Do outro lado da rede *Kagehina*

~54~

Shoyo Hinata...

Os dias correram um após o outro com certa rapidez, minha rotina de treino permaneceu a mesma. O Kageyama pegou mais pesado e durante três dias o Nishinoya treinou como a gente, e confesso que foi muito difícil conseguir passar por ele, eu sempre fico apaixonado pelas habilidades do moreno, não é porque ele é meu amigo que eu o acho o melhor líbero que já joguei, mas porque realmente suas habilidades estão acima da média. No fim do treino o Asahi ia até nós, conversávamos um pouco e cada um seguia seu caminho.
    
O Kageyama está mais comunicativo nos últimos dias, apesar de não ter dado nenhum passo fora do comum ou que não tenha tido nenhuma aproximação romântica... Eu noto o seu olhar em mim, sua expressão e o sorriso que fica em seus lábios, só esses atos são o suficiente para me manter aquecido e diminuir a ansiedade da espera...
    
Durante os treinos na escola eu noto a aproximação do mesmo com o time, e não posso deixar de me sentir feliz com isso, ele está se integrando a todos, tendo uma amizade especial com o Asahi, imagino que depois que ganharmos ele possa ficar ao nosso lado, participando dos treinos e ajudando também, e cada dia que ele nos ajuda com dicas ou observações é possível notar uma melhora crescente, perceber isso só reforçou a ideia na minha mente de que o legado dele no vôlei ainda não acabou... espero que ele também possa sentir isso em seu peito com a mesma intensidade que queima no meu.
    
Respiro fundo e encaro a tela do meu celular, ainda são nove horas... Não faz muito tempo que me despedi do moreno na quadra do bairro e vim para casa e mesmo assim... olho para o pacote preto lacrado perto da minha bolsa e não posso deixar de sorrir...
- Eu quero vê-lo- tento buscar uma resposta em minha mente, sem saber se fico em casa e engulo esse desejo repentino ou simplesmente vou até ele. - Ah... que se dane - me levanto rapidamente e vou até os cabides perto do guarda roupa, além do uniforme tem um moletom rosa claro pendurado, pego o mesmo e coloco por cima da regata de pano fino que uso para dormir, calço um tênis e pego o pacote preto antes de sair de casa.
    
Eu só quero ver ele e entregar isso ... sei que posso fazer isso amanhã de manhã, mas algo dentro de mim anseia por estar ao seu lado nesse momento, e me torno um mero refém de minhas emoções que cada vez mais se alastram pelo meu ser. Talvez seja isso que acontece quando a chama de uma paixão se funde cada vez mais, com um sentimento muito maior e completo, sentimento esse que se molda com as curvas de um amor indescritível...

Tobio Kageyama...
 
Encaro o vapor que sai da xícara de chá nesse momento, e o leve dançar do líquido quando assopro o mesmo na esperança de esfriar um pouco mais rápido. Paro minhas ações quando escuto batidas na porta.
    
Quem pode ser? Franzo a testa quando me levanto do sofá, deixando a xícara na mesa de centro.
- Já vai - as batidas param quando minha voz soa, paro em frente a porta e  abro a mesma, meu olhar rapidamente parando no par de olhos castanhos que persegue meus sonhos todas as noites- Hinata... aconteceu alguma coisa? - ele apenas nega com um sorriso, poucos fios de seu cabelo alaranjado sai da touca do moletom que ele está usando.
    
Talvez pela brisa gelada que vez ou outra percorre as ruas, as maçãs de seu rosto estão avermelhadas, o que o deixa muito fofo, ao ponto do meu coração se derreter a cada segundo que passa.
- Desculpa vir tão tarde.
- Tudo bem - sem pensar muito levo minha mão até seu braço e o puxo para dentro - Não fica muito tempo parado na porta, está frio- fecho a mesma e quando me viro vejo que ele está parado, me encarando.
- Eu... atrapalhei algo? - seus olhos percorrem a sala enquanto tira os sapatos.
    
Balanço a cabeça em negação como resposta, voltando ao sofá.
- Só estava tomando um chá e lendo, nada demais - escuto o som de seus passos cada vez mais próximos e não muito depois que me sento ele se senta ao meu lado - Mas, aconteceu alguma coisa para você vir aqui?
- Ah... eu só... - ele tira a touca e passa mão em seu cabelo em uma tentativa falha de arrumar, não posso deixar de sorrir com a cena - Eu só estava deitado e lembrei que queria te entregar algo, eu fiquei ansioso e não consegui esperar até amanhã- sem dizer mais nada ele estende em minha direção um pacote preto, que antes estava ao seu lado no braço do sofá.
- O que é isso? - com certa hesitação pego o mesmo, meu olhar sai do pacote para parar no pequeno ao meu lado.
- Bom... - vejo que ele está mexendo as mãos uma nas outras, um sinal de nervosismo pouco visto em suas ações- Você nessas quase duas semanas tem ajudado todo o time e... ficamos muito gratos e resolvermos entregar isso para você - ele sorri levemente - abre.
    
Meu olhar volta para o pacote e lentamente eu tiro a fita que o sela, arrancando por fim a embalagem onde um tecido de uma camiseta com coloração familiar chega aos meus olhos. Engulo em seco.
- Hinata...
- Antes de você falar, deixa eu explicar- olho para ele que sorri- O Sugawara me disse que se fizesse um pedido oficial você não aceitaria de forma alguma, então em nome do time eu fiquei responsável por isso- ele pega a blusa da minha mão e abre a mesma... esse é um uniforme oficial da Karasuno, nas costas tem um número 9 estampado...
- Eu não posso nem mais jogar...
- Isso não quer dizer que você não seja um de nós - ele me interrompe e com uma mão livre pega a minha, seus dedos sobre os meus fazem com que eu segure o uniforme - Eu sei que você me disse que só pensaria em voltar para o vôlei quando eu ganhasse o amistoso - em nenhum momento ele deixa de encarar meus olhos, eu não sei como está minha expressão nesse momento, me pergunto se transparece a tempestade de emoções dentro de mim - Mas o jogo é daqui a dois dias, posso pedir para que seja a primeira partida com você usando esse uniforme? - ele sorri- É um voto de confiança...
    
Meus dedos apertam o tecido em minhas mãos e minha garganta parece queimar. Não respondo, apenas pego a blusa de suas mãos e coloco em meu colo novamente.
- Eu... vou estar com ela - vejo um sorriso largo brilhar em seu rosto- Mas você ainda precisa ganhar.
- Eu vou ... eu prometo- abro um sorriso e desvio o olhar.
- Hinata... obrigado por não desistir de mim - assim que a última palavra sai de meus lábios ele se levanta e se abaixa na minha frente no chão, fazendo com que nossos rostos fiquem bem próximos. Ele olha para mim e sua mente parece estar em outro lugar, quando ele se inclina vejo o pomo de adão subir e descer lentamente.
- Kageyama... - ele se aproxima fazendo minha respiração fundir a sua, sua mão docemente para no lado do meu rosto, seus olhos se fecham assim como os meus quando seus lábios passam superficialmente pelos meus. Minhas mãos trêmulas vão para seus ombros e descem por suas costas até pousar em sua cintura. Em uma respiração entrecortada a distância entre nós se acaba, não sei quem deu o passo final, e já não importa... pois quando sinto a suavidade de seus lábios não há mais nada em minha mente além disso.

O beijo dura mais que o anterior e as paredes da minha casa parecem estar pegando fogo, pois um calor intenso me atinge, incapaz de voltar a realidade eu levo uma mão até meu colo e tiro o uniforme de lá, ainda com os olhos fechados meus dedos se fecham em sua cintura quando o puxo para meus braços, e quando seus lábios ficam entreabertos minha língua encontra a sua.
    
Meu coração está frenético e meu corpo parece tremer, quando o beijo se torna apaixonado, carregado de uma intensa chama acumulada.

A quanto tempo eu anseio por seu sabor?
    
Suas mãos ao redor do meu pescoço, os dedos vez ou outra passam pelos fios de meu cabelo, enquanto eu junto cada vez mais seu corpo no meu. Puxo seu lábio inferior com o dente quando me afasto, respiro fundo e sem me afastar totalmente abro os olhos, um sorriso leve se forma no canto de meus lábios.
- Estou relutante em te deixar sair por aquela porta de novo Hinata- sussurro, seu rosto antes levemente corado se intensifica quando ele me abraça fortemente ainda no meu colo, surpreso eu fecho os olhos e aceito o carinho- Obrigado - sussurro quando o aperto mais em meu ser, não sei se por meus sentimentos ou pela realidade , nesse momento eu me sinto leve.