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Tobio Kageyama...

A sensação de quando o mundo para, o som ao meu redor se reduz a nada, e a única coisa que ecoa nas paredes da minha mente é as próprias batidas do meu coração, incapaz de respirar...
    
Meus olhos saltam ao sentir o toque superficial do calor dos seus lábios, levemente. Por um segundo a única sensação é a maciez e suavidade de sua boca, passando na minha como uma brisa inesperada. Seus olhos profundos me encaram, perto... extremamente perto. Já não estamos mais juntos, seu rosto está a milímetros do meu.
    
Quando volto a sanidade depois do que parece ter sido horas mas não passou de uma fração de segundos, meu corpo parece agir em um impulso e se joga para trás... fecho os olhos e no momento seguinte sinto minha cabeça bater no chão e minhas pernas ficarem suspensas no ar, enquanto meus pés estão presos em alguma parte da cadeira.
- Kageyama!
- Eu ... to bem- passo a mão na minha cabeça enquanto tento me levantar, mas meus pés presos fazem com que a cadeira tombe na minha direção.

Rapidamente as mãos ágeis do Hinata segura a mesma e tira meus pés do espaço entre as madeiras do encosto da cadeira.
- Você está bem? - em passos apressados ele vem até mim e sem me dar chance de protesto, envolvem seus braços na minha cintura me ajudando a levantar - Suas pernas?
- Hã? - ele me senta na cadeira que eu estava antes.
    
Vejo ele se agachar e inspecionar minhas pernas. Seus dedos quentes passeiam ao redor de onde está a compressa. Meu rosto começa a esquentar com esse toque.
- Doi? Seu rosto está vermelho.
- É... o ...o... seu calor?
- Meu calor? - suas sobrancelhas se arqueiam.
   
Que merda tá acontecendo comigo?

Fecho os olhos e respiro fundo.
- É o calor da compressa lógico - sem esperar que ele me responda escondo minhas pernas embaixo da mesa, enquanto ele se levanta.
- Sobre agora...
- Vamos tomar café antes que esfrie - interrompo ele.
    
O cômodo fica mergulhado no silêncio, até que ele ande até o meu outro lado e pega a toalha que havia caído no chão, passando ao redor de seu pescoço, antes de se sentar no lado oposto da mesa.
    
Tento controlar meus batimentos cardíacos... preciso esquecer isso. Não foi nada. Não é como se tivesse sido um beijo, foi um acidente. Isso. Um mero acidente.
    
Olho para o Hinata que está me olhando, abro um leve sorriso quando estico minhas mãos.
- Me dá sua xícara, vou por café para você.
    
Ele sorri de lado e me entrega, seus dedos passando levemente pelos meus. Volto toda minha atenção para por o café, e enquanto cada gota cai, tento manter a calma e repetir na minha mente como se fosse um mantra, que preciso agir normalmente.

Shoyo Hinata...

Suspiro fundo e abro os olhos, sentindo minha pele queimar ao pressionar meu braço que está estendido na grama perto da quadra de basquete, o sol quente está iluminando todo o ambiente, inclusive a pessoa ao meu lado que também está deitada na grama.
- E o que você fez? - dou de ombros.
- Nada. O que eu poderia ter feito?
- Então, depois disso vocês só tomaram café da manhã e vieram juntos? - assinto com um suspiro.
- Viemos conversando como sempre, ele não evitou contato visual comigo ou qualquer outra coisa do tipo, foi... normal. Ele confirmou que vai estar me esperando na quadra hoje e que vamos treinar juntos dessa vez, que ele vai estar do outro lado me dando suporte e respondendo às minhas investidas.
- Entendo, mas a única coisa que não entendi é o motivo pelo qual você está inquieto - o Nishinoya se vira ficando de lado como eu, usando o braço como suporte para a cabeça - É por que ele não desceu com você hoje?
    
Balanço a cabeça em negação.
- Não, ele me explicou que ia para a biblioteca terminar uma tarefa.
- Ele não agiu estranho, não te ignorou, não está te evitando... Então por que você parece tão incomodado?
    
Abro meus lábios para responder, mas não consigo encontrar as palavras certas para expressar o que estou sentindo nesse momento. Não é como se eu tivesse odiado o fato de que meus lábios encostaram nos dele sem querer, e obviamente fico feliz que ele não tenha reagido mal ou me ignorado, até porque não é como se pudéssemos chamar aquele pequeno toque de beijo... Mas tem alguma coisa que me impede de estar confortável, uma agitação no meu peito me faz rodar em círculos nas minhas próprias confusões mentais.
- O que teve de diferente dessa vez? - olho para o Nishinoya... Ele parece sempre saber o que se passa na minha cabeça. Abro um leve sorriso.
- Eu não sei. Não foi algo demorado, e também não é como se fosse a primeira vez que algo do tipo tenha acontecido, foi um breve segundo, mas... - engulo em seco e desvio meu olhar para o céu acima de mim - Aquele segundo foi como um furacão dentro de mim, aquele toque levou muitas coisas para os ares, eu não sei explicar direito, mas é como se... algo tivesse queimando dentro de mim desde aquele momento.
    
Sinto o silêncio do Nishinoya, e não preciso me virar para saber que ele está pensando no que me dizer nesse momento.
- Você acha que gosta dele?
- Gostar dele? - assim que olho para o Yu o vejo assentir.
- Eu não sei - respondo baixo, mas assim que as palavras saem da minha boca, é como se não passassem de uma mentira tosca.
- Eu acho que você sabe sim, só não está claro ainda- ele suspira - mas com o tempo vai ser cada vez mais nítido seus sentimentos ao ponto de transparecer em cada pequeno detalhe seu, seu sorriso, seu olhar...
- Já não é do meu caso que estamos falando não é?
    
Trocamos um olhar por um tempo, até que ele se movimenta e se senta, acompanho seus movimentos.
- Já pensou em tentar falar com ele? - ele me encara.
- Sinceramente,  eu não sei.
- Ignorar não está funcionando.
- Eu sei... eu sei... - as palavras saem como um sussuro e ele passa a mão pelo rosto, como se isso fosse levar embora todas suas preocupações. Quando seu olhar se levanta, é cravado no meu- O mesmo vale para o Kenma.
    
Abro um sorriso e dou de ombros.
- É amizade.
- Só você vê as coisas assim - ele me encara e ri - Fala sério, depois daquele dia você ainda acha que ele te vê como um amigo?
- Você pensa demais- empurro ele de volta para a grama e me jogo em cima dele, colocando minha cabeça em seu peito. Ele ri e passa a mão nos meus cabelos.
- Como é estar com o uniforme da pessoa que faz seu coração palpitar, sabendo que o mesmo tecido estava não muito tempo atrás na pele nua dele?
- Eu vou te jogar no lixo Nishinoya - ele ri.
- Só estou dando um clima mais leve para amenizar a conversa sentimental.
- É a nova forma de dizer que está me provocando? - sua risada ecoa - idiota- não posso evitar de sorrir com o som de sua risada.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora