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Tadashi Yamaguchi...

Sinto a grama passando pelo meu pescoço nu, a sensação não é de todo ruim, para ser sincero me traz até que certa paz. Quando saímos do entorno do restaurante andamos por não muito tempo até chegar em um parque, que no momento só tem pessoas correndo na pista não muito longe de onde estamos, e mesmo assim o fluxo de pessoas é extremamente baixo, o que é incomum para uma plena noite de sexta-feira.
    
O clima esfriou um pouco, por sorte estou com uma blusa de manga, assim como a pessoa sentada ao meu lado. Olho para o mesmo que permanece com as mãos no bolso enquanto encara algum ponto qualquer.
    
Sabe... nunca fui muito próximo do Kenma, creio que jamais tivemos uma longa conversa sozinhos, apenas as vezes que nos esbarravamos por aí trocávamos cumprimentos sem grande valor antes de retomar nosso próprio caminho, talvez por isso eu não saiba o que dizer no momento, muito menos sei explicar o porquê de ter saído de lá com ele... talvez porque seu olhar perdido me revela traços de uma dor que vivo neste momento também, são por razões diferentes e histórias diferentes, mas um coração partido continua sendo um coração partido, independentemente do que o fez se quebrar.
    
Respiro fundo quando me levanto da grama, passo a mão pela minha blusa tirando as gramas antes de me sentar ao lado do loiro, que não me olha mas tira as mãos do bolso.
- Ele é uma boa pessoa? - sua voz sai baixa, quase como se a pergunta fosse um pensamento que escapou.
- O Kageyama? - o mesmo assente ainda sem me olhar- Bom... ele é- olho para um ponto qualquer também e junto uma mão na outra na esperança de se aquecerem - Ele faz o Hinata feliz se é isso que você queria saber- falo com um pouco de hesitação e depois de um segundo de silêncio escuto uma risada baixa que me faz olhar para o Kenma.

Seu lado direito pode ser visto claramente, os olhos cerrados com o curvar dos lábios, os dentes como pérolas contrastam com a pele clara, que no momento tem traços rosados pelos abraços do vento.
- Isso é bom - sua voz sai terna e com linhas melancólicas perdidas no vento - Fico feliz em saber disso, não aceitaria ver o Hinata sofrer...  isso seria bem pior do que o ver ir - desvio meu olhar para o entorno, sinto que se o olhar diretamente seus lábios vão se calar - Eu sabia que era um tipo de amor unilateral, não é como se fosse uma surpresa ver ele com outra pessoa... mesmo que demore um pouco para eu me acostumar com a sensação de ver isso acontecer... vale a pena, porque eu vi o jeito que eles se olham, sei que ele está feliz.
    
Olho para o céu que está limpo, duas estrelas solitárias distantes uma da outra brilham, quase não se dá para notar elas ali... pois a lua em seu esplendor rouba toda a atenção.
- O céu... está vazio - o Kenma olha para mim confuso com minhas palavras desconexas.
- Hã? - seus olhos se fixam acima de nós - Está mesmo.
- Tá vendo aquelas duas estrelas? Longe uma da outra?
- Não... - o vejo estreitar os olhos e o varrer na imensidão em busca das estrelas - Ah, as vejo agora.
    
Engulo em seco.
- Somos como essas estrelas...

Kenma Kozume...

Olho para a pessoa ao meu lado confuso, sem entender em que ponto o mesmo está querendo chegar.
- O que quer dizer com isso?
- Eu ainda brilho... Mas a pessoa que eu jurava me amar ao olhar para o céu só vê a lua, enquanto eu brilho distante, incapaz de trazer o seu olhar de volta- ele termina de falar e me olha com um sorriso leve que faz meu peito doer... posso ver a dor queimar nas lágrimas presas - Você é assim também não é? - ele sorri para mim por alguns segundos - Mas isso não quer dizer que você não brilhe... a estrela irradia sua própria luz e por mais que distante é linda. Alguém vai olhar para o céu em dado momento e vai se encantar por esse brilho distante... mesmo que a lua ainda esteja lá- ele sussurra a última palavra, seu olhar puro crava nos meus.
   
Não sei o que dizer... apenas o observo em silêncio, suas palavras ecoando na minha cabeça, vejo seus fios castanhos voarem ao vento como se estivessem dançando.
- Essa é sua forma de me dar esperança? - ele nega.
- É a forma de me animar também. É mais fácil ser positivo para os outros do que consigo mesmo, mas dizendo assim eu até que posso me sentir melhor... - ele diz me fazendo travar com suas palavras. Engulo em seco.
- Você não está bravo por eu não ter lhe dito sobre...
- Não - ele se apressa em dizer- Mesmo que você sabia sobre o Kuroo e o Tsukishima não era sua obrigação me contar... ocultar o passado foi uma escolha dele, e ir até o passado novamente também foi. Isso não tem relação com você, se for para culpar alguém... só resta duas pessoas não é?
   
O encaro e por algum motivo sinto que ele está o incluindo nessas "duas pessoas".
- Você mesmo disse que a escolha foi dele... Isso não tem relação com você- ele me encara com os olhos brilhando- Quem deveria estar com lágrimas nos olhos era ele... não você Yamaguchi. As pessoas são donas de suas escolhas, e isso não iria mudar se você tivesse feito algo diferente, principalmente se tudo que você fez foi algo bom.
   
Ele fica em silêncio.
- Eu posso ter errado em algum lugar.
- Quem não erra? - quando me aproximo do mesmo com um leve movimento vejo uma lágrima cair timidamente de seus olhos, levanto minhas mãos que estavam parcialmente cobertas pela manga do moletom e sem hesitar, deixo sua lágrima cair no meu dedo, pousando levemente em sua pele gélida. Seus olhos param nos meus e abro um sorriso sem mostrar os dentes, ele sorri de volta enquanto retraio a mão.
    
Nesse momento uma brisa passa por nós, e no silêncio interrompido apenas pelo farfalhar das folhas ao nosso redor, sinto que parte do meu peso foi levado embora com o vento, e uma calmaria se instala em mim... tão estranhamente e repentinamente que não sei processar o que ocorreu.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora