Tobio Kageyama...
Eu ouvi direito? Engulo em seco e meu coração se acelera.
- Você consegue não é? - sinto o olhar de todos em mim, mesmo o do Sugawara que neste momento está recebendo os cuidados do professor Takeda.
- Eu... - sinto dedos calorosos apertarem os meus, meu olhar se desvia parando nas mãos que reconheceria mesmo que estivesse longe.
- Ele consegue- olho para o Hinata que me encara com os profundos olhos castanhos, que parecem cintilar neste momento.
- Ótimo... então vamos retomar- o Keishin diz e logo se vira assentindo para o calouro que está cuidando do placar, o mesmo corre e diz algo para o treinador do Nekoma.
- Mas o Sugawara... - o Daichi começa a falar mas para no momento que o acinzentado sorri.
- Pode ir... Eu só torci o pulso e você age como se eu tivesse perdido o braço- seu tom de brincadeira acaba diminuindo a tensão de todos, até mesmo a minha que está no auge.
- Certo... - o capitão dá passos leves até o banco e se abaixa dando um beijo rápido no acinzentado... saindo logo em seguida calmamente voltando para a quadra, deixando os seres completamente surpresos para trás.
- O que acabou de acontecer? - a voz do Tanaka soa.
- Não faço a mínima ideia- o Yamaguchi responde.
- Eu. Já. Sabia- o Asahi diz pausadamente enquanto caminha com certo ar de superioridade, ignorando o bombardeio de perguntas que o cercam, perguntas essas que nem consigo entender direito... meus pés caminham junto aos do Hinata, sendo guiado por sua mão me causando a sensação de estar pairando...
Eu realmente consigo fazer isso?
- Ei- olho para o alaranjado que me lança um meio sorriso - Você sabe que consegue.
Tento sorrir mas parece que meus lábios não se movem.
Não sei explicar o que estou sentindo nesse momento... é a primeira vez que volto para um jogo desde o acidente. É uma mistura de tantas coisas em meu peito que tudo se torna um emaranhado de sentimentos, incapaz de serem explicados com precisão.
Consigo compreender cada coisa que ocorre ao meu redor... os jogadores se posicionando de ambos os lados, as mãos levemente trêmulas do pequeno garoto cuidando do placar manual a uma distância considerável, até mesmo posso imaginar o que o jogador que fez o saque inicial deve ter sentido no momento que jogou a bola ao soar do apito. Toda essa ação não dura mais que poucos segundos, e consigo absorver tudo, e ainda assim sou incapaz de compreender o que se passa dentro de mim.
Que tipo de expressão eu devo estar fazendo agora?
Como uma ave fixando sua presa, noto quando a bola passa pela rede, escuto seu tilintar nos braços do Nishinoya.
- Kageyama- a voz do Hinata soa e olho para cima, a bola está se aproximando... sua sombra caindo nos azuis de meus olhos, se aproximando quase mergulhando no profundo oceano de meu interior...
Agora!
Meus pés se flexionam e salto, a bola veio em uma curva, meu corpo se inclina no ar quase parando quando salto, os fios negros do meu cabelo demoram a cair.
- Asahi- grito e no momento que o faço eu sei que ele já está lá.
E essa sensação volta para mim...
O vento
O ar
A bola passando por meus dedos ...
Essa sensação
De...
Estar vivo
Enquanto meu corpo cai o ace está voando como se tivesse asas de aço, sua força incomparável faz um estrondo ao colidir com a bola, que passa pelo bloqueio lento demais, pois apesar de cada segundo parecer ter passado em câmera lenta, foi rápido... mais rápido do que jamais foi feito por minhas mãos. Quando meus pés pousam no chão, escuto o som da bola marcando mais um ponto para a Karasuno.
Levanto meu rosto e só então noto que estou sorrindo... O silêncio cai pelo ambiente e posso ouvir o objeto quicar no chão.
- KAGEYAMA- a voz vibrante do Nishinoya misturada com a do Hinata soa, olho para trás e vejo que todos estão comemorando. E meu coração incapaz de estar calmo se acelera...
Viro meu rosto para o outro lado da rede, e encaro os olhos surpresos dos jogadores... O largo sorriso é substituído por um curvar... Eu estava com saudade desse tipo de olhar... mais quatro pontos.Shoyo Hinata...
Não é incrível como alguém consegue transformar uma simples ação em uma arte? É exatamente isso que pensei ao ver o Kageyama em ação pela primeira vez. Agora eu entendo a sensação que ele sente ao dizer que foi feito para ser levantador... ele leva isso para outro patamar.
O silêncio que se teve por segundos é a prova disso. E essa surpresa pegou todos desprevenidos, o Nekoma sentiu a urgência de vencer antes que algo mais extraordinário aconteça.
A partida fica mais frenética e o Nekoma pontua mais uma vez, o bloqueio do Tsukishima devolveu o ataque não muito depois, logo foi a vez do Daichi pontuar e estamos a apenas dois pontos da vitória.
Observo a bola se aproximar do Kageyama que parece estar totalmente concentrado, quando seus olhos se desviam por um segundo e para nos meus eu entendo que preciso correr. E assim o faço.
Corro o máximo que posso, vejo os bloqueadores centrais do Nekoma correrem também. Observo as mãos levemente curvadas do Kageyama... outro lado. Meu sorriso se alarga quando salto na direção oposta do bloqueio, bem no centro... uma posição arriscada... e enquanto sinto o vento em meu rosto fecho os olhos com a mão pronta, pois eu sei que no momento certo ela estará aonde deveria estar.
E a sinto... A queimação passa por minha palma e abro os olhos ao descer, e vejo em flash a bola bater com força exatamente no meio da quadra. Assim que pouso no chão sou envolvido por braços familiares ao som da comemoração.Tobio Kageyama...
Mais um ponto.... mais um ponto... mais um.
Já não sei o quanto repeti isso em minha cabeça desde que minha perna deu sinais de fraquejar... Mas eu sei que não posso falhar, mesmo que isso signifique levar meu corpo ao limite. Uma vez que piso na quadra não há em nenhum momento a possibilidade de voltar atrás um passo que seja.
Nesse momento o suor escorre por meu corpo, o calor me domina, meus pulsos estão vermelhos por salvar a bola algumas vezes. Nenhum de nós está disposto a ir para o desempate, e por isso o Nishinoya também está dando seu máximo... de longe observo sua habilidade felina de reflexos e fico sem saber o que pensar... ele é incrível.
O Hinata melhorou demais também, e consegue salvar a bola sem grandes problemas. Mas por outro lado o Nekoma está cada vez mais forte em suas investidas e a cada segundo que passa sei que essa partida não deve se prolongar mais.
Vejo a bola se aproximar, com uma manchete a jogo por cima da rede, observo sua descida... meu coração se acelera, quando um punho fechado surge a levantando, o Kenma a joga com destreza para o Kuroo que em um salto a corta no ar, a bola é desviada do chão pelo Nishinoya que a joga para mim, nesse momento o Hinata sai de seu lugar e corre junto a bola, no momento que chega até mim o alaranjado já está na rede, um salto e a jogo, seus dedos batem em uma velocidade incrível que me deixa incapaz de respirar, vejo ela ir até a linha de fundo, quando o líbero se joga e bate de cara no chão, mas ainda consegue mandar a bola para frente. A mesma é recebida com destreza e um um sorriso de escárnio se forma nos lábios do jogador que parece me encarar, vejo ele saltar.... mirando no centro.
- Hinata - grito enquanto corro para o centro, olho para ele uma última vez antes de saltar, seu corpo sobe em sincronia com o meu. Seus braços esticados, a lateral de sua mão direita encostando na minha esquerda, e antes que nossos corpos desçam sinto metade da bola queimar em minha mão, sabendo que a outra metade arde nas mãos do alaranjado, e enquanto meus olhos passam pela rede, observo a tentativa falha de a salvar, e quando caio no chão incapaz de sustentar meu próprio corpo, escuto o som da bola batendo no chão e um estrondo de gritos de comemoração...~♡ ~
Passando só para me desculpar caso os capítulos não tenham ficado muito detalhados. Eu não sou muito boa em escrever cenas de jogo ... Mas espero que tenha sido de fácil compreensão ao menos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Do outro lado da rede *Kagehina*
Fanfiction"E se tudo pelo qual você lutou a vida toda, simplesmente desaparecer em uma fração de segundos e quando você desperta da escuridão, a única coisa em sua mente é uma voz vibrante que grita a cada instante que você nunca mais poderá estar em uma quad...