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Shoyo Hinata...

O fim de semana passou rapidamente, e quando me dei conta mais um dia letivo havia me alcançado... mas isso é uma coisa para se comemorar, já que hoje o treinador Keishin virá pela primeira vez no ano falar conosco, ele tem uma loja de conveniência não muito longe da escola, e trabalha lá em tempo integral. O modo como ele acabou como parte do time da Karasuno é um tanto quanto peculiar.
    
Seu avô foi um lendário treinador da Karasuno, nos tempos que o time conseguiu grande destaque e muitas conquistas, mas o próprio Keishin não estava ligado ao vôlei, apesar de ter sido um jogador em sua terna idade. Ano passado, encaramos o problema do antigo treinador ter sido transferido, e fomos recorrer ao avô do Keishin, que já estava aposentado a muitos anos e portanto recusou nosso convite, mas também convenceu seu neto a ser nosso treinador. Por ter que tocar seu próprio negócio, ele não está todos os dias conosco, mas sempre que necessário ele fica ao nosso lado. É uma boa pessoa, e nos primeiros meses se esforçou demais para aprender cada vez mais sobre o vôlei.
   
Paro em frente à cafeteria que vim da última vez com o Kageyama.
- Vai entrar? - olho para o Nishinoya que estava ao meu lado. Assinto.
- Quer pedir alguma coisa também? - o mesmo assente, e logo entramos na cafeteria.
   
Não consigo evitar de fechar meus olhos com o doce aroma de café, e quando os abro novamente olho para o lugar que havia me sentando com o moreno naquele dia, e um sorriso toma meu rosto. Eu deveria convidá-lo mais uma vez...
- Bom dia, o que vão pedir? - encaro a atendente que estava no balcão.
- Um chá gelado médio por favor- a mulher assente com um sorriso antes de olhar para mim.
- E você?
- Um Cappuccino médio e um café expresso médio também - ela assente.
- Aguardem um momento.
  
Vejo ela passar o pedido para um homem que logo começa a preparar os mesmos.
- Café expresso...- o Nishinoya me encara com um meio sorriso- Você não toma café expresso.
- Não é para mim.
- Hm... Não é para você- ele se aproxima e me abraça com seu braço direito - É para o Kageyama não é?- rio e olho para ele.
- Está insinuando o que?
  
Ele ri e faz uma expressão inocente, que não passa de uma péssima atuação.
- Nada, só estou admirando sua preocupação com ele, lembrar dele até mesmo tão cedo...
   
O encaro e abro um leve sorriso.
- Ele gostou da vez que tomamos café aqui, ele já vai me ajudar a treinar, preparou um jantar na sexta, o mínimo que posso fazer é levar um café como agradecimento.
- Claro, claro... agradecimento.
  
Ele me encara com uma expressão realmente irritante, o olhar sugestivo me faz rir.
- Você pensa demais - saio de seu braço no momento que nossos pedidos são colocados no balcão.
  
Tiro minha carteira da bolsa e pago o meu assim como o Nishinoya, e rapidamente saímos da cafeteria e passamos a andar até a escola.

   
Depois de dar um bom dia para meus amigos eu me apressei em subir as escadas até a sala, por conhecimento, sei que o Kageyama não fica nem mesmo um pouco nos arredores ou próximo da cantina, assim que chega na escola o mesmo já vem diretamente para a sala.
  
Seguro seu café expresso em minhas mãos, quando atravesso a porta meu olhar já se encontra na figura parada na última carteira. Diferente do habitual, ele não está olhando a paisagem na janela, nem mesmo está com os fones de ouvido. Sua cabeça está pousada em cima do seu braço na mesa, o rosto virado para a parede. Ele está dormindo?
- Kageyama - o chamo mas não obtenho resposta. Ando até sua carteira e me inclino para frente, apenas para constatar que ele realmente está dormindo.
  
Abro um sorriso enquanto o olho, seu rosto parece ter sido esculpido nos mínimos detalhes a mão, cada contorno é tão perfeitamente desenhado que me faz perder o ar. Seus olhos estão fechados e os longos cílios que dão a ele um leve tom de uma sensualidade, fazem sombra em seu nariz fino e de traço elegante. Os cabelos negros estão caidos em seu rosto, os fios desordenados o deixam com o aspecto fofo.
  
Me aproximo de seu rosto, posso ouvir sua respiração quente bater em minha pele, como uma brisa libertadora que chega para acalentar nossa alma, fecho os olhos por alguns segundos e me permito sentir o arrepio em meu corpo. Abro os olhos quando me dou conta da estranheza das mais ações. Mas quando meu olhar pousa no Kageyama novamente, minhas mãos parecem se mover por instinto em direção aos seus cabelos, com um sorriso tiro os fios de seu rosto e ele mexe o nariz em desconforto. Me curvo um pouco mais perto.
- Kageyama - minhas palavras saem quase que em sussurro mas mesmo assim nitidamente. Vejo seus cílios se mexeram como se ele quisesse abrir os olhos - Kageyama - ele abre os olhos e talvez pelo susto de ter uma voz tão perto de seu rosto, ele levanta a cabeça, eu não estava preparado para esta ação, não tive tempo de recuar e segundos depois eu sinto seu nariz encostado no meu. Tão perigosamente perto...
   
Sinto meu corpo se aquecer e revirar com a proximidade inesperada, se antes a sua respiração estava perto, agora quase que se funde a minha, meu coração parece ter ganhado vida própria e se afunda no mar turbulento de um sentimento desconhecido, que me domina. Quando nossos olhares se aprofundam um no outro, prendo a respiração. 
- Estou sonhando de novo? - sua voz sai rouca, seus olhos parecem perdidos. Ainda se despertando.
  
O que ele quer dizer com sonhando de novo?

Meu rosto começa a ficar vermelho, e assim que a pessoa na minha frente nota, seus olhos se abrem em espanto antes de recuar até que seu corpo encoste na parede.
- O que você está fazendo?
   
Abro um sorriso e desvio o olhar, tento desesperadamente me agarrar ao tênue fio da minha sanidade, tentando buscar as palavras para respondê-lo. Mas, enquanto minha mente tenta respirar, meu corpo ainda está preso nos momentos anteriores.
   
Sem saber o que falar apenas coloco o café expresso em sua mesa.
- Eu ... passei na cafeteria e trouxe para você, mas... você estava dormindo então eu...
- Obrigado- ele pega o café e me olha por alguns segundos antes de tomar um pouco do mesmo.
- Você não dormiu direito? - tento soar o  mais natural possível, na esperança que minha voz não revele a falta de calmaria instalada em meu peito.
- Sim e não, eu dormi mas não o suficiente, acabei perdendo a noção das horas... - ele para um pouco para tomar o café- Quando me dei conta já estava quase na hora de vir para a escola. Eu estava estudando jogadas- ele boceja.
   
Sinto uma pontada em meu coração.  Ele ficou acordado pensando em forma de me ajudar? Abro um sorriso.
- Kageyama- ele me encara- Você não precisa se esforçar tanto - ele dá de ombros.
- Eu só fiz porque quis, não se preocupe muito com isso.
   
Eu fico olhando para ele, noto que seus olhos estão com algumas olheiras. Mesmo que ele pareça frio e distante, cada vez mais eu conheço um lado meticuloso e caloroso do Kageyama que apenas o torna mais interessante.
- Você quer? - ele pergunta.
  
Balanço a cabeça em negação um pouco envergonhado. Eu estava olhando tanto tempo para ele, que deve ter passado a impressão que eu estava olhando para o café em suas mãos.
   
Me sento em sua carteira e ele me olha com o canto dos olhos.
- Então... quando começamos? - ele parece pensar um pouco.
- Ainda estou vendo algumas coisas, mas pode ser amanhã? - assinto.
- Acho uma ótima ideia.
   
Ele me encara por um tempo e sorri quase que imperceptivelmente, não consigo evitar de sorrir também...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora