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Kenma Kozume...

Ficamos um bom tempo  olhando os jogos, já que além do que eu queria outros haviam chegado e não pude conter minha  curiosidade em vê-los. As ruas até que não estão tão cheias como é de costume de um sábado, talvez seja efeito do clima que precede chuva.
     
Quando saímos da loja olho para o céu, coberto por nuvens acinzentadas, não acho que irá demorar muito  para que as primeiras gotas começem a cair.
- Tem certeza de que quer me deixar na estação? - olho para o Yamaguchi que está terminando de tomar um copo de expresso - Eu posso ir sozinho sem problemas- o mesmo nega.
- Está preocupado com a chuva? - assinto com um  meio sorriso.
- Não quero que fique resfriado.
- Meu sistema imunológico não é tão  fraco assim, além disso tenho certeza que a chuva ainda vai demorar um pouco para começar. A estação é aqui do lado, não é problema nenhum te acompanhar até lá - abro um meio sorriso.
- Então vamos - logo começamos a andar em direção a estação.
    
Andamos lado a lado, sempre ficamos perto um do outro para que não sejamos separados pelas pessoas que estão na mesma calçada.
- Kenma- olho para ele que apesar de estar sério, seus olhos parecem sorrir para mim.
- Sim?
- Obrigado por ontem mais uma vez... - abro um meio sorriso e desvio o olhar.
- Você fala como se fosse um favor que eu tenha feito, fez bem para mim falar com você também, portanto, não tem o que me agradecer.
- Sabe... pelo menos tem um lado bom em toda dor - olho para ele que parece pensar antes de falar - Se nada tivesse acontecido então eu não teria me aproximado de você- assinto.
- Tem razão... Eu também não saberia que você faz um ótimo mingau- ele ri.
- Ótimo aquilo? Não tem como errar... é só por leite.
- Não diminui o fato de que estava bom.
    
A essa altura já estamos chegando perto da estação.
- Você tem meu número? - pergunto.
- Eu... acho que não- estico minhas mãos, ele olha para a mesma antes de olhar para meu rosto.
- O que?
- Me dá seu celular, vou salvar meu número- paro perto da entrada da estação encostando na parede, o moreno faz o mesmo parando na minha frente, logo entrega o celular para mim.
    
Rapidamente coloco meu número e entrego novamente o aparelho ao dono.
- Pode me mandar mensagem ou ligar caso precise conversar.
- Posso mandar mensagem apenas para saber como você está então? - olho para ele por alguns segundos antes de abrir um sorriso.
- Claro que pode- desvio o olhar quando os olhos do mesmo parecem me queimar- Vou indo... antes que comece a chover.
- Certo... então, até outro dia - ele me encara sem saber como se despedir, consigo ver a hesitação. Suspiro fundo e dou um passo até ele.
- Até mais Yamaguchi- ele assente e desvia o olhar não posso deixar de dar um sorriso. Ele tem uma natureza gentil e por isso sei que costuma abraçar as pessoas, mas parece pensar muito se isso é o certo nesse momento.

Sorrio mentalmente quando abro os braços, o puxando para os mesmos, de forma natural suas mãos encontram minhas costas, seu calor se junta ao meu por breves instantes levando o gélido clima embora.
- Me avisa quando chegar em casa, ou vou ficar preocupado.
- Preocupado?
- É... ou preciso passar um tempo grande com você para me importar?
     
Sou pego de surpresa por suas palavras. Ele é uma pessoa muito sincera com seus sentimentos, e isso é algo difícil de se ver.
- Acho que não. Já que eu também me preocupo com você - ele me encara e abre um sorriso, sorrio de volta e aceno antes de me virar.
     
Subo as escadas até a bilheteria, tem uma pequena fila. Paro atrás da última pessoa e tiro a carteira do bolso. Uma brisa leve bate em meu rosto e por algum motivo olho para trás, e ele ainda está parado no mesmo lugar me olhando com seus olhos brilhantes.

Tadashi Yamaguchi...

O caminho para casa foi silencioso, mas de forma alguma isso me deixou triste. Parece que os sentimentos ruins foram amenizados de alguma forma, é a mesma coisa de quando caímos e na hora parece que a dor penetra até nossos ossos e continua doendo, até que em um momento de distração a dor subtamente para, e mesmo que volte a doer não parece ter a mesma força de antes.
- Minha chave... - murmuro enquanto tateio meu bolso em busca das chaves, o que era para ser uma tarefa simples, mas devido meu hábito horrível de colocar tudo nos bolsos é um pouco mais complicado. Olho para minhas mãos para ter certeza se o que peguei realmente era a chave, sem parar meus passos pois já estou acostumado com as elevações da minha rua.
- Yamaguchi- paro meus pés mesmo já estando a poucos passos de casa, quando olho para frente vejo a figura familiar vindo em minha direção.
- Se veio falar comigo perdeu seu tempo. Não estou interessado em ver até mesmo sua cara. Tenha um bom dia - continuo a andar quando sinto a mão do Tsukishima segurar meu pulso, engulo em seco. Sempre que ele me toca meu corpo se revira, hoje não é diferente, mas essa agitação não é outra coisa se não repulsa.
- Podemos conversar? - puxo meu pulso de suas mãos e me viro o encarando. Torço para que eu não perca as forças ao falar.
- Não, não podemos.
- Você não me deixou explicar daquela vez...
- O tem para explicar? Suas ações já são claras o suficiente para mim- na agitação das minhas mãos faço com que a chave quase caia de minhas mãos trêmulas. Aperto meus dedos para que ele não note.
- Eu fiquei preocupado ontem porque você saiu daquele jeito.
- Eu não estou com tempo para seu teatro Tsukishima, eu vi o quão preocupado você estava ontem...
- O que te faz pensar que eu não estava? Você deveria me conhecer bem ao ponto...
- Conhecer? - balanço a cabeça em negação - Se eu soubesse o tipo de pessoa que eu tinha ao meu lado, teria sido o único a virar as costas.
- Você fala como se eu fosse uma pessoa horrível, mas eu sei que você passou a noite com o Kenma - seu rosto está avermelhado. Ao ouvir suas palavras tudo subtamente para.
    
Que tipo de pessoa ele acha que eu sou? Sinto o calor queimar em minha garganta, nesse momento uma brisa bate, me dando um ar para respirar.
- Sinceramente? Isso não diz respeito à você mais. Se eu fiquei a noite toda com ele ou não, já não é algo que eu tenha que te contar, por sinal... nada mais que seja sobre mim tem relação com você, isso - dou um passo até ele - Foi escolha sua - não me reconheço ao dizer essas palavras, mas de alguma forma me sinto bem por não ter recuado, como sempre fazia diante de alguém - Inclusive- o interrompo quando o vejo abrir os lábios- Não me importa também se você está ou não com o Kuroo. Espero que seja feliz com sua escolha - viro de costas.
- A gente deveria conversar sério...
- Não. Não tem nada para conversar, a gente acabou, simples assim- olho para ele - Eu não vou te ignorar porque eu sou obrigado a te ver todos os dias, mas isso não quer dizer que quero me reaproximar de você... Se eu não mando você se fuder e corto todos os laços é porque eu tenho uma coisa que te falta, consideração pelas pessoas- abro a porta da minha casa e sem virar para trás falo - Se eu fosse você eu ia para casa antes que comece a chover- bato a porta sem ainda olhar para trás, deixando o loiro para fora. Respiro fundo e fecho os olhos, a dor ardendo em mim.
     
Tento voltar ao meu normal, já que em todo o tempo que falei com ele era como de minha respiração estivesse presa... eu sei que não vou o esquecer da noite para o dia, que essa dor não vai se apagar por completo, mas sinceramente  eu não estou disposto a me perder para esse sentimento.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora