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Tadashi Yamaguchi...

Não sei porque sinto isso... um aperto no peito, um nó na garganta essa coisa que me diz que algo está muito errado, essa voz que me perseguiu o dia inteiro, que me fez adiar a vinda para a casa do Tsuki... ao invés de vir direto como era o planejado, fui para minha casa, tomei um banho e ajudei a minha mãe, vendo a noite avançar e chegar quase na metade quando por fim decidi vir. E nesse tempo todo que se passou, meu celular só vibrou uma única vez e era o Tanaka me perguntando como eu estava... Eu não respondi pois não sabia o que responder, estou com uma sensação ruim mesmo que nada tenha acontecido, é algo sem fundamento para dizer que não estou bem, mas também não posso dizer algo que não estou sentindo realmente.

Quando entrei na familiar casa do loiro, seu irmão me disse que ele estava no quarto, subi como de costume, mas por algum motivo estou parado na porta a algum tempo. Engulo em seco e hesitante abro a mesma, um pequeno espaço suficiente para meu corpo passar, antes de fechar a porta atrás de mim.

O quarto está escuro, a única luz precária vem da tela do computador que por sinal está aceso, aparente está em uma rede social na página do... Nekoma?
- Tsukishima? - chamo mas não o vejo em lugar nenhum. Volto para a porta e abro a mesma, tento ouvir um barulho no andar de cima e olho ao redor, só assim noto o leve vapor que sai pela fresta da porta do banheiro no fim do corredor - Vou esperar ele aqui dentro- sussurro para o silêncio e volto a entrar no quarto, tateio a parede em busca do interruptor, e ando pelo quarto, sento na escrivaninha e encaro a tela do computador.

Por que ele estava vendo a página do Nekoma? Achei que já tínhamos passado da fase de estudar os jogos antes da partida que será amanhã... passo meu olhar pela coisas quando o som de algo vibrando me assusta, olho ao redor e vejo que na ponta da escrivaninha o celular dele está pousado. A tela se ilumina com a mensagem, e apenas por curiosidade eu movo a cadeira para ver o que é. Sem nem pegar ele apenas passo os olhos... é uma mensagem de um número que não está salvo.

Tsuki... você está bem? Fiquei preocupado com você, não me dá notícias desde ontem...

.... por favor

Fala comigo assim que possível.

- Ontem? - franzo a testa e nesse exato momento uma voz sooa atrás se mim.
- Por que não me disse que vinha? - dou um pulo na cadeira e me viro, dando de cara como o loiro, que está vestindo um moletom e visivelmente tem o cabelo umido ainda.
- Eu... - me levanto e sorrio- Avisei sim, mas você não me respondeu... então eu só decidi te esperar mesmo quando vi que não estava no quarto. Eu queria saber como você estava - ele sorri e parece que esse ato é muito automático, e esse desconforto só se intensifica quando ele rapidamente me beija.

Dessa vez eu sinto frio...
- Está tudo bem... eu só perdi a hora- ele pega na minha mão e me guia até a cama, sentamos um do lado do outro.
- Ah... por sinal... te mandaram mensagem.
- Depois eu vejo- assinto, desvio o olhar dele por sentir uma pressão muito grande, parece que o cômodo está se encolhendo, meu interior treme pelas razões erradas.
- E... o que você fez ontem para perder a hora hoje? - olho para ele, eu não sei porque fiz essa pergunta. Talvez porque eu saiba que algo aconteceu entre ele e a pessoa de número misterioso... não que eu desconfie do Tsuki, tento dizer isso para mim mesmo, tentando agir normal.
- Nada, fiquei em casa e acabei pegando no sono quando deitei um pouco.

Engulo seco. Respiro fundo e tento organizar minha cabeça.
- Você sabe que não precisa omitir nada de mim né? - tento sorrir, mesmo quando algo grita que tudo está fora do lugar.
- Sei meu amor - ele sorri, o que me deixa mais agitado ainda.
- Tsukishima- pego na sua mão e faço ele me olhar- Fala pra mim o que está acontecendo, talvez possamos...
- Não é nada.
- Nada? Eu te conheço a muito tempo, sei que aconteceu alguma coisa...
- É tudo da sua cabeça, não tem nada demais em eu ter...
- A mensagem era de alguém falando sobre ontem... - o interrompo e cravo meu olhar no seu.
- Você desconfia de mim? - engulo em seco e afasto minhas mãos da sua, pois meus dedos parecem tremer nesse momento.
- Não... mas eu só quero que você me diga porque não está falando a verdade dessa vez.

Ele desvia o olhar, reuno minha coragem e me aproximo o abraçando.
- Eu te amo e por isso...
- Eu beijei outro cara - ele diz rápido. O mundo parece parar, meu corpo doi e escuto algo se quebrando dentro de mim, em uma confusão que eu não sei dizer o que, mas por um segundo eu não sinto nada... - Ontem eu fui ver o cara que eu saia antes... e aconteceu... Mas ele me segurou e... - me afasto dele rapidamente, quase caindo da cama, as lágrimas já queimam para sair.
- Quem é? - pergunto baixo, sentindo minhas mãos tremerem.
- Não...
- Não importa... - olho para ele - mas não faz isso... de jogar a culpa para alguém, não me interessa quem fez o que. Não haja como se você fosse inocente ou indefeso.
- Yamaguchi... Eu te... - ele se levanta no momento que dou um passo para trás.
- Não fala isso, ou eu nunca mais vou olhar para você de novo.
- Você está exagerando, me deixa explicar...
- Vai se foder- falo pela primeira vez de forma tão ríspida com ele -Exagerando? - sorrio e uma lágrima cai - Se eu tivesse... saído de noite ido encontrar alguém por vontade própria, beijasse essa pessoa, tentasse esconder isso de você e pior... não ser capaz de assumir meu erro... é tão difícil assim assumir a culpa por suas ações Tsukishima?
- Yama... - ele dá um passo em direção mas faço sinal para que ele pare.
- Não venha até mim... e amanhã não fala comigo também, não quero pensar em você, porque isso vai atrapalhar meu jogo- não falo mais nada e saio do quarto as pressas batendo a porta, escuto ele me chamar mas ignoro, corro até sair da maldita casa e corro mais.... só parando quando chego na meu quarto, fecho a porta e deito na cama....

Sem soluços, sem grito, sem nada além de lágrimas silenciosas proclamando minha dor, e essa coisa em meu peito que me tira tudo que até agora parecia ser um monumento forte em meu ser...

~♡~
"As lágrimas são poemas universais. Quando a boca silencia, os olhos as proclamam... os que não sabem fazer poemas no caos".
- O homem mais inteligente da história (Augusto Cury)

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora