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Shoyo Hinata...

Resolvemos ir em uma pizzaria não muito longe da estação de trem, que passamos todos os dias para ir até nossas casas. Com exceção do Tsukishima e o Yamaguchi, todos vieram. Até mesmo a Shizimu que raramente fica até mais tarde conosco.
 
O Asahi pediu cerca de quatro pizzas de sabores diferentes, pouco tempo depois todas elas já estavam em nossa mesa. Pego uma fatia e a coloco em meu prato.
- É uma pena que os dois não tenham vindo, tinha algo para discutir com vocês.
 
Minha atenção é voltada para o Daichi.
- Diz, depois avisamos eles - o capitão troca olhares com a Shimizu que assente.
- Nós reunimos hoje de manhã com o professor Takeda e o Keishin, achamos que seria uma boa ideia organizar um amistoso para que pudéssemos ver como todos estão após as férias, assim vamos saber o que devemos melhorar com maior cuidado.
- Amistoso? - o Tanaka diz- Acho que seria uma ótima ideia - assinto.
- Mas... existe alguma outra escola disponível?
- Sobre isso... - a Hitoka passa a falar- O professor Takeda está conversando com o treinador do Nekoma, mas ainda não é certeza que o amistoso será realizado, e se for, será apenas no mês seguinte.
  
Como um pedaço da pizza. Não me surpreende o time do Nekoma não querer realizar amistosos tão cedo, o Kenma havia me dito que receberam muitos calouros esse ano, e possivelmente teriam um pouco de trabalho para adaptar cada um deles. Ano passado quase perdemos um amistoso contra esse time, mas pelo menos foi devido a isso que conheci o Kenma, que é levantador. 
 
Involuntariamente abro um sorriso ao lembrar... eu havia acabado de me juntar a Karasuno e tinha o primeiro jogo marcado, eu estava correndo com o Nishinoya de manhã quando o vi sentado com um aparelho de jogos retrô na mão, não lembro o que disse  para chamar sua atenção, mas rapidamente começamos a conversar... hoje somos bem próximos, tentamos nos ver pelo menos umas três ou quatro vezes no mês, as vezes saímos para ir no cinema ou algo do tipo ou apenas ficamos na minha casa juntos durante o dia. Toda a rivalidade que temos quando estamos dentro da quadra vai embora, sem deixar rastros...
- E o que você acha Hinata?
- Hã? - levanto o rosto encarando o Sugawara.
 
O Nishinoya ri.
- Você está mais distraído que o normal hoje - abro um leve sorriso.
- Acho que não dormi direito, estou meio sonolento.
- Estávamos falando de como vamos fazer a abordagem para os primeiristas esse ano - o Asahi fala.
 
Assim que ele termina de falar a Shimizu passa a citar idéias, e logo todos os demais dão suas opiniões, minha cabeça começa a girar e não consigo prestar muita atenção. Tomo um pouco do suco.
- Acho que vou para casa - digo enquanto me levanto, meus dedos vão até a bolsa e a tiro da cadeira.
- Tem certeza? - assinto.
- Vou sozinho não se preocupe- o Nishinoya assente.
- Me avisa quando chegar então - sorrio.
- Pode deixar - dou um passo para trás- Até amanhã.
- Até Hinata.
  
Com um último aceno eu saio da pizzaria e sou atingido por uma brisa refrescante, fecho meus olhos enquanto sinto os fios de meu cabelo voarem. 
 
Olho para os lados antes de atravessar a rua, resolvo dar uma volta pelas ruas residências ao invés de ir pelo centro da cidade. Minha bateria está fraca, então nem ao menos coloco música, o único som que escuto é o dos carros ao meu redor, que não são muitos, pois a essa altura a noite substitui o dia plenamente.
 
Viro em uma bifurcação a esquerda e vejo uma mulher correndo junto com um homem, ambos com roupa de corrida combinando, desvio dos mesmos e volto a andar em um ritmo mais lento que o normal, não estou com muita pressa de chegar em casa. Sinto que tenho muito o que pensar, preciso arrumar uma forma de melhorar minhas habilidades, mas parece que não importa o quanto eu tente, as coisas nunca saem como o planejado. Passei todos esses dias tendo o Nishinoya como treinador e mesmo assim não melhorei de uma forma considerável, cheguei a pensar que talvez o problema estivesse comigo, mas me recuso a levar isso em consideração. Sei que posso melhorar... que posso jogar assim como... como...
  
Minha mente é preenchida por lapsos da partida que assisti hoje, na forma com que ele se movia com maestria, como se se unisse ao ambiente ao seu redor e se tornando um só... Kageyama.
Meu coração começa a acelerar em animação, o zumbido do vento corta meu ouvido, talvez ele possa me ajudar a melhorar, possa me fazer ter maior precisão e coordenação. Um sorriso toma meus lábios, eu só preciso... achar uma forma de me aproximar do mesmo, mas como?
 
Balanço a cabeça em negação enquanto ando, não acho que me aproximar casualmente seja uma boa opção, ele não parece ser o tipo de pessoa que gosta de fazer amizades. O som de pneus cortando o asfalto faz com que eu olhe para a rua, e noto que não estou muito longe da quadra do bairro, talvez eu possa ir por lá. Paro em frente à faixa de pedestre e espero o sinal abrir para atravessar.
  
Enquanto ando penso em inúmeras formas e diálogos para conversar com ele, mas todos parecem não serem muito promissores. A medida que me aproximo da quadra, um som de algo batendo no chão repetidas vezes chama minha atenção. Pego meu celular do bolso e vejo que já passa das 19:30, esse horário as poucas pessoas que ficam por aqui já saíram, não é uma área muito movimentada. Acelero um pouco o passo, assim que chego a rua, vejo de longe uma pessoa parada no meio da quadra, com uma bola de vôlei nas mãos. A longa figura, está usando um moletom cinza que cobre até sua cintura, uma calça preta larga e um tênis cinza, os cabelos pretos desordenados voam com o vento... estreito os olhos a cada passo e a silhueta vai ficando mais nítida e levemente familiar...
 
Tem uma sacola pousada no chão ao seu lado, tento andar sem fazer muito barulho, por algum motivo não desvio o olhar e aos poucos noto que não é ninguém mais ninguém menos que a pessoa que dominava meus pensamentos até aqui, Tobio Kageyama. 
   
O que ele está fazendo aqui? Abro os lábios para chamá-lo, mas fecho em seguida quando vejo ele rodar a bola em seu dedo indicador com maestria. Ele segura a mesma por um tempo e parece encarar fixamente. Meus pés param e me curvo atrás de um poste de iluminação, virando a cabeça para que o mesmo não saia do meu campo de visão. Tento me manter em silêncio, até minha respiração parece soar mais suave que o normal.
 
Ele aperta a bola em suas mãos, mas não consigo ver o tipo de expressão que ele está fazendo. Mas noto a hesitação em seu corpo, quando a bola é arremessada para cima e a palma de sua mão a manda para o outro lado da quadra, sem nenhum movimento além do braço.
- Ele é muito bom... - sussurro ao notar o seu alcance.
 
Permaneço no mesmo lugar, acompanhando o mesmo com o olhar quando ele vai em direção a bola, até se abaixar para pega-la, posso ver de relance o olhar em seu rosto... como se estivesse perdido. Engulo em seco quando uma onde de inquietação domina meu ser.
  
Ele volta para seu ponto inicial, a passos leves. Seu corpo permanece imóvel por um tempo, seus ombros descem como se ele tivesse respirado profundamente, no exato momento que um vento faz seus cabelos voarem. Ele estica o braço direito, a bola posicionada perfeitamente em suas mãos, antes de ser arremessada em linha reta para cima, em uma fração de segundos suas pernas se flexionam e ele toma impulso... como se flutuasse... Seu corpo se ergue acima de meu olhar, pairando majestosamente e em um movimento rápido a bola corta o ar e seu corpo desce...
 
Quando seus pés param no chão, sua perna direita parece não seguir o comando e ele cai de joelhos. Antes que eu me dê conta, já corro em sua direção, pulando a pequena estrutura ao redor da quadra, até chegar até ele.
- Kageyama... - me abaixo e sem olhar para seu rosto meu braço rodeia seu corpo, enquanto o outro para em sua perna em busca de uma torção ou algo do tipo. Levanto o olhar- Você está... - as palavras parecem morrer em meus lábios, no momento que vejo a lágrima solitária brilhando no canto de seus olhos...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora