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Tobio Kageyama ...

Me aproximo mais do Hinata, ficando apenas a poucos centímetros de seu corpo. Evito olhar em seu rosto, porque sempre que o faço o mundo fica confuso e eu perco a minha linha de pensamento com facilidade.
  
Meus dedos habilmente pegam seu braço, com certo cuidado para que não arda quando o tocar. Olho atentamente para a grande marca vermelha, levemente arroxeada que está em seus membros superiores. O vermelho é de marcas recentes da colisão da bola, sua pele é muito clara e por isso qualquer contusão fica em evidência, mas o leve tom de roxo, revela que já é algo de algum tempo, que o mesmo não cuidou ou deu pouca atenção.
- Você foi tão cuidadoso comigo aquele dia, deveria ser consigo também- murmuro enquanto removo o lacre do frasco de soro fisiológico. Ele ri.
- Eu geralmente cuido, mas não é nada demais.
- Nada demais... - pego um pano e despejo um pouco do soro, seguro seu braço na parte de baixo com a mão esquerda, e com a direita levo o pano até sua pele, assim que encosta o mesmo dá um espasmo leve, abro um meio sorriso- Ainda tem a coragem de me dizer que não é nada demais- olho atentamente para minha mão que está passando o soro na marca, antes de ir para o outro braço.
- Se eu não cuidar... Você vai cuidar de mim? - minhas mãos param quando escuto suas palavras.
- Quem cuidaria de você? - tiro o pano e coloco ao meu lado em cima da sacola, para jogar no lixo depois.
   
Escuto sua risada preencher o ambiente, ignoro a mesma e abro a pomada e a coloco em meu dedo, com cuidado passo a massagear a área. Até que eu estivesse quase terminando de aplicar no último braço, o silêncio permeou o ambiente.
- Por que você me trouxe aqui? - dou de ombros.
- Só não estava com muita vontade de ir para outro lugar.
- Hm... o que - ele parece estar hesitante em terminar a frase.
- O que? - me viro e abro o pacote de atadura. Vou enrolar a faixa em seu braço para que o mesmo esteja melhor pela manhã.
- O que você achou de ir comigo hoje para o treino? - dou de ombros.
- Não tem muito o que dizer, você é bom... - ele abre um largo sorriso.
- Acha mesmo?
  
Assinto com a cabeça, quando começo a enrolar seu braço, com extremo cuidado para não apertar demais.
  
Não posso dizer tudo que senti ao vê-lo treinar, é algo novo e complicado demais para que eu consiga por em palavras, além do mais, creio que seria estranho dizer que ele fez com que eu me sentisse vivo de novo, é algo embaraçoso para se dizer em voz alta...
  
Termino de enrolar um braço e amarro firmemente antes de ir para o outro.
- Você é bom Hinata... - tento buscar as palavras certas na minha cabeça- É rápido, seus instintos são bons, não tem problemas em se adaptar às posições e até mesmo sua postura é quase perfeita... mas seu pensamento é lento, é por isso que você tem problemas em recepção ou saque, é importante saber analisar um jogo antes de entrar em quadra... Eu vi seus olhos enquanto jogava, era quase como se eles queimassem- minha voz sai baixa e em nenhum momento oscila, assim como meu olhar que permanece em minhas próprias mãos- Você se entrega por completo, se alheia ao mundo quando pisa na quadra, por isso faz algumas coisas impensadas pela ânsia de conseguir, você as vezes se coloca antes do previsto ou tarde demais.
  
Termino o braço e afasto meus dedos do mesmo. Quando olho em seu rosto, noto que ele está olhando fixamente para mim, atento a todas as palavras que saem de meus lábios.
- Seu ataque rápido... é surreal, você vai de uma ponta a outra como a luz, se meus olhos não estivessem presos em você, jamais saberia como você pontuou. Mas notei que o Tsukishima consegue bloquear 75% dos seus ataques, e isso acontece porque ele te conhece, sabe como você se comporta nas situações, em uma análise de eliminação, é fácil prever qual será seus movimentos. Isso, faz toda a diferença em um jogo real- suspiro- Mas não acho que vá demorar muito para você pegar o jeito...
- Isso quer dizer que ... - ele me interrompe - Você vai me ajudar?
   
Desvio o olhar e tento encontrar motivos em minha mente para justificar o que me levou a querer ajudá-lo. Eu não costumo mudar minha opinião ou postura sobre qualquer assunto, mas essa pessoa que está ao meu lado, quebra tudo aquilo que eu penso saber... abro os lábios para responder mas as palavras não saem.
- Hm - apenas assinto com a cabeça em um murmuro quase inaudível.
- Obrigado- ele derrepente se joga em minha direção, por instinto eu abro meus braços e meus dedos param em sua cintura, no exato momento que seus braços me envolvem... seu rosto está na curvatura do meu pescoço e sua respiração quente bate em minha pele.
   
Meus dedos não se movem um milímetro que seja, como se estivessem se recusando prontamente a soltar a pessoa que está em meus braços nesse momento, quase que jogado em meu corpo por completo, devido a posição em que estava no sofá. E como na vez de manhã em que ele me abraçou... estou paralisado e meu coração muda o ritmo na mesma velocidade em que tudo se embaça.
- Prometo que vou me esforçar - ele diz em um sussurro, mesmo sendo algo natural meu corpo se arrepia. Rapidamente o afasto de mim e movo meu corpo para trás.
- Eu... - o apito sooa do relógio da cozinha. Me levanto rapidamente - O salmão- corro em direção a cozinha, e suspiro aliviado.
  
O que está acontecendo comigo?
  
Desligo o forno e permaneço no mesmo lugar por um tempo, até arrumar as duas tigelas de Ochazuke. Quando volto para a sala, o Hinata abre um sorriso ao me ver.
- Vem comer.
  
Ele assente e me acompanha até a mesa onde nos sentamos. Ele rapidamente começa a comer.
- Está muito bom, não sabia que você era bom na cozinha.
- Eu sei me virar - olho para ele que abre um doce sorriso.
- Obrigado por me ajudar Kageyama... o que te fez mudar de ideia?
- Você- falo rapidamente enquanto levo um pouco da comida para minha boca. Quando olho para o alaranjado noto que suas orelhas estão ruborizadas, e assim me dou conta de minhas próprias palavras.
  
Desvio o olhar rapidamente.
- Como eu...
- Termina isso logo, eu quero dormir - ele me encara com os olhos cerrados e ri.
- Não precisa ficar envergonhado.
- Quem está envergonhado? - ele ri e dá de ombros.
- Ninguém...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora