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Kenma Kozume...

Balanço a lata nas minhas mãos antes de esticar a mesma para o Kuroo, seus olhos sobem para mim e sorri levemente. Seguro a xícara de café nas minhas mãos e assopro, apoiando meu corpo no parapeito da janela do quarto do moreno.
- Como foi ontem? - ele me pergunta.
- Bom... e com vocês? - seus olhos se desviam e vejo o sorriso que se alarga.
- Ele parece estar meio receoso em se aproximar demais ainda, mas sabe... já não vejo tanta resistência assim. Talvez, ele só não esteja tão próximo ainda porque se sente mal pelo que aconteceu...
     
Olho para fora e derrepente minha mente é preenchida pelo rosto do Yamaguchi quando sai do restaurante, absorvido e engolido por sua melancólica dor. Tomo um pouco do café e sinto o calor descer por minha garganta.
- É natural... ninguém se sente bem sabendo que uma felicidade que você tem agora, surgiu a custo da felicidade de outra pessoa.
- Você deveria me apoiar - ele bate o ombro no meu em provocação- Me faz sentir mal dizendo coisas assim.
    
Respiro fundo.
- Só estou falando a verdade... o problema não foi você ter beijado ele aquela noite, foi ele ter permitido que isso acontecesse. O Tsukishima não é nenhuma pessoa indefesa, conseguiria ter te impedido com facilidade.
- Mas se ele não conseguiu fazer isso foi porque assim como eu, ele estava tomado por sentimentos confusos. Você acha que eu gostaria que as coisas tivessem acontecido daquele jeito? - arqueio as sobrancelhas confuso.
     
Vejo o Kuroo tomar sua bebida antes de focar o olhar em meus olhos.
- Naquele dia eu mandei mensagem porque queria falar com ele. Não estava aguentando mais de angústia, imaginar mil cenários de quando visse ele durante a partida... não tinha nenhuma ambição que ele fosse mesmo ao meu encontro.
- Mas ele foi- ele assente.
- Começamos a falar do passado, as palavras duras dele me atingiram em cheio, como se tudo que tivemos não significasse nada... eu não sei o que me deu. Talvez quisesse provar que ele estava errado, ou provar para mim mesmo que no fundo ele ainda sentia algo, que eu não era o único... quando dei por mim já estava beijando ele - uma risada baixa sai de seus lábios - Eu me sinto um merda pelo o que causei para o Yamaguchi, mas estaria mentindo se dissesse que não estou feliz por poder ter a chance de conquistar o Tsukishima de novo. Eu amo ele, de verdade... falhei uma vez e estou tentando acertar com ele nessa, mesmo que demore para que ele me aceite amorosamente de novo. Esse amor é meio egoísta- ao terminar ele vira o resto da lata em um único movimento. A essa altura eu já terminei o café, só o que tenho em mãos é a xícara vazia que ainda está morna.
- Realmente egoísta - coloco a mão no ombro do Kuroo - Não joga essa segunda chance fora, porque custou muito para alguém que não merecia.
      
Ele sorri e sua mão para em cima da minha.
- Vou dar meu melhor - assinto tirando minha mão de seu ombro.
- Por sinal ... você estava com o Yamaguchi ontem não é?
- Sim... até hoje de manhã quando voltei para casa.
- Não sabia que vocês eram próximos.
- Não somos... ou melhor, não éramos - abro um sorriso sem notar enquanto encaro minhas mãos.
     
Barulhos irritantes de provocação sooam ao meu lado.
- O que é idiota? - o Kuroo ri.
- Nada, só estou contemplando o sorriso doce em seus lábios quando citei ele- ignoro suas palavras e desvio o olhar.
- Ridículo.

   
Não fiquei muito tempo na casa do Kuroo, e demorei menos de dez minutos para chegar em casa, imediatamente fui tomar um banho. Abro a porta do quarto ainda com a toalha enrolada em meu pescoço, encaro meu celular pousado na cama, a passos arrastados ando até o mesmo.
     
Hesito em abrir o chat de mensagem do Yamaguchi, meus dedos brincam pela tela antes de finalmente o abrir.
           
                                            Eu:
                         Boa noite ... está bem?

Encaro a tela do celular por alguns segundos, suspiro pesadamente ao me jogar na cama, ainda com o aparelho em minhas mãos.
- Obvio que ele não vai me responder na hora - sussurro quando no mesmo momento a tela brilha.

Yamaguchi :
Boa noite... estou bem sim e você?

Yamaguchi:
Como foi seu dia?

Abro um leve sorriso enquanto digito.
                                               
                              Eu:
                              Fui tudo bem, acabei de tomar um banho e vou jogar um pouco antes de dormir. E o seu?

Yamaguchi:
  Bem também, fiquei a maior parte do dia assistindo. Mesmo que o Tsukishima tenha vindo aqui quando voltei da estação.

Minha expressão muda na hora, e uma certa agitação me domina.

                                       Eu:
                        Você está bem? Ele disse alguma coisa?

Yamaguchi:
Nada demais, realmente nem chegamos a conversar um com o outro. Não queria ouvir nada que ele tivesse para me dizer.

                                     Eu:
                       Fico muito aliviado em saber disso. Você deveria ter me dito antes sobre isso.

Yamaguchi:
Não tem necessidade de se preocupar tanto assim.

Yamaguchi:
Eu estou bem... de verdade.

                                          Eu:
                            Vou confiar em suas palavras então.

Yamaguchi:
Pode confiar.

Yamaguchi:
Vou deixar que você jogue, ainda tenho que terminar uma atividade.

                                         Eu:
                            Hm... ok. Se cuida.

Yamaguchi:
Você também.

Olho para a última mensagem por um tempo antes de bloquear o celular, fecho os olhos ainda jogado na cama. Tento repassar os últimos acontecimentos na minha cabeça, nesses dois dias tudo virou de cabeça para baixo. Eu perdi totalmente as esperanças em relação ao Hinata, mas por outro lado eu me aproximei do Yamaguchi e isso de certa forma aliviou a dor que eu deveria estar sentindo.
     
Claro que me sinto triste e inevitavelmente derrotado, mas não é uma dor aguda ao ponto de me dominar por completo, e algo me diz que isso tem relação com o moreno. Não sei dizer se é porque me identifiquei com o que ele sentia e por isso passei a me importar, ou se é por outro motivo.
     
Talvez faça mais sentido eu dizer que é sobre ele em si... é muito raro achar alguém tão puro desse jeito, o tipo de pessoa com muita empatia e com uma capacidade de se doar intensa, tanto que esquece de cuidar de si mesmo.
- Como eu poderia não me preocupar com ele?
     
Abro os olhos encarando o teto branco e abro um leve sorriso sem entender bem o motivo por trás deste.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora