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Shoyo Hinata...

A manhã se passou rapidamente, não tive muito tempo para falar com o Kageyama, mas mesmo enquanto o professor explicava a matéria, algo em mim me mantinha preso fixamente na pessoa do outro lado da sala, ele estava sonolento, mais que o comum, e por diversas vezes o vi cair em seus próprios braços durante as aulas. Não pude deixar de sorrir com a cena que se repetia, ou o leve bocejo que saia de seus lábios perfeitamente desenhados de vez em sempre, seus olhos quase se fechavam... No fim da aula sai rapidamente pois o treinador possivelmente já havia chegado, e o Kageyama saiu antes mesmo de mim, acredito que ansioso para chegar em casa e poder descansar.
    
O Tsukishima ainda está se trocando, pois ele sempre espera pelo Yamaguchi antes de se arrumar. Eu já estou a caminho da quadra, quando vejo uma figura familiar que está parada, seus cabelos desordenados parecem brilhar com o sol, e a fumaça ao seu redor me faz ter plena certeza de quem se trata.
- Ainda não parou com esse hábito horrível? - ele olha para trás e me encara com o meio sorriso, ele tira o cigarro de seus lábios e a fumaça sai de sua boca entreaberta.
- É assim que você demonstra respeito pelo seu treinador? - rio.
- Mil desculpas- me curvo e faço um cumprimento formal, quando escuto seus passos e logo suas mãos passam pelo meu cabelo.
- Você parece ter diminuído - quando levanto o olhar ele me encara com um sorriso irritante de provocação- Vamos entrar.
   
Ele faz menção de começar a andar e eu o sigo, quando escutamos som de passos próximos e olhamos na direção do som, apenas para constatar que se tratava do Tsuki, Yamaguchi e Sugawara. Os três cumprimentam o treinador Keishin antes de entrarmos na quadra, onde o resto do time já estava nos esperando.
- Vamos nos organizar para ouvir o Treinador - o Daichi diz e todos no mesmo momento sentam no chão, em linhas quase organizadas.
   
O Keishin sorri antes de parar em nossa frente, o cigarro já fora apagado a algum tempo, e jogado na lixeira mais próxima da entrada.
- Bom, o Daichi já deve ter falado para todos como estão os planos de treinamento para esse primeiro momento- o sorriso nesse momento é substituído por uma expressão seria que poderia até gerar arrepios, é como se ele se tornasse outra pessoa quando estava falando sobre o time - Eu reasisti os jogos que tivemos ano passado, inclusive a derrota que sofremos contra o Nekoma, pude analisar os pontos em que tivemos falhas, todos eles foram passados para a Shimizu - ele olha para ela por alguns segundos antes de prosseguir- Nosso objetivo além de buscar o aprimoramento individual é fazer com que essa melhora seja refletida no coletivo também.
   
O Daichi que estava ao seu lado assente com a cabeça, antes de tomar a palavra.
- Os detalhes sobre o amistoso com o Nekoma está sendo resolvido pelo professor Takeda. Possivelmente, será marcado para o próximo mês.
- Mesmo que não seja uma partida oficial, vai servir para notarmos a evolução que vamos obter nesse mês que vai se seguir - o Keishin continua - É a oportunidade perfeita para arrumarmos as rachaduras que temos no time. Ok?
   
Todos dizem um sim e logo a Hitoka entra arrastando uma estrutura com rodinhas, que tem em sua parte superior uma tela.
- Vamos assistir a partida da qual me refiro, vamos analisar juntos. Não só os pontos fracos de vocês, mas do Nekoma também.
   
Todos nos aproximamos cada vez mais e quando é apertado o play, o silêncio permeia. E assim um tempo se passa, com cada um fazendo seus próprios comentários e anotações, o Sugawara pausava o vídeo a mando do Keishin, que fazia sua própria análise meticulosa do ponto parado...

Tobio Kageyama...

A cidade está pulsando ao meu redor, um número incontável de pessoas desconhecidas passam por mim a cada segundo, sem nem ao menos olharem ao seu redor, de tão absorvidas que estão em seu próprio caminho, eu não sou diferente.
  
Olho para os lados com a bolsa pesando nas minhas costas, a regata está quase grudada em meu corpo devido ao calor descomunal que se faz presente.
   
Meus pés batem impacientemente no chão aos meus pés enquanto olho para o farol, que ainda não abriu para os pedestres.
  
No momento que abre eu sigo com o cardume de pessoas até o outro lado da rua, quando estou no meio do caminho meu celular começa a tocar no meu bolso, diminui o ritmo dos meus pés quando pego o mesmo, e sem nem olhar o nome que aparecia na tela eu atendo.

- Você disse que estava chegando.
- Eu falei que estava chegando mas você me fez passar no mercado para comprar as coisas para todo mundo- escuto uma risada do outro lado da linha.
- Você reclama demais Kageyama- um meio sorriso toma meus lábios quando já estou do outro lado da rua.
- Cinco minutos eu chego, talvez menos - mais uma vez paro e olho para os lados, não tem nenhum carro próximo então desço da calçada para atravessar.
- Cinco minutos é o que você tem, ou vai carregar o Karma por eu ter morrido de fome - não posso deixar de rir com suas palavras.
- Dramático. Vou desligar.
- Ok, não esquece que... - não consigo ouvir o que meu amigo falou, o som de pneus rasgando o asfalto sooa, uma moto passa a toda velocidade por entre a fileira de carros que esperam o farol abrir, e se aproxima cada vez mais, sem sequer se importar com os transeuntes.
   
Não tenho muito tempo para pensar, o celular cai da minha mão quando corro para a calçada, eu escuto um grito estridente de longe e derrepente um clarão invade meus olhos, uma dor insuportável me paralisa, sem forças eu  caio no asfalto quente e tudo fica escuro...

   
Abro os olhos em um espasmo, olho ao redor assustado, meu coração acelerado e minha vista turva.

Onde estou?
   
No meu quarto. Eu estou no meu quarto... fecho os olhos em uma tentativa inútil de me acalmar quando sinto algo quente descer pelo meu rosto.
  
Suspiro fundo e me jogo para trás, sem me importar com a dor das minhas costas batendo na estrutura da cama, parece que a camada de suor frio que me envolve funciona como um amortecedor.
- Já passou... - sussurro para mim mesmo e tento acreditar em minhas próprias palavras, na esperança que meu coração pare de bater tão freneticamente, que eu pare de suar frio, que essas malditas lágrimas parem de cair tão desenfreadamente.
  
Mas quanto mais eu tento me manter calmo, mais doi, mais minha garganta se fecha e arde, quanto mais eu tento me agarrar a uma fraca esperança, mais me afogo no meu desespero. Sinto as lágrimas silenciosas descerem pelo meu rosto, até chegar até meu queixo...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora