Shoyo Hinata...
Meu quarto está caído no mais profundo silêncio. Estou na cozinha olhando para o micro ondas e o pote com água dentro rodando inúmeras vezes, creio que esse seja o único som que nos assola, além do barulho da chuva que cobre a cidade, por sorte, a mesma só se tornou forte quando já estávamos na segurança de meu quarto.
Dou alguns passos e estreito na porta, meu olhar busca a figura do Kageyama, que está imóvel olhando para a janela, parado no mesmo lugar que o deixei, no meio da minha cama. Engulo em seco, no momento que minha mente é preenchida pela memória de seus olhos e as lágrimas silenciosas que desaguavam do mesmo...Quando as primeiras gotas de chuva despencaram do céu, o homem ao meu lado também chovia em seu próprio ser... Eu não pude fazer nada, além de me manter em silêncio até que chegássemos ao destino, não era como se tivesse algo para ser dito, independentemente do que eu dissesse, a dor em seu peito não iria desaparecer. Mas, não sei se por minha natureza gentil, eu queria abraça-lo, queria dividir esse peso com o mesmo, quando o vi chorar meu peito pareceu se apertar e meu coração se partiu um pouco.
O barulho do micro ondas apitando, faz com que o moreno levante o olhar e me encara por alguns segundos. Meu coração se agita ao ver a tristeza oculta no mesmo, antes que eu diga algo idiota, viro de costas para retirar o pote de água já quente.
Pego o mesmo e atravesso a porta entrando em meu quarto. A pequena mesa de centro no cômodo espaçoso, contém uma caixa de primeiros socorros que eu guardo no banheiro, e uma toalha pequena que eu peguei para servir de compressa.
Me abaixo e seguro a toalha com a ponta dos dedos, ando com a vista baixa encarando meus próprios pés, com um nó em minha garganta, sem forças para ser analisado pelo par de olhos azuis profundos, que sinto que acompanham cada movimento meu. Não me surpreende, afinal, ele está aqui contra a própria vontade, eu simplesmente não poderia deixá-lo ali, e fingir que nada aconteceu.
Paro em sua frente e me abaixo, colocando o pote de água quente ao meu lado no chão, pego a toalha e mergulho no mesmo. Suspiro fundo e meu coração se acelera como um louco, estou tão perto que agora posso ouvir a respiração do Kageyama... tão leve. Levo minhas mãos até a barra da calça do mesmo, antes que eu pudesse ergue-la sinto mãos fortes me segurar com um movimento brusco.
Instintivamente meu olhar cai sobre o rosto da pessoa a minha frente. Seus lábios curvados em sinal de insatisfação.
- O que está fazendo? - abro um sorriso.
- Preciso erguer a barra da sua calça para colocar a toalha quente- aponto com a cabeça para a mesma ao meu lado- Vai aliviar sua dor, sempre fazia isso quando me machucava enquanto treinava... sempre funcionou para mim.
Aos poucos seus dedos que fazem minha pele arder, se soltam lentamente.
- Que seja... - ele diz em tom rude quando desvia o olhar, abro um sorriso.
Olho para sua perna direita e levemente puxo a calça para cima... Ele se afasta um pouco no momento que meus dedos passam na altura de seu joelho. Recuo a mão.
- Me desculpe... - olho para ele que está com um olhar perdido. Ok... Eu não vou ter nenhuma resposta dele.
Levanto mais um pouco a calça até o meio de sua coxa... suas pernas são fortes e bem estruturadas, como se ele sempre fosse bem focado em seu condicionamento físico há muito tempo.
- O que tem de tão interessante na minha perna? - sinto meu rosto corar violentamente.
- Nada.
Me abaixo bruscamente e passo a torcer a toalha, no momento que sinto meu rosto ficar mais quente. O que eu estava fazendo encarando a perna dele desta forma?
- Acho que já não tem mais o que torcer - rio.
- Tem razão- pego a toalha e a dobro no meio, colocando em cima de sua perna. Minhas mãos pressionam a mesma, por cima de uma cicatriz que ressalta em sua pele lisa. Mais uma vez estamos caídos no silêncio... pigarreio.
- Pode esperar a chuva passar para ir para casa... está com fome?
- Você... - o encaro- qual é o seu problema?
Franzo a testa.
- Meu problema?
- É... ninguém ajuda alguém que nem ao menos conhece - abro um sorriso.
- Eu te derrubei uma semana atrás na faixa de pedestre, estamos na mesma sala de aula Kageyama... acho que você não é um desconhecido- levanto meu olhar- Ou você não se lembra de mim?
Ele dá de ombros.
- Não presto atenção nas pessoas.
- Lembra meu nome pelo menos? - arrumo a toalha que escorregava um pouco. Quando volto a olha-lo vejo o desconforto em seu rosto - É Hinata... Kageyama Tobio- abro um leve sorriso quando molho a toalha mais uma vez, minhas mãos se viram para tirar o excesso de água da mesma, quando sua voz sooa.
- Não somos próximos o suficiente para você se importar.
Levo a toalha até sua perna novamente.
- Eu preciso de motivos para me importar com alguém? - ele fica em silêncio - Certas coisas a gente não precisa de grandes explicações, eu apenas quis te ajudar.
- Eu não preciso da sua pena - ele diz novamente essas palavras, com certa ríspidez.
Arrumo a toalha com uma mão e com a outra eu levo até seu rosto, mas apenas encosto um pouco antes do mesmo recuar, mas pelo menos consigo fazer com que olhe em meus olhos.
- O único que parece sentir pena de si mesmo é você...
Ele vai protestar, mas quando vejo pela expressão, acabo pressionando com um pouco mais de força a toalha. Ele tem um espasmo, e meus lábios se curvam em um sorriso.
- Você pode segurar aqui?
Ele não diz nada, apenas leva a mão até o tecido. Retiro a minha e me levanto.
- Vou fazer algo para comermos.
- Não precisa, eu já vou para casa.
Olho para a janela.
- A chuva está mais forte, a menos que você saiba desviar de cada gota, é bom que fique aqui.
Não espero uma resposta, apenas viro de costas e me encaminho até a cozinha. Por algum motivo estou com um sorriso no rosto incapaz de ser contido, olho para trás e o observo por alguns segundos, meu coração parece errar as batidas por alguns momentos...
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Do outro lado da rede *Kagehina*
Fanfiction"E se tudo pelo qual você lutou a vida toda, simplesmente desaparecer em uma fração de segundos e quando você desperta da escuridão, a única coisa em sua mente é uma voz vibrante que grita a cada instante que você nunca mais poderá estar em uma quad...