Do outro lado da rede *Kagehina*

~49~

Asahi Azumane...

Como eu e o Nishinoya organizamos a cozinha juntos, não demorou mais que poucos minutos. E nesse momento o pequeno está escovando os dentes enquanto eu observo a rua silenciosa, preenchida apenas pelo barulho da chuva. Apoio meus braços na janela e respiro fundo.
    
Eu não sei se eu tenho muita sorte ou muito azar do Nishinoya estar nesse mesmo lugar enquanto eu passava correndo. Eu não quero dormir no mesmo lugar que ele, só de pensar na ideia de tê-lo tão perto de uma forma tão desprotegida, meu coração se afunda em êxtase. É perigoso. Eu sei disso.
    
Estou tão distraído que não escuto o moreno se aproximar e só noto que ele saiu do banheiro quando o mesmo se espreme na janela comigo, olho para o mesmo mas vejo que seu olhar está concentrado nas gotas de chuva, não falo nada e apenas volto a olhar para a paisagem lá fora.
- Eu me sinto triste... - ele diz baixo me fazendo olhar para ele, o olhar de preocupação me domina. Antes que eu tenha tempo para perguntar o motivo ele se vira e me encara - Eu não gosto de sentir você distante de mim Asahi... Os últimos dias, tem sido um inferno para mim. Doi... realmente- ele volta a olhar para a chuva e o vejo suspirar- Doi muito.
- Yu... - levanto meus dedos e paro no meio do caminho até seus ombros, minha mão treme e fecho meus dedos recuando.
- Você não sorri mais da mesma forma para mim, não me vê depois da escola, ao invés de me abraçar me estende a mão, hoje em dia nem olhar nos meus olhos você olha mais... isso me causa uma angústia nauseante- ele não olha para mim enquanto fala, e a cada palavra meu peito se aperta, como se o sangue fosse pingar para fora do meu corpo a qualquer momento- Tudo parece tão maior agora sabe, assim que eu dou um passo até você, seus pés recuam cada vez mais longe... tenho medo que um dia você suma de vista e eu não seja capaz de encontra-lo de novo.
- Eu nunca vou deixar você- falo fazendo com que ele me olhe, seus lábios estão curvados em um sorriso, mas isso apenas faz a dor se agravar em meu peito, e essa dor me rasga quando vejo uma lágrima brilhar em seus olhos.
- Por que?
- Eu... - ele rapidamente aperta seus dedos na gola da minha blusa me trazendo para perto de si.
- Por que você não vai me deixar?
- Você é...- engulo em seco- Meu amigo e... - ele abre um sorriso largo e começa a rir, uma lágrima rápida cai de seus olhos.
- É isso que eu sou para você Asahi? Eu sou um amigo? - seus dedos apertam mais o tecido da minha blusa, como se quisesse partir o mesmo - Me diz - ele fala alto me fazendo engolir em seco.

Abaixo o olhar em silêncio.
- O que você quer que eu responda?
- A verdade - levanto o olhar e sou puxado para seus olhos brilhando pelas lágrimas, meu coração se acelera quando desço meu olhar até seus lábios.
- Se eu falar que te amo - levo minhas mãos até as suas que ainda me seguram, forçando meus dedos por entre os seus - Poderíamos voltar a ser os mesmo de antes? Você me olharia da mesma forma de sempre? Seu sorriso ... ia ser o mesmo?
    
Vejo ele abaixar o olhar, seus dedos tremendo em baixo dos meus.
- Não... - é como se algo dentro de mim se partisse nesse momento, é uma sensação de querer chorar e gritar ao mesmo tempo, mas estranhamente eu apenas não consigo me mover - Eu não estaria olhando para meu amigo mais - ele levanta o olhar e bruscamente puxa suas mãos da minha, mas ao invés de se afastar ele rodeia seus braços no meu pescoço e me puxa, fazendo minha testa ficar junto a sua - Porque... Eu estaria olhando e sorrindo para a pessoa que eu amo - ele abre um sorriso e uma lágrima cai de seus olhos ... isso é um sonho? - entendeu agora Asahi?
- Eu... - antes que eu possa terminar de falar, sinto seus pés ficarem em cima dos meus, a ponta de seus dedos em minha pele e logo seus lábios pressionam o meu delicamente. Pela surpresa recuo, mas sou puxado de volta por seus braços. Lentamente fecho os olhos e me deixo ser tomado por seus lábios...
    
Desajeitadamente levo minhas mãos trêmulas até sua cintura, segurando seu corpo. Abro os lábios e passo minha língua pelos seus lábios, logo ele abre a boca e finalmente sinto seu sabor... uma eletricidade percorre meu corpo. É como se um desejo acumulado por tanto tempo fosse liberado em uma explosão, eu só quero morar em seu beijo, ter essa sensação de seu corpo em minhas mãos para sempre.
     
Aperto sua cintura a medida que o beijo fica mais forte, as batidas de nossos corações em conjunto, sobrepõe o barulho da chuva que cai lá fora. Só nos separamos pela falta de ar, mantenho os olhos fechados, e sinto sua respiração bater em meu rosto, nossos narizes juntos.
- Que isso não seja um sonho - sussurro baixo e logo o som de uma risada leve soa na minha frente.
- Idiota. Como poderia ser um sonho? - abro os olhos e vejo o rosto do Nishinoya tão perto que me faz perder o ar. Solto sua cintura pois imagino que ficar na ponta do pé por tempo demais pode o cansar.
    
Seus braços escorregam pelo meu pescoço e seus dedos pousam no canto de meu rosto, passando delicamente pela minha pele.
- Por favor, nunca deixe de falar as coisas para mim de novo Asahi, nunca... se afaste de mim de novo.
- Eu prometo Yu. Eu nunca vou guardar as coisas apenas para mim de novo- rapidamente o envolvo em um abraço apertado- Me desculpa por te fazer sofrer.
    
Sinto suas mãos me apertarem.
- Isso já não importa mais, só isso aqui importa agora.
    
Abro um sorriso e coloco meu rosto na curvatura de seu pescoço, sinto o coração do pequeno em meus braços bater freneticamente e não posso deixar de me sentir nas nuvens ao ter a noção que sou a causa de tanta agitação.