lave a direita. Ainda com a mão direita enxágue a boca sem tomar a água. Depois de lavar o cabo da concha a coloca no local inicial virada para baixo.
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Do outro lado da rede *Kagehina*
Fanfiction"E se tudo pelo qual você lutou a vida toda, simplesmente desaparecer em uma fração de segundos e quando você desperta da escuridão, a única coisa em sua mente é uma voz vibrante que grita a cada instante que você nunca mais poderá estar em uma quad...