Shoyo Hinata...
Meus olhos estremecem em desconforto ao sentir os raios de luz, um bocejo escapa de meus lábios entreabertos enquanto minhas mãos tateiam o redor, não encontrando nada além do vazio. Abro os olhos e vejo que já amanheceu, mas pela claridade que atravessa as janelas não deve passar das 7:30
Tiro as cobertas de cima de mim e vejo que eu estou com uma camiseta longa que julgo ser do Kageyama, por baixo estou com uma boxer preta. Como eu não acordei com ele me vestindo?
- Kageyama? - me viro na cama e o vejo agachado no chão, meus olhos se concentram na almofada presa em sua perna, imagino que a mesma deve ter amanhecido muito dolorida... Mas meu peito se suaviza ao ver os longos dedos que com suavidade arrumam algumas rosas em um vaso de água que fora posto no centro da mesa.
- Bom dia - ele se vira e sorri enquanto se levanta vindo em minha direção- Desculpa ter saído da cama sem avisar, minha perna estava doendo e como estava cedo pensei em te deixar dormir mais um pouco... - ele senta na ponta da cama e afaga meus cabelos- Como você não terminou de comer ontem eu já pedi o café da manhã - abro um sorriso enquanto me sento na cama, sentindo um leve desconforto em meu corpo.
- Bom dia, obrigado por ser tão atencioso- ele sorri e se aproxima me dando um beijo leve. Meu coração se aquece agressivamente. Antes que eu me dê conta já estou com a mão em sua perna - Quer que eu faça uma massagem depois?
- Não precisa. Já está bem melhor.
- Certeza? - o encaro com os olhos cerrados buscando ver qualquer traço de que o mesmo está me omitindo algo.
- Absoluta - ele ri enquanto levanta - Não precisa me olhar assim- suas mãos me puxam para fora da cama e logo o vejo me dar suporte para caminhar.
- Não me trate como se eu estivesse inválido. Posso andar sozinho muito bem- apesar dos meus protestos ele não para de caminhar lentamente ainda me segurando.
- Eu sei, mas imagino que deve ser dolorido. Só não te carrego em meus braços pois nós dois iríamos cair - ele me encara e não posso deixar de sorrir com o seu cuidado. Ele é uma pessoa realmente minuciosa.
- Só por hoje eu vou deixar- desvio o olhar com as bochechas coradas, a essa altura já chegamos a mesa, ele me senta delicadamente no mesmo lugar que ocupei ontem antes de se sentar na minha frente.
- Eu pedi ovos mexidos, tem salada de fruta, biscoitos porque sei que você gosta, tem bolo... se quiser algo mais me avisa que eu vou atrás, ah tem mingau também- ele fala enquanto aponta para as coisas na mesa perfeitamente organizada.
Enquanto coloco um pouco de chá na xícara meus olhos param nas rosas, tem um lírio no meio.
- Por que as flores?
- Bom... - o vejo desviar o olhar - Eu achei na parte de trás em um jardim, pedi autorização para trazê-las para o quarto... Só queria deixar a mesa mais bonita mesmo - vejo seu embaraço ao falar e não posso deixar de sorrir largamente com uma risada baixa - O que foi?
- Você... é adorável- ele sorri e balança a cabeça em negação.
- Me dê seu prato - ainda sorrindo o entrego - Já vi os horários dos ônibus pelo celular, tem um que passa onze horas por aqui que tem como destino final o terminal perto de casa. Melhor do que pegar dois - assinto.
- É uma boa... assim chegamos cedo lá- o Kageyama assente quando me entrega o prato com ovos mexidos.
- Ao chegar lá eu te deixo em casa antes de ir para a minha... - olho para ele confuso.
- Eu posso ir sozinho.
- Eu sei que pode. Mas só quero cuidar mais de você- os olhos azuis presos nos meus fazem meu coração vacilar e não posso deixar de transbordar encanto pela pessoa a minha frente.Tobio Kageyama...
Passamos o tempo restante aproveitando o entretenimento oferecido pelo hotel, perto das onze horas saímos para esperar o ônibus que surpreendentemente foi pontual. Como estava vazio sentamos no lugar mais próximo da porta do meio, o Hinata foi no banco da janela para conseguir ver a paisagem que passaria no caminho.
Já faz algum tempo que embarcamos e estamos prestes a sair da região calma, olho para a tela do celular e troco a música para uma mais lenta.
- Hinata você... - olho para o lado apenas para constar que o mesmo acabou pegando no sono. Sua cabeça está quase batendo no vidro. Abro um sorriso quando estico meu braços o puxando lentamente na minha direção, fazendo com que a cabeça pouse em meu peito, enquanto o rodeio com meu braço impedindo seu corpo de balançar de um lado para o outro.
Quase que não sou capaz de prestar atenção na letra da música que ecoa, a única coisa que permance forte dentro de mim é o calor tão familiar que o seu corpo trás. Não posso conter a vontade de fazer cafuné em seus belos fios enquanto o tenho tão perto.
Nesse momento uma sensação de paz libertadora me domina, um calor insuperável e a forma tão natural de pensar que eu não me importaria de o ter descansando em meu peito durante todos os dias que ainda terei na vida. Sendo sincero, eu não tenho certeza se seria capaz de voltar para um mundo sem o ter ao meu lado.
Já não sei dizer como eu enfrentava os dias cinzas, a solidão que me dominava... Não consigo me lembrar como era passar dias sem esboçar um simples sorriso, talvez porque agora essa ação se tornou algo natural, que sempre ocorre quando tenho meus olhos nos do Hinata.
Agradeço a insistência dele em fazer com que eu o ajudasse, ou nada disso teria acontecido...
Na minha vida sempre tive a impressão de que nada foi planejado, como se as coisas acontecessem ao mero acaso. A única coisa a qual eu sentia que poderia chamar de minha era o vôlei, quando estava em quadra eu conseguia sentir que pertencia a algo realmente... até que isso foi roubado de mim naquele acidente, naquele momento todas as minhas esperanças e visões do futuro foram apagadas da minha mente, minha vontade de continuar sendo levada junto.
Olho para a pessoa em meu peito, a luz do sol iluminando seu belo rosto, fazendo algumas partes dançarem em sombras delirantes, os cabelos alaranjados se encontram caidos em sua testa o deixando verdadeiramente belo. Não posso conter o sorriso deixando um leve suspiro de encanto escapar de meus lábios. Fecho os olhos encostando meu rosto no mesmo.
Quem diria que ele me traria uma luz novamente, algo em que acreditar. O Hinata acreditou nos meus sonhos mesmo quando estes já haviam sido abandonados por mim, mesmo que eu não possa mais ser um levantador... Meu sonho no vôlei ainda não acabou. Agora eu sei disso. E mesmo se eu fraquejar no caminho, não me resta dúvidas que ele me impedirá de cair.
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Do outro lado da rede *Kagehina*
Fanfiction"E se tudo pelo qual você lutou a vida toda, simplesmente desaparecer em uma fração de segundos e quando você desperta da escuridão, a única coisa em sua mente é uma voz vibrante que grita a cada instante que você nunca mais poderá estar em uma quad...