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Tobio Kageyama...

Respiro fundo enquanto me sento no chão, quase que deitando no já arranhado e parcialmente decrepito chão da quadra. Estou cansado, e meu corpo está suando por completo, mesmo que entre eu e o Hinata, ele tenha sido o que mais se movimentou eu ainda pareço ser o mais derrotado, meu cabelo está até mesmo grudado na testa como se estivesse molhado. Devido a minha condição eu não tenho me exercitado muito, portanto, meu rendimento e resistência física caiu gradualmente, mesmo que eu não tenha feito nada além de dar pequenos passos na direção da bola, bastava apenas mais alguns minutos para que eu cedesse, meu corpo está dançando entre o próprio limite agora. Patético.
    
Estico minhas mãos e puxo a garrafa de água que tomei anteriormente, tomo um pouco da mesma e meu olhar pousa no Hinata que está a poucos centímetros de distância, também sentado, só que encostado no poste de iluminação. Estico minha mãos para o mesmo que rapidamente olha para a garrafa.
- Toma um pouco.
- Obrigado- ele abre um sorriso antes de pegar a mesma das minhas mãos e quase que no mesmo segundo começa a tomar - Você já tomou?
- Hm. Já.
    
Ele tampa a garrafa e passa a mão em seus lábios, tirando as pequenas gotas de água inconvenientes.
- Como você está?- ele olha para minha perna por um momento antes de pousar o olhar nos meus olhos.
- Só preciso descansar um pouco que irei conseguir ir para casa sem parar.
    
Ele assente de leve com a cabeça e o ambiente fica silencioso, só com os sons mínimos da rua pouco movimentada ao nosso redor. Respiro fundo e vou até o lado do Hinata.
    
Eu acho bom que não tenha ficado um clima estranho após o incidente de hoje de manhã, mesmo que minha mente não consiga se desprender daquele momento, peço para que minha boca saiba manter o assunto muito distante.
- Kageyama, você já pensou em voltar? - olho para o Hinata que está me encarando em busca de uma resposta.
- Voltar?
- Hm - ele assente- Sabe, a jogar - abro um meio sorriso de leve.
- O estado que estou agora é o melhor que posso chegar. Não tem nenhuma chance de eu conseguir jogar de novo algum dia, pensar nisso é só alimentar uma falsa esperança que nunca iria se concretizar. Eu já não preciso mais disso.
- De esperança? - assinto.
- Já abandonei ela algum tempo atrás.
    
Meus olhos estão presos em seu rosto, ele abre a boca para falar algo, mas fecha em seguida.
- O que você queria perguntar?
- Nada.
- Não precisa selecionar as coisas que você pode ou não falar para mim, vou responder o que você quiser saber- ele abre um sorriso leve e desvia o olhar.
- Como você sofreu o acidente?
    
Respiro fundo.
- Eu estava indo encontrar os outros jogadores, e um veículo em alta velocidade veio na minha direção, eu não consegui chegar na calçada a tempo. Resumidamente é isso - seus olhos estão fixos em mim, como se esperassem eu continuar - Quando eu acordei já estava no hospital, e não demorou muito para eu notar que não estava sentindo minhas pernas- rio - Eu entrei em desespero e me deram um medicamento para dormir.
    
Ele se arrasta ficando de frente para mim ao invés do meu lado, suas pernas juntas se assemelham a pose de meditação.
- Mais tarde eu descobri que o impacto da roda além do asfalto, tinha feito mais do que apenas me deixar com ferimentos pelo corpo, rompeu ligamentos e algumas outras coisas. A maioria dos médicos acreditavam que eu poderia perder totalmente os movimentos da perna direita, já que ela tinha sido a mais danificada... A cicatriz é porque uma parte das ferragens do veículo ficou presa na junta, precisei fazer uma cirurgia.
    
Quando olho para o Hinata vejo que sua expressão permanece intocada, ele apenas está escutando cada palavra que sai de meus lábios com total atenção.
- Eu tinha uma pequena chance de continuar, eu fiz fisioterapia e em poucos dias eu consegui sentir dor na perna- sorrio- Foi um alívio.
- A dor? - assinto.
- Para alguém que não estava sentindo nada, sentir dor era melhor que o vazio. Eu comecei a ter esperança de que poderia continuar entende, que se eu me esforçasse como nunca, eu poderia voltar a jogar. Mas nunca aconteceu, e nunca vai. Eu comecei a notar isso dia após dia, quando cada passo doia e o passar dos meses não fez com que a dor diminuísse, e quando eu me esforçava demais, eu abria os olhos de novo e estava cercado das paredes brancas tão familiares- rio- por um tempo, eu considerei o hospital como uma espécie de casa, eu não saia de lá. Até que um dia eu já estava em casa, mas ainda impossibilitado de voltar para a escola, eu tentei jogar, eu cai e machuquei minha perna, eu fui para o hospital e fui repreendido pelos meus pais, acho que foi a última vez que eu tentei de verdade sabe?
    
Ele não diz nada, apenas continua me encarando com aqueles olhos brilhantes.
- Em uma das vezes que fui a fisioterapia, eu conheci um homem que havia perdido totalmente a sensibilidade nas pernas, era como se elas não existissem mais... Eu ouvi a história dele, o cara era um treinador antes do acidente, e costumava fazer escaladas no tempo livre. Basicamente ele me disse que eu deveria estar feliz e me sentir sortudo por poder andar- abro um meio sorriso, mas qualquer pessoa que o visse nesse momento notaria que a única coisa em seu curvar é uma dor enraizada- não sei porque eu deveria agradecer por ter sofrido um acidente que tirou o que mais me importava de mim. Mesmo que as pessoas ao meu redor tentavam me por para cima e ver o lado positivo, eu não via nada de bom. Saber que havia outras pessoas na mesma merda ou ainda mais miseráveis que eu, não fazia minha angústia ir embora, nem ao menos a minimizava - respiro fundo quando sinto minha voz dar uma leve falhada na mesma medida que minha garganta fica quente.
- E... o seu time?
    
Uma risada sai de meus lábios, forte. Como se eu fosse um louco, a risada sai da mesma forma que algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto. Rapidamente passo o braço limpando as mesmas.
- Não passava de um bando de lixo inútil, se alguma vez me viram foi para demonstrar pena ou quando eu fui oficialmente desligado do time. Sendo que na verdade deveriam chorar pelas próprias ambições, sem mim aqueles merdas não chegavam a lugar nenhum. Um bando de sem talento e incompetente, sem força, que não faziam mais do que uma cravada meia boca- abro um sorriso- Foi bom ver eles na merda, perder o posto de primeiro - engulo em seco e tento me acalmar antes de voltar a falar- Depois, eu decidi sair de onde eu estava, cada canto me trazia lembranças dolorosas. E vim para cá.
    
O Hinata me encara e derrepente se curva na minha direção, eu não recuo mas meus olhos se fecham, no segundo seguinte eu sinto o calor de seus dedos delicados que limpam uma lágrima solitária do canto de meus olhos.
- Que má sorte me encontrar aqui- ele diz em tom de brincadeira, acabo rindo.
- Não acho que tenha sido má sorte - abro os olhos e noto que sua mão ainda está pousada no lado do meu rosto, não me incomodo em tirá-la, ele parece que também não. Posso ver seus olhos muito perto nesse momento, parece que estou flutuando acima do chão.
- Como não? - ele sorri de lado - Você vem para cá para se distanciar de tudo que possa te trazer memórias dolorosas, e eu faço você estar em contato com elas.
- Não- o sorriso antes em meu rosto se esvai, levo minha mão até a sua que estava no canto do meu rosto e a seguro ali, com seus dedos nos meus- Você não faz doer, você substitui por momentos bons que não fazem nada além de me... - abro um sorriso - resumidamente, você me faz bem.
- Kageyama- ele entrelaça nossos dedos e tudo parece explodir dentro de mim, suas mãos puxam as minhas para o ar, saindo do meu rosto- Se eu conseguir vencer o amistoso, se eu colocar em prática tudo que você está me ensinando agora, se eu te pedir para se dar uma nova chance, você daria?
- Eu já disse que esse estado é o melhor que eu posso...
- Não - ele me interrompe- Você me disse que jogar não envolve só o corpo, tem que pensar também. Não é isso que os treinadores fazem? eles pensam pelo time, e sem ele ninguém chega a lugar nenhum.
- Eu sou um levantador Hinata, não um técnico - ele balança a cabeça em negação e aperta mais seus dedos nos meus.
- Você é um jogador Kageyama, que não pode estar longe do que ama. Seu lugar não é em outro lugar além de uma quadra, você sabe disso... um time precisa de união, e nem todo mundo entra em jogo, mas se a vitória acontece é por causa daquelas pessoas que não estavam jogando, não só de quem fez as jogadas- ele me encara profundamente.
- Por que você quer tanto que eu faça isso? - ele sorri.
- Eu vi sua partida, vi seus olhos brilhando, eu quero ver esse mesmo olhar em seu rosto de novo- me vejo sem palavras, e meu coração se acelera como um louco, não sei o que fazer... só puxo lentamente minha mão da sua, me livrando do calor.
- Eu não posso te prometer nada.
    
Ele ri.
- Já é um começo - trocamos um olhar e rimos.
- Hinata.
- Hm? - sem dizer nada apenas estico meu braço e o puxo para meu aperto, mesmo que estejamos sentados, eu posso sentir seu corpo todo junto ao meu. Fecho os olhos com o rosto em seu ombro. O aperto em meu abraço
-Obrigado...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora