Capítulo Dois

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- Você não vai ficar em casa hoje só porque foi pra faculdade, se arrume pra irmos ao culto.

Eu não posso faltar um dia na semana? Quase todos os dias estou lá. Eu queria dizer, mas seria um erro contrariar a minha mãe.

- Já vou mamãe.

Levanto da cama com desânimo indo atrás de alguma roupa, o que facilita a busca é que todas são semelhantes. Sem muitas estampas, abaixo dos joelhos e folgados ao corpo. Opto por um vestido preto liso, quase do mesmo modelo que usei hoje na universidade. Faço um rabo de cavalo já que não posso sempre usar meu cabelo solto para não chamar muita atenção, mamãe diz que quanto mais simples parecemos para os outros mais atraímos quem enxerga a nossa alma. E vou de encontro aos meus pais que já estão prontos. Pego minha Bíblia na pequena prateleira de livros - todos bíblicos - e nos dirigimos à igreja que fica a dois quarteirões distante da minha casa.

Tenho mania de sempre dar uma conferida nas pessoas não cristãs que ficam nas bancas de trás da igreja para ter uma noção de quantas podem ser resgatadas e salvas para Jesus. E hoje não foi diferente, mas ao fazer isso, imediatamente avistei um rapaz de cabelos pretos tão escuros quanto o do garoto que vi na maioria das minhas aulas. Caminho até o meu lugar olhando-o até consegui ver o seu rosto.

É o mesmo garoto! Seu rosto é inconfundível. O que ele faz aqui? Nunca o vi antes em nossa igreja. Será que ele se tornará um novo membro?

Ouço uma ambiguidade de comentários sobre ele, das meninas que se agitaram com a presença dele. Enquanto umas acham ele bonito, outras enfatizam o quanto o mesmo parece ser estranho. Eu faço parte da minoria que acha ele meio esquisito, claro que guardo a minha opnião para mim, eu não converso muito com elas por respeito ao culto, igreja não é um hambiente para conversas alheias principalmente quando o presbitero está no pulpto. Eu aprendi isso da pior forma... mas aprendi. Em suma, acho o rapaz estranho mas não sou ninguém para julgá-lo e espero que ele faça parte de um dos salvos esta noite.

Direciono minha atenção ao púlpito e o culto se inicia.

. . .

Depois de receber permissão do dirigente para tomar água, vou a caminho do bebedouro, mas antes por pura curiosidade dou uma conferida nas bancas da entrada da igreja e o garoto não está mais lá. Acho que resolveu ir embora. Dou de ombros. Ele é livre para escolher o seu caminho.
Busco um copo descartável no porta copos ao lado do bebedouro e de repente quando estou pegando água, sinto algo quente atrás de mim como a presença de alguém. Viro-me rápido assustada e meus olhos encontram ninguém menos que o rapaz que pensei ter ido embora. O mais estranho é que eu fiquei paralisada, sem reação nenhuma.

- Algum problema?

Ele arqueia uma de suas sobrancelhas como se estivesse se divertindo com o meu nervosismo. Eu nunca fiquei tão próxima de um homem, não é pra menos que eu não tenha reagido de primeira e me afastado.

- P-problema? Nenhum, por quê?

Me afasto dele esbarrando no bebedouro sem ter ideia do motivo de ter gaguejando.

- Não sei, você ficou pálida quando me viu.

Ele encheu seu copo e tomou em apenas um gole, amassou o plástico e foi embora depois de me dar uma última olhada. Que cara esquisito, quase me matou do coração com a sua aproximação como se não tivesse noção do espaço que estava ocupando.

Quando retorno para o meu lugar, mamãe olhou meio estranho para mim como se eu tivesse feito algo de errado, aquela ruguinha entre suas sobrancelhas, mas não entendo o motivo.

Good or BadOnde histórias criam vida. Descubra agora