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Shoyo Hinata...

Encaro a porta familiar na minha frente, sinto um leve arrepio percorrer meu corpo quando uma brisa gélida de início de noite passa por mim. Respiro fundo e aperto as duas sacolas em minha mão. Uma contendo travessas de mingau ainda quente que comprei de uma barraca não muito longe daqui, e a outra com o pequeno objeto semelhante a um travesseiro que comprei mais cedo... Suspiro, ainda não faço ideia de como deixei ser guiado por um sentimento estranho, e acabei parando aqui em uma noite de sábado.
    
Algo que diz que estou parado no mesmo  lugar a algum tempo, eu poderia simplesmente bater na porta, mas por algum motivo não o faço.

Aperto a sacola na minhas mãos, acho melhor eu ir embora, de qualquer forma não escutei nenhum barulho vindo de dentro, talvez ele esteja dormindo ou tenha saído. Faço menção de me virar para ir embora, mas ao invés disso ergo minha mão esquerda com o punho fechado, a milímetros de distância da porta, mas minha ação subitamente paralisa.
- Hinata? - meu corpo se arrepia, mas dessa vez o culpado não é o vento. Me viro rapidamente e abaixo minha mão colocando dentro do bolso da minha calça.
- Kageyama - olho para o mesmo que está me olhando, segurando a chave nas mãos e uma sacola com o logo do mercado na outra.
- O que está fazendo aqui?
    
O que eu devo dizer ? Nem eu sei o que estou fazendo aqui.
- Eu... estava indo para casa e pensei em passar para ver como você estava- não acredito que essa tenha sido a melhor desculpa que consegui arrumar.
- Hm - ele anda até mim e estica o braço do meu lado, recuo e sinto minhas costas baterem na porta, mas assim que olho para cima sinto o ar sumir, tendo esse par de olhos azuis tão perto... não tem uma única pessoa que conseguiria recuperar seus sentidos tão rapidamente. Seus cabelos estão bagunçados, quase como se ele tivesse acabado de acordar, não surpreendentemente isso o deixa mais naturalmente bonito. Engulo em seco.
- Kageyama... - assim que o sussurro sai de meus lábios escuto o barulho da tranca, olho para baixo e vejo que a mão que estava do lado do meu corpo, na verdade só estava abrindo a porta.
- Se você não sair, vai cair quando eu abrir.
- Hã? - ele me encara com um meio sorriso irritante- C... certo- rapidamente desencosto e o vejo rir baixo antes de abrir a porta e entrar. Fico parado no mesmo lugar apenas acompanhando seus movimentos com o olhar.
- Não vai entrar? - assinto e logo entro. Assim que me curvo para tirar os sapatos a porta bate atrás de mim e o moreno se afasta indo até a cozinha.
    
Com ele um pouco longe tenho tempo de respirar profundamente e tentar recuperar minha decência e sobriedade.
- Já comeu? - sua voz sooa alto da cozinha.
- Mais cedo eu comi um crepe  - o respondo enquanto atravesso a sala até chegar na cozinha. Vejo que ele está tirando alguns sachês de chá e colocando no pequeno armário- Trouxe mingau - levanto a sacola - Se você quiser... tem dois.
    
Ele abre um leve sorriso quando vem até mim pegando a sacola de minhas mãos, sua ação incrivelmente lenta, não sei se propositalmente ou não, seus dedos passam pelos meus em um aperto breve antes de se afastarem.
- Você poderia ser mais sincero comigo.
- O que? - ele vira de costas e pega dois potes e tira o mingau da sacola, vejo ele despejar o mesmo que estava no pote descartável para os que havia pegado a pouco tempo.
- Quando eu perguntei o que estava fazendo aqui, você me disse que estava de passagem, mas tem duas travessas de mingau, então no caminho até aqui, a ideia de vir até mim já estava na sua cabeça - enquanto fala ele coloca os  potes na mesa e parando ao meu lado levanta o olhar conectando ao meu - Estou errado?
    
Desvio o olhar enquanto puxo a cadeira para me sentar, pedindo mentalmente para que meu rosto volte a cor normal, escuto ele puxar a cadeira a minha frente e se sentar em seguida.
- Eu queria te ver  - olho para ele - É isso que queria ouvir? - ele parece hesitar por um momento antes de levar um pouco do mingau até os lábios, sem emitir uma única resposta, copio o exemplo e começo a comer em silêncio.

Não muito tempo depois, saímos da cozinha depois de organizar tudo, estou acompanhando os passos do Kageyama que está indo até o sofá.
- O que é isso? - ele aponta para a sacola.
- É seu.
- Meu?
- Hm- me sento no sofá e ele faz o mesmo, a poucos centímetros de mim - Sai com um amigo hoje, e achei isso. Acho que vai ser mais prático que a compressa que você usa, já que esse não tem necessidade de você esquentar- ele pega a sacola e tira o produto de dentro.
- Obrigado- ele diz baixo- Quanto foi? Eu vou te pagar de volta- olho para ele que me encara, e noto que ele realmente está falando sério.
- Não vou aceitar, não comprei esperando um retorno.
- Então por que comprou?
    
É tão difícil assim falar obrigado sem fazer questionamento? Respiro fundo e dou de ombros.
- Porque eu pensei em você na hora, simples assim.
- Pensou em mim? - assinto.
- Não é como se fosse raro eu pensar em você- falo sem pensar, e quando olho para o Kageyama ele está me encarando, e uma leve surpresa passa pelo seu olhar, sinto meu coração ondular, como se ondas cada vez maiores estivessem batendo nas paredes do meu corpo - Eu... - desvio o olhar e pigarreio - Vou para casa, está ficando tarde- me levanto e vejo o Kageyama colocar o produto em cima da sacola antes de se levantar também.
- Vou te acompanhar até a porta - assinto.
    
Não olho para ele que estava atrás de mim enquanto ando, apenas coloco meus sapatos o mais rápido que posso, tendo minha mente em confusão, que já é algo recorrente todas as vezes que estou com ele. Assim que os coloco, abro a porta e dou um passo para fora.
- Vai com cuidado- a voz do Kageyama soa atrás de mim, sua expressão neutra me encara. Aperto minhas mãos, cravando meus dedos em minha palma e jogo toda a oposição pela janela, no momento que me aproximo dele e fico na ponta dos pés, meus braços rodeiam seu pescoço e delicamente o puxo para baixo, a ação não durou mais que alguns segundos rápidos, mas para mim é como se estivesse em câmera lenta.
    
Rapidamente fecho os olhos e dou um pequeno selar no canto de seus lábios. Me afasto, soltando minhas mãos que o rodeavam, ele me encara sem mover um único músculo, abro um pequeno sorriso.
- Boa noite Kageyama- não espero por uma resposta, apenas viro de costas e começo a andar, com o coração batendo como um louco, com a mente embaralhada, o corpo em chamas e um sorriso incapaz de ser contido nos lábios.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora