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Tobio Kageyama...

O mundo parece ter parado, no momento que o par de olhos castanhos brilhantes encontram meu olhar, se conectando tão profundamente a ele, ao ponto de meu ser se sentir explorado, como se minha alma nua estivesse diante do pequeno garoto de cabelos alaranjados.
 
Engulo em seco, com a dor latejante na perna percorrendo meu corpo, e uma lágrima solitária sem aviso prévio escorre pelo meu rosto... não sei como parei nesta situação patética.
  
Meu peito parece arder, queimar como se uma grande chama fosse acesa em meu coração, uma dor tão profunda que me faz ceder... me faz arder em minha própria agonia convertida em lágrimas presas na minha garganta em uma respiração entrecortada. Eu quero apenas ficar aqui nesta quadra decadente e chorar...
  
É um daqueles momentos que todos os sentimentos parecem vazar do meu interior e escorrem pelo meu corpo... vez ou outra essa sensação me abatia, quando estava em meu quarto em Tóquio, encarando as paredes repletas de fotos dos meus jogos, os troféus empilhados em uma estante perfeitamente limpa, memórias doces que se tornavam melancólicas e dolorosas, fragmentos de um sonho perdido e incapaz de ser restaurado novamente...
- Você está bem? - a voz do alaranjado me faz redobrar a consciência. Rapidamente desvio o olhar e passo o braço em meu rosto limpando os rastros da lágrima indevida.
- Eu estou bem- mexo meu corpo para que ele solte seu braço que me rodeia, mas sinto seus dedos me apertarem mais firmemente - Eu disse que estou... - me viro mas ele olha para a minha perna, a mão passando na mesma dando leve apertos. Inevitavelmente fecho os olhos quando ele massageia superficialmente minha câimbra...onde está minha cicatriz causada pelo acidente.
- Está doendo muito? - encaro seu rosto iluminado pelo poste de luz, os cabelos desordenados fazem sombra em seu rosto branco, adornado por um par de olhos castanhos que fazem um sinuoso caminho até lábios bem desenhados e seu fino nariz, que está em perfeita harmonia com o resto de seu rosto. Abro a boca mas não sai nenhum som. -  Me diz se estiver doendo muito ok? - ele não olha para meu rosto, mas nem preciso olhar em seus olhos para notar a entonação preocupada.
 
Por que ele está tão preocupado comigo? Nem ao menos nos conhecemos.
- Você pode me soltar- bruscamente arrasto meu corpo para longe de seus braços, sem ainda sair do chão- Disse que estou bem.
- O que você vai fazer com todo esse orgulho? - ele me encara firmemente, sem desviar o olhar ou mostrar hesitação.
- Eu não preciso da sua ajuda - fecho os olhos e escuto o som do mesmo se levantando... minhas mãos tentam buscar apoio no chão e me levanto, com a perna direita levemente erguida, me ponho de pé e meu olhar para na sacola a poucos centímetros de distância... Droga. Me viro, e meu pé acidentalmente pousa no chão, fazendo um choque percorrer minha perna. Sinto meu corpo balançar, e tombar para frente, fecho os olhos esperando o impacto...
- Eu acho que você precisa da minha ajuda - mãos quentes e firmes rodeiam minha cintura, me impedindo de cair, abro os olhos os direcionando até a voz que soa ao meu lado.
   
O garoto a qual não lembro o nome, abre um largo sorriso e sem me soltar por um segundo que seja, anda lentamente até a sacola e se abaixa pegando a mesma. Apesar da gritante diferença de altura, ele não parece ter dificuldades em me segurar.
- Por favor me deixe te ajudar.
- Eu não preciso de pena - falo com os dentes cerrados, o mesmo não parece se abalar pelas minhas palavras.
- Ótimo. Porque em nenhum momento eu disse que sinto pena de você, eu estou te ajudando como ajudaria qualquer pessoa na mesma situação... não tem nada de especial nisso.
 
Ele me aperta mais em seu braço.
- Você está muito longe de casa? - ele olha ao redor como se buscasse uma direção a seguir.
 
Permaneço em silêncio. Eu só quero me desvencilhar de seus braços e ir para casa sozinho, chegar e me jogar na cama esperando que tudo passe quando eu fechar os olhos... mas estou em uma posição de impotência, não consigo sequer dar alguns passos sem quase cair no chão. Fecho os olhos e tombo minha cabeça para trás, no exato momento que uma ventania bate em meu rosto, fazendo meu cabelo voar. Respiro fundo e tento me manter calmo, para que as lágrimas não caiam. Me sinto miserável.
- Kageyama, acho que vai chover... se você não me dizer onde mora irei te levar para minha casa.
- Me deixa em paz... - as palavras saem em um sussuro quase inaudível, não tenho certeza se ele ouviu mas o mesmo dá um passo leve - Para onde você está indo?
 
Ele não diz nada apenas segue me segurando firmemente, dando vários passos. Tento me soltar mas é em vão.
- Se você se mexer muito vai cair.
- Porra, para onde você está me levando?
 
Ele abre um sorriso, sem parar de andar, a essa altura já estamos virando a rua.
- Já estamos chegando na minha casa.
- Eu não quero. Me solta - ele ri.
- Você que não quis dizer para que direção era sua casa...- sua voz é calma e leve - Depois que cuidarmos da sua perna você pode ir...
  
Apesar dos meus protestos ele não diz mais nada, apenas continua andando, até que eu mesmo me canso de falar, ele não parece ter indícios que irá mudar de ideia.
  
Eu queria conseguir ir para casa sozinho, mas nem mesmo meu corpo me responde. Ele está fraco pelas comidas prontas que tenho consumido nesta última semana, eu andei demais também hoje e ainda me esforcei dando aquele salto... O mesmo que antes parecia tão simples para mim..
  
Mais cedo eu havia saído de casa para comprar as coisas para a janta e o café da manhã de amanhã, como já virou um hábito diário. Mas decidi fazer um caminho diferente para retornar, foi quando vi a quadra a distância... tinha algumas crianças brincando na mesma. Instintivamente me aproximei, mas as crianças já estavam correndo para uma direção oposta, meus olhos encontraram uma bola de vôlei perdida em um dos cantos...
  
Eu... Eu só pensei que eu poderia mais uma vez sentir aquela adrenalina, a chama em meu peito se acender novamente... mas...
  
Sinto algo molhado em meu rosto, levanto o olhar e vejo que as primeiras gotas de chuva passam a cair... mais uma sensação de seu toque, mas dessa vez é quente, abro um sorriso leve...

Droga... estou chorando de novo.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora