~77~

2.2K 306 70
                                    

Shoyo Hinata...

Continuo olhando a rua apoiado na janela, a noite já avançou e faz mais de  três horas que o Kageyama foi para casa, por sorte a chuva havia parado e não teve necessidade de pedir um carro por aplicativo. Suspiro para o vento em descontentamento. Apesar de termos passado o dia inteiro juntos eu ainda queria que ele estivesse aqui, a saudade bate mesmo não tendo passado muito tempo que senti seu calor ao meu.
    
Pego a lata de refrigerante que está encostada e mexo a mesma em minhas mãos, o conteúdo já está na metade, levo a mesma até meus lábios tomando um pouco antes de colocar novamente no local inicial. Meu olhar lentamente se volta para a solidão da rua quando escuto meu celular tocar.
    
Corro até o mesmo e vejo "mãe" estampado na tela, é uma chamada de vídeo. Atendo enquanto ando até a janela.

- Hinata? - abro um sorriso ao ver seu rosto, os cabelos alaranjados estão presos em um coque soltinho, apenas dois fios solitários caem por sua pele de jade.
- Boa noite mãe- ela sorri.
- Como você está?
- Bem ... com saudade de casa. Como estão as coisas por aí?
- Calmo como sempre. Quando você vai vir?
    
Paro um pouco para pensar, faz mais de um mês que não volto para casa.
- Vou ver se saio daqui nesta sexta a tarde, passo o fim de semana com vocês- vejo ela assentir.
- O Nishinoya vai vir também? - dou de ombros.
- Não faço ideia, mas vou ver com ele.
- Certo...
- Mãe... posso levar uma pessoa para você conhecer?
    
Vejo ela me encarar através da tela.
- Você parece tão tímido- rio sentindo minhas bochechas corarem, ela sempre é tão perspicaz - É sua namorada?
- Namorada do Hinata? - uma voz fofa e alta surge logo vejo a Natsu.
- Oi - abro um sorriso - Como você está pequena?
- Que namorada? - ignorando totalmente minha pergunta ela começa a me bombardear com perguntas.
- Calma - falo rindo - Eu vou levar ele para você conhecer- no momento que falo vejo a expressão de surpresa passar pelo rosto da minha mãe que está atrás da Natsu.
- Qual o nome da pessoa?
    
Meu coração se acelera um pouco e dou um meio sorriso.
- Tobio Kageyama... mãe - ela olha ao redor e sorri.
- Depois me diz o que ele gosta de comer, para que ele seja bem recebido - o sorriso em meu rosto se torna largo, e um alívio percorre meu corpo.
    
Não que eu tivesse dúvidas de que ela me aceitaria, mas ter plena certeza disso é uma sensação inimaginável.
- Vou perguntar para ele.
- Ele é bonito? - a voz da Natsu me atinge, assinto sem pensar duas vezes.
- Muito bonito.
     
Passo mais um tempo falando com as duas, minha irmãzinha toma toda a atenção pois não para de falar nem por um mísero segundo, só para quando minha mãe a obriga a ir tomar banho. Ver as duas faz meu peito doer de saudade de casa, morar sozinho aqui é bem diferente de lá. É um lugar pacífico de modo geral, uma cidade pequena como milhares de outras, não se compara as grandes capitais, mas tem uma sensação de aconchego que eu não encontraria em nenhum outro lugar do mundo.
     
Minha mãe se despede de mim, mas quando ela está prestes a desligar eu a chamo.
- Obrigado.
- Pelo o que está me agradecendo?
- Você sabe... por aceitar.
- Hinata, eu não tenho que aceitar o que você é. Não faz diferença se a pessoa ao seu lado é um homem ou uma mulher. Você gosta dele? - assinto.
- Ele gosta de você?
- Acho que sim - digo com um sorriso.
- Então não tem motivos para que eu não o aceite na nossa família.
      
Termino de me despedir dela antes de desligar. Meu maxilar doe de tanto que estou sorrindo. Fecho os olhos e sinto a brisa do vento beijar meu rosto... estou tão leve que é como se eu estivesse voando junto com as pequenas folhas trazidas com o vento.

Tobio Kageyama...

Encaro as páginas do livro, estico minhas mãos para pegar a xícara enquanto meus olhos passam pelas linhas de "O Homem mais inteligente da história", um livro realmente interessante.
     
Sem desviar os olhos tomo um pouco do chá que percebo já ter esfriado. Eu sempre faço isso, esqueço que peguei algo quando estou lendo e no momento que vou tomar o líquido já esfriou.
    
Suspiro pesadamente enquanto devolvo a xícara para a cômoda do lado da minha cama. Pego o marca páginas e coloco no livro antes de fechar o mesmo. No silêncio do quarto lembro do dia de hoje, como se estivesse vivendo cada momento novamente, convertendo horas em um único sentimento... Amor.
    
Não tem como ser outra coisa, sempre que o Hinata aparece na minha mente é associado aos mais belos sentimentos. É uma sensação de olhar para alguém e não ver dúvidas, é como se ele fosse a certeza que meu coração precisava para se entregar. Uma junção de tudo aquilo que eu sempre quis sem saber que queria, ainda mais milhares de coisas que eu só soube que existiam quando o conheci. Nada se compara a essa pressão que meu peito sente, o amor que transborda, o desejo que deturpa, a saudade que aperta por estar longe de seu corpo.
    
Hoje, parece que o mundo inteiro é uma relação a ele... Quando preso em uma noite de sono, parece que minha alma vaga até seu encontro, penso na memória vívida de seu rosto até pegar no sono, e em meus sonhos ele está lá ao meu lado.
    
Sou um fracasso em não pensar nele, em não me apaixonar todos os dias como se fosse um sentimento novo, um ciclo vicioso de renascimento.
    
Abro um doce sorriso encarando a parede do quarto, sinto meu peito pulsar apenas de pensar sobre isso. Realmente preocupante.
    
Por ironia do destino, vejo a tela do meu celular ligar pelo canto dos olhos, pego o mesmo.

Hinata:
   Estou indo dormir... tenha uma boa noite de sono Kageyama.

Hinata:
   Obrigado por passar o dia ao meu lado.

Abro um sorriso enquanto o respondo.
   
                                        Eu:
                           Boa noite. Tenha bons sonhos. Sinceramente, eu passaria todos os dias ao seu lado sem problema algum.

Noto que ele visualizou e quando começa a digitar eu desvio o olhar com o rosto corado por minhas próprias palavras. Não me reconheço mais nesses momentos.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora