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Tobio Kageyama ...

Cada canto da minha casa, está preenchido pelo som da música que sai da caixa de som empoeirada, enquanto termino de organizar o quarto. Tirei boa parte das caixas do caminho, montei o guarda roupa e a estante que já estava aqui, foi ocupada com livros e fotografias, a escrivaninha tem apenas meu computador, um bloco de notas e um copo liso com canetas. 
 
As paredes estão limpas, já que as teias de aranha que se encontravam nos cantos já foram retiradas. Me pergunto, a quanto tempo esta casa estava fechada, o cheiro de mofo permeava o ar, mas agora consigo sentir o doce aroma de lavanda, dos produtos de limpeza que utilizei.
 
Jogo o pano de tirar pó em meu ombro e respiro fundo, dou um passo para trás me sentando na cama, meu olhar passeia pelo cômodo em busca de mais alguma coisa para fazer. Mas surpreendentemente, tem apenas uma única caixa solitária encostada.
 
Coloco o pano na cama, e suspiro longamente. Estou com um leve desconforto, talvez a causa seja o tombo que levei hoje de manhã... as pessoas não costumam prestar atenção em seu redor antes de fazer qualquer  ação, não importa se seja em um local populoso como Tóquio, ou uma pequena cidade próxima das montanhas como aqui.
  
Me levanto e vou até a caixa, me abaixo e a pego, colocando em cima da escrivaninha. Rapidamente meus dedos puxam a fita que a fechava, puxando a mesma com rapidez, a tampa da caixa de papelão se mexe um pouco, antes que eu a abra por completo.
  
Parece que o ar some de meus pulmões, minha garganta fica seca e a mão trêmula... encaro a bola de vôlei assinada pelos membros do meu  antigo time do Fundamental e os prêmios que acumulei durante os anos... 
 
A luz fraca do cômodo faz brilhar uma medalha, inevitavelmente um sorriso vai se formando em meus lábios quando pego a mesma. Foi minha primeira... na época eu tinha seis anos, foi em um campeonato regional, quase perdemos... quase...
  
Minha garganta fecha, como se algo muito quente passasse por ela, alcançando meu rosto, fazendo meus olhos arderem em uma melancolia profunda. Sinto as lágrimas chegarem, mas me recuso a deixar que caiam. Algo me diz que já chorei o suficiente, para fraquejar de novo.
 
Jogo a medalha na caixa e rapidamente a fecho. Suspiro fundo e fecho os olhos por alguns momentos, com meus dedos pressionando a estrutura de papelão.

Eu sei que tem pessoas que conseguem passar por situações difíceis, sem cair... que conseguem sorrir e achar um sentido, mesmo quando a vida parece não ter mais uma razão, pessoas que conseguem deitar a  cabeça no travesseiro a noite, sem mergulhar em pensamentos dolorosos que nos fazem sangrar... Mas eu não sou uma dessas pessoas. 
 
Pego a caixa e ando até o guarda roupa, fico na ponta dos pés, e a empurro para a parte de cima, bem fundo, até que não posso ver sua presença.
 
Mesmo que no fundo eu saiba que o traço de quem fui está aqui, mas prefiro não ter que encarar todos os dias essas memórias. Eu deixei tudo para trás, quando minhas esperanças acabaram. Sair de Tóquio parecia ser a melhor opção, pelo menos aqui não tem fantasmas me espreitando em cada esquina, duvido que alguém saiba quem sou, ou que algo me faça lembrar do que jamais terei de volta.
  
O som de meu estômago roncando faz com que eu saia de meus pensamentos.
- Preciso comer - ando a passo rápidos até a cozinha e resolvo fazer um omelete simples, ainda tenho um pouco de arroz frito que sobrou do almoço- Dá para o gasto...

Shoyo Hinata...

Vejo a bola vindo na minha direção, meus olhos se fixam nela, como um predador olhando para a presa... Eu só preciso, recebê-la.  Aperto uma mão na outra, estou posicionado em manchete. Dessa vez eu não vou...
  
Uma dor me atinge em cheio, fazendo minhas costas atingirem o chão da quadra precária.
- Hinata - os passos chegam ao meu ouvido.
- Eu achei que ia conseguir dessa vez - Rio, enquanto me levanto sentindo suas mãos me dando suporte.
- Eu também achei que ia conseguir. Por que você não se mexe quando ela está próxima? Não é tão difícil.
 
Olho para o Nishinoya.
- Sinceramente? Eu não faço idéia. Meu corpo parece não me responder nesses momentos.
 
Fico sentado no chão da quadra, logo o moreno senta ao meu lado. Seu braço me rodeia, me puxando para perto. Sinto sua respiração ofegante.
- Está cansado? - ele assente com um sorriso.
- Você é um monstro treinando, sou apenas humano... estamos aqui a mais de duas horas?
 
Franzo a testa pensando.
- Duas horas e meia mais ou menos - olho para ele - Quer voltar para casa?
 
Seus olhos fixam em mim por um tempo, como se estivesse lendo as entrelinhas do meu ser.
- Posso ficar mais um pouco. Sei que não quer voltar agora - abro um sorriso largo e o abraço.
- Obrigado.
- Ok... Ok... - ele se levanta e me estende a mão. Olho por alguns instantes antes de me permitir ser puxado por ele.
- Vamos continuar.
- Vamos... vamos continuar na recepção ok? - assinto.
- Não vou desanimar... mesmo se eu falhar várias vezes.
 
Ele sorri e leva a mão até minha cabeça, bagunçando meus cabelos.
- Eu sei que não Hinata.
 
Sorrio e corro até onde a bola havia caido, jogo para o Nishinoya que a pega no ar se afastando. Volto para minha posição inicial e respiro fundo.
- Pode mandar.
   
  
Ficamos um bom tempo na quadra do bairro, deixei passar muitas bolas... Mas eu sei que vou conseguir, é tudo questão de insistir. Eu sei, que não adianta ter a velocidade que tenho, o salto que tenho ou o ataque, se não posso fazer coisas básicas.
 
No último jogo, perdemos porque eu simplesmente não consegui me mover a tempo. Mesmo todos dizendo que essas coisas acontecem, algo gritava que eu precisava melhorar. Esse é o último ano para alguns dos meus amigos, a última chance... de conquistar as competições em primeiro lugar, eu não quero e não posso decepciona-los. Vou fazer o possível para estar em posição de igualdade, para poder oferecer suporte a todos...
  
E na minha mente eu sei que não existe a opção de falhar... não dessa vez.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora