~19~

3K 421 97
                                    

Tobio Kageyama...

Meus olhos ficaram o tempo todo se intercalando entre os jogadores, até que o capitão disse para que todos fossem treinar. Meus olhos se fixaram no Hinata, que foi junto do Asahi.
  
Olhar todos me traz uma estranha sensação de familiaridade, que logo se transforma em uma melancolia sufocante. Me traz de volta os dias em que eu também podia ficar o dia inteiro treinando, sem parar depois de sete minutos porque minha perna já não pode sustentar o peso de meu próprio corpo. Suspiro longamente e sou levado pelas memórias mais ocultas, do meu antigo time.
  
O capitão era bem receptivo e caloroso, mas conseguia exigir o melhor de todos nós, por causa dele eu alcancei meu auge em quadra, meu desempenho nos jogos melhoram muito quando me instalei naquela escola, aprendi a lidar com todos os outros jogadores e entender que a unidade é importante, mas o conjunto é essencial na mesma medida... além de melhorar minha habilidades, consegui diminuir minha arrogância que sempre me dominou, mesmo que eu não me orgulhasse disso em qualquer situação que seja.
    
As memórias parecem se escurecer a medida que retorno a realidade. Escuto o som das bolas batendo no chão a cada instante, e esse som se repete inúmeras vezes na minha cabeça, minha mente parece girar e as coisas aos poucos ficam turvas...
  
Me curvo para frente e fecho os olhos, sinto uma mão em meu ombro.
- Kageyama?
- Estou bem... - afasto a mão da Shimizu - Eu só... - tateio minha mão ao meu lado até que meus dedos tocam a bolsa superficialmente, pego a mesma - Preciso de um ar... - me levanto rapidamente, mas minha perna parece fraca, ou talvez não passe de uma leve impressão, é como se o chão estivesse me puxando para baixo.
- Hinata- uma voz alta grita e ecoa por todos os cantos, atingindo até mesmo minha agonia. Olho para a voz, o menino de cabelo acinzentados manda a bola para a rede... entendi, ele é levantador...
- Kageyama - sinto uma mão me segurar pela cintura - Senta.
  
Me deixo ser levado para o banco novamente, mas não consigo tirar meus olhos do Hinata, ele está sorrindo, largamente enquanto corre em direção a rede, seus pés se flexionam no tempo exato e logo ele pula... seu corpo iluminado pela luz se torna uma silhueta exuberante, seus dedos ágeis manda a bola para o outro lado da quadra, sem chance para o receptor conseguir impedir que a mesma bata no chão...
  
Seu pequeno corpo parece pairar no ar, como se ele tivesse asas, quando ele pousa no chão com o rosto levemente avermelhado, meu coração se acelera, a Shimizu me pergunta algo mas eu não escuto... levo minha mão até meu peito, que bate como um louco, meu corpo parece estar quente... ah, eu entendo... essa sensação...
- Você viu isso? - o alaranjado comemora animadamente com o Nishinoya.
  
Essa sensação em mim agora... é a mesma de quando eu estava em jogo, é como se uma chama ardesse em meu peito... É como se... se eu tivese voltado a vida.

Shoyo Hinata...

Quando saímos da quadra notei que o Kageyama estava com o olhar perdido, como se algo tivesse acontecido, mas não tive tempo de perguntar pois logo o Tanaka estava pendurado em meu pescoço e nos chamou para ir com todos comer alguma coisa. Eu achei uma ótima ideia, pois assim o Kageyama poderia conversar mais intimamente com eles, mas quando olhei no moreno em busca de uma resposta, o mesmo estava encarando fixamente os próprios pés, preso em seu próprio mundo. Suspiro brevemente.
- Eu... estou muito cansado, não dormi direito ontem, então acho que passo.
- Tem certeza? - assinto.
- Nós vemos amanhã.
- Hm... - ele tira os braços do meu pescoço- Então, até amanhã Hinata- ele olha para o Kageyama - Ei- o mesmo levanta o olhar- Vê se aparece mais vezes, não tivemos tempo de nos conhecer.
- Eu virei.
  
Quando o Tanaka olha para trás, todos já estavam em uma certa distância.
- Malditos, me esperem- ele vai correndo em direção ao grupo, acompanho com o olhar ele correr e pular no Nishinoya que reclama. Rio.
- Eles são doidos.
- É - olho para o Kageyama que já se virou para começar a andar - Vamos?
  
Atravessamos o portão da escola e em poucos segundos já estávamos quase chegando em uma bifurcação próximo a passarela que fica a menos de dez metros da escola.
- Está com fome? - o mesmo apenas assente com a cabeça- Tem um lugar em mente para comermos?
- Sim.
  
Espero ele falar o local, mas nada sai de seus lábios. Entendo isso como um "apenas me siga sem mais perguntas", e assim o faço.
  
Em pouco tempo que conheço esse cara, notei que ele tende a ser um pouco peculiar em determinados momentos. Eu nunca sei o que se passa em sua mente, e devo aprender a lidar com minhas dúvidas, pois sei que de seus lábios eu não terei nada além do silêncio.
 
Vejo ele virar em uma rua que pouco andei, não faço ideia para onde ele está me levanto.
- Ei Kageyama aonde vamos? - ele me ignora por completo, nem sequer olha para mim.
- Sabe, você não vai perder a língua se me responder... - derrepente ele para em frente à uma pequena farmácia.
- Eu já volto- vejo ele entrar na mesma e ir direto para um dos corredores de ataduras.
  
Ele está machucado? Tento ver as coisas que ele está pondo na pequena cesta em suas mãos, mas o vidro cheio de cartazes de promoções ou propaganda torna essa tarefa algo impossível. Volto a ver sua silhueta quando ele para no balcão e poucos momentos depois sai com cerca de duas sacolas.
- Você está machucado? - olho para ele tentando encontrar qualquer coisa diferente em seu corpo.
- Não... Vamos.
    
Ele para em frente à calçada e olha para os lados para atravessar a rua. Noto que o farol está aberto para os veículos, mas o mais próximo está um pouco longe de onde estamos. O Kageyama sai da calçada e dá um passo quando para abruptamente, ele olha para trás e seu olhar se conecta ao meu por alguns segundos, sem dizer nada ele leva suas mãos até meu pulso e firmemente me puxa para atravessar a rua com ele.
- Você está doido?
- Está aberto.
- Sim, para os carros idiota.
- Para os pedestres- ele aponta para frente, vejo que nesse pouco tempo o sinal abriu realmente para nós. Ele suspira e continua a andar.
   
Olho para baixo onde seus dedos estão presos, e mesmo que o clima não esteja quente, o local tocado pelo Kageyama queima e uma onda de eletricidade parece percorrer meu corpo. Quando chegamos do outro lado da rua ele solta meu braço, e a sensação tão única me abandona...
- Kageyamaaaa- ele para e olha para trás.
- O que foi agora?
- Para onde estamos indo?
- Você acha que é único que pode arrastar as pessoas por aí?
    
Memórias vagas do dia que o levei para minha casa aparecem na minha mente, abro um sorriso.
- Não sabia que era vingativo.
  
Ele sorri levemente, apenas um leve curvar em seus lábios faz o mundo rodar devagar... Eu perco as palavras e apenas fico em silêncio, absorvendo cada detalhe desse raro momento.
- Estamos indo para minha casa.
- Hã? - essas palavras me tiram do transe- Sua casa?

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora