Nunca havia ouvido tantos sermões sobre minhas vestes como ouvira hoje. Coisas como: "use algo mais comprido", "não mostre seus joelhos", "nem nada tão brilhante". Ordens de minha mãe, que eu francamente já estava cansada de ouvir.
Hoje será o meu primeiro dia na faculdade e por isso eu já estava me preparando psicologicamente para comentários maldosos sobre as roupas que estarei usando. Tem sido dessa maneira há muito tempo. Como diz mamãe: “Não há como agradar a sodoma e gomorra se não seguir os mesmos hábitos e costumes que eles.” Apesar de tentar ter essa linha de pensamento, ainda será difícil fingir que não ouvi as risadinhas de sempre, às vezes discretas, às vezes escancaradas, mas sempre risadinhas.
Cabelos lisos e pretos que batiam na altura da cintura, estavam numa trança bem feita que eu tanto estava acostumada a fazer. Uma das doutrinas de minha religião, é não cortar o cabelo, mas eu sempre dava um jeitinho e cortava as pontas mesmo que mamãe diga que isso é errado. As pontas duplas estragam o cabelo e ele é uma das coisas que eu mais gosto de cuidar no meu corpo.
Com um vestido abaixo do joelho, florido, num tom verde água meio soltinho ao corpo para que não marque muito as curvas, já que mamãe diz que é vulgar. E uma sandália baixa que amarra no tornozelo. Eu estava pronta para o meu primeiro dia sendo universitária. Os alunos da minha antiga escola caçoavam da minha aparência, mas estavam acostumados com meu… bem, minha maneira de vestir-me. Mas não tenho ideia de como os meus colegas agora da universidade, irão lidar comigo. Se irão ser maldosos ou me deixarão em paz.
Já com a minha mochila no ombro, fui para o ponto de ônibus depois de pedir a benção dos meus pais. Está um lindo dia. O sol brilha reluzente através de alguns galhos da imensa árvore da casa vizinha, a beleza dele até me faz acreditar que eu terei um dia próspero hoje. Mas os olhares tortos que me deram assim que entrei na condução e estão dando até agora, fazem eu me encolher em meu assento e querer prestar atenção apenas nas ruas. Talvez não seja tão próspero assim…
Sons diferentes que eu não conseguia distinguir bem suas origens e seus motivos, vinham de todos os lados e pensei ser algum tipo de despertador, mas por que de repente as pessoas levariam seus despertadores por aí? Olho ao redor com curiosidade e um pouco de receio de que me olhem como se eu fosse o próprio Golias, quando na verdade eu sou o Davi. E vejo que todos ou pelo menos a grande maioria dos jovens de minha idade estavam usando celulares. Aquelas pequenas telas brilhantes que passam às vezes nos comerciais de TV. Eles parecem tão concentrados enquanto seus dedos frenéticos se movem constantemente sobre as telas, ou simplesmente ficam com suas atenções tomadas pelo aparelho enquanto tem um fio enganchado em suas orelhas. E o mais estranho: não fazem nada enquanto tem uma coisa pendurada em seus ouvidos, sem fio que conecta com o celular.
Será que é tão bom assim ter essa coisa brilhante?
Mamãe nunca me deixou ter um celular, apenas o de fio, sem mencionar o "tubão", o computador de estudos lá de casa. Eu o chamo carinhosamente assim porque ele me lembra aquelas TVs antigas de tubo. Apesar do tubão ser velhinho, ele serve bem para as minhas necessidades, que nada mais é do que estudar e realizar trabalhos. Nada de uso pessoal. Nem mesmo as ligações que eu recebia de colegas sobre o colégio eram particulares, mamãe sempre fez questão de ouvir todas e apesar de ser um pouco constrangedor sei que é para me proteger de pessoas mal intencionadas. Eu entendo e estou acostumada com sua maneira de se preocupar comigo. Assim são as mães… preocupadas.
Como se houvesse apenas virado a esquina, o ônibus chegou ao seu destino: o grande e elegante edifício da universidade Yonsei. É uma enorme honra estar aqui e apesar das noites mal dormidas por conta dos estudos, eu não me sinto boa o suficiente para estar nesse lugar. Afinal a Yonsei é uma das mais prestigiadas e renomadas universidades da Coreia do Sul. Estou imensamente feliz e grata por ter dedicado meu tempo integral aos estudos e também a igreja onde depositei minha fé e minhas orações, sem esses dois elementos, todo meu esforço teria com toda certeza sido em vão.
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Good or Bad
Ficção AdolescenteCriada em uma família tradicional evangélica, Hye não sabe distinguir bem o que é melhor para si mesma sem ser baseado nas coisas que sua mãe fala. Ela concluiu o ensino médio, mas agora sua nova jornada é numa universidade onde tudo irá mudar. Con...