~60~

2.5K 357 54
                                    

Tobio Kageyama...

Seu corpo se movimenta rapidamente como um raio, indo de uma ponta a outra quase que em um piscar de olhos. Estou sentado vendo ele treinar, e também pensando na quantidade de bolas que ficarão espalhadas pelo chão da quadra, as quais teremos que recolher antes de ir, pois eu prometi ao Daichi que deixaria tudo em perfeito estado.
    
Não faz tanto tempo que todos foram, e como eu estava ajudando o Yamaguchi no saque, tomei um tempo para me recuperar ou amanhã não vou conseguir nem me movimentar direito, nessas horas a pequena almofada de compressa que o Hinata me deu é extremamente útil, pois assim eu não preciso incomodar ninguém em busca de algo quente, nem sempre tenho meios por perto para aquecer o pano ou algo do tipo...
     
Hoje a tarde foi um treino mais leve que os anteriores, usado para dar mais uma reforçada em alguns pontos individuais, eu e as gerentes do time ajudamos no que podíamos, e confesso que é um sentimento muito bom, sentir que faço parte disso tudo de novo... mesmo que eu não esteja mais atuando como levantador, começa a se plantar em meu peito e na minha mente as palavras do alaranjado, que realmente ainda não acabou para mim, meu lugar sempre foi e sempre vai ser bem aqui... no que amo. E essa sensação se reforça pois estou cercado de pessoas boas que apoiam qualquer coisa que eu queira fazer, é um carinho familiar diferente  dos times anteriores, em algumas situações mais pareciamos rivais do que pessoas que partilhavam o mesmo uniforme.
- Você não vem? - o Hinata me encara ofegante, segurando uma bola nas mãos. Assinto... no segundo seguinte ele a joga em minha direção, me levanto rapidamente e pego a mesma no ar.
    
Sinto a sensação familiar dos meus dedos ficarem ardentes pelo impacto e não posso deixar de sorrir. Dou passos leves em sua direção, como se eu não tivesse pressa alguma de chegar em meu destino.
- Eu vou levantar para você- sussurro.
- Sério? - o tom de animação que preenche a sua voz é evidente, e quando meu olhar para no seu, sou incapaz de esconder o sorriso largo quando vejo o brilho que cobre seus olhos. A cada dia me sinto mais nitidamente idiota por demonstrar tanto, mas o resto de mim grita que é muito bom se permitir sentir pela primeira vez.
- Hm... sério, vamos fazer o ataque rápid...  - não vejo quando ele se aproxima, quando dou por mim seus lábios já pressionam minha bochecha rapidamente antes de ele correr até a linha de fundo.
     
Sinto meu rosto esquentar e torço para que não esteja tão visível essa reação tão natural, mas que não deixa de ser um tanto quanto embaraçosa. Engulo a vergonha e me posiciono, reluto um pouco antes de fechar meus olhos e soltar o ar pelo nariz suavemente... Eu sei que a bola vai parar em suas mãos, eu sei... porque meu corpo revive todos os dias no silêncio, cada pequeno detalhe, cada pequeno movimento de quando eu fazia isso todos os dias.
    
Dê o sopro de liberdade para uma pessoa que antes vivia acorrentada, mesmo que seja por breves instantes que essa sensação fosse vivida, jamais se perderia na mente... mesmo que as correntes retornassem no cair da noite, aquela sensação permanecerá para sempre... é exatamente assim que me sinto agora...
    
Escuto o barulho dos passos rápidos cada vez mais perto, a bola cortando o ar em seu zumbido cordial, e então abro os olhos, focado no Hinata que parece voar nesse momento, como se algo o levasse diretamente para a bola, ele bate na mesma de forma natural, e enquanto seu corpo desce para enfim pousar novamente no chão... nessa breve dobra de tempo eu vejo que os seus olhos estão fechados e seus lábios... estão curvados, como os meus.

Shoyo Hinata...

Se me perguntassem o motivo pelo qual eu fechei meus olhos naquela hora, eu provavelmente responderia que não sei... Mas a verdade é que eu sabia que a bola estaria em minhas mãos, pois eu confio totalmente nas habilidades do Kageyama, eu sei do que ele é capaz, assim como eu sei que ele não iria falhar a menos que assim quisesse.
    
Quando pouso no chão eu me viro em direção ao moreno que me encara, os olhos fixos nos meus. O canto de seus olhos brilham, como se uma gota de água estivesse esperando para descer.
- Por que seus olhos estavam fechados? Você tem que olhar quando for fazer algo assim - me aproximo dele com um sorriso.
- Eu sabia que você ia mandar na direção certa.
- Você confia demais nas pessoas...
    
Quando estamos frente à frente eu passo levemente minhas mãos nas suas, por breves instantes.
- Se você não confia nas pessoas do seu time, qual o sentido de pertencer a ele então? - o Kageyama fica sério e parece pensar seriamente no que me responder- Além disso... Eu sei do que você é capaz.
    
Ele sorri e desvia o olhar, seus lábios voltando a seriedade.
- Eu não tenho tanta certeza disso, depois do acidente...
- Você continua sendo a mesma pessoa - envolvo meus braços em sua cintura e puxo seu corpo fazendo bater no meu - Quando nos conhecemos você disse que eu estava te ajudando por pena... na primeira oportunidade que tinha você me dizia que não precisava da pena de ninguém... Eu vi que você também mandou a bola para a rede com os olhos fechados- ele desvia o olhar envergonhado- Isso me deixa feliz- sussurro, chamando sua atenção.
- Feliz? - assinto.
- Isso quer dizer que você não sente pena de si mesmo mais, que você está se reencontrando de novo- levo uma das minhas mãos até seu rosto e passo meus dedos suavemente em sua lateral.
- Devo o caminho a você- rio.
- Não mereço esse crédito todo- em um movimento rápido ele me levanta do chão, com medo de cair envolvo minhas pernas em sua cintura- Você vai me derrubar- falo rindo.
- Eu consigo te segurar por um tempo- paro de me mexer e olho para ele, nossos rostos na mesma altura agora.
- Por que me levantou?
- Fica mais fácil te ver assim - rio. 
- Entendo... - me aproximo de seu rosto e dou um beijo rápido em seus lábios, quando me afasto vejo que seu olhar ainda está na minha boca. Seus braços sustentam meu corpo e com um leve aperto no mesmo eu entendo o recado, lentamente me aproximo e abro meus lábios até ser entorpecido por seu gosto.
     
Nesse momento não há nada além de nós dois e uma quadra cercada de bolas de vôlei... e uma sensação de que tudo está em seu devido lugar.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora