Capítulo vinte e sete

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Assim que meus pés tocaram o calçamento de frente a minha casa eu suspirei ainda com as lembranças vívidas do beijo de horas atrás. É estranho, como se eu pudesse fechar os olhos e sentir o toque aveludado da sua boca.

Segurei fortemente a alça da minha mochila, querendo esquecer essas sensações diferentes. E caminho até a porta da minha casa. A porta está destrancada. Hoje é segunda e meus pais não vão a cultos na parte da tarde porque não tem. Se tivesse eles com certeza já estariam lá.

Depois do que fiz é como se uma parte minha na qual era completamente inocente foi anulada, borrada com um pigmento escuro. Não estou arrependida, por Deus. Não. Era o que eu queria, estava consciente quando aceitei.

Apesar das mudanças, não acho que eu deixarei de ser eu mesma. Como se eu fosse um personagem moldado a trocas de roupas e penteados. Eu serei a mesma Hye, só que mais madura. E vendo as coisas com mais clareza, parando de achar que o mundo é um lugar ruim só porque a minha mãe diz que é. Pode não ser o paraíso, mas não é um lugar tão horrível assim, afinal se fosse assim eu não teria encontrado os meus melhores amigos.

Procuro com receio a minha mãe. Depois do que aconteceu, eu tenho a evitado. Por mais que estejamos na mesma casa e seja inevitável, eu estou fazendo o possível.

Subo ligeiro as escadas e assim que entro no quarto tranco a porta. Não de chave, minha mãe ficaria furiosa achando que eu poderia estar fazendo sabe se lá o que. Não tenho celular, notebook ou um computador no meu quarto. Não há nada de "pecaminoso" aos seus olhos que eu poderia fazer. Quanto mais penso nas suas restrições, mais sufocada eu fico.

Coloco minha bolsa no sofá que fica embaixo da janela. Gosto desse espaço para poder escrever no meu diário. Ainda bem que o Taeyong não sujou quando entrou pela janela. Ou a minha mãe poderia suspeitar de algo.

Tiro minhas roupas, as colocando no cesto de roupas sujas que tem no banheiro. Quando passo pelo espelho, quadrado e médio que tem perto da minha escrivaninha eu observo o meu corpo. E decido olhar mais um pouco. Nunca parei para ficar observando, a minha mãe sempre disse que quem fica tocando no próprio corpo, ou olhando demais é imundo. Pecador.

Nunca vi outras garotas e muito menos garotos sem roupas… e acho que não estou nessa etapa. Claro que conheço a anatomia do corpo humano, sei o que os homens têm, e as mulheres também. Só não sei de qual forma "errada" mamãe falou que era tocar. Não podemos encostar no nosso próprio corpo?

Minha cabeça ainda é cheia de tabus e sei que a Morgana ficaria feliz em conversar sobre isso comigo. Entretanto tenho vergonha e ainda é cedo demais para conversas assim, se é que as pessoas dialogam sobre isso.

Paro de ficar observando os meus seios expostos e vou tomar banho.

Meu estômago estava infestado por sensações novas. Por que eu ainda estou recusando se o meu corpo parece está entregue a ele, implorando, quase explodindo em sensações e vontades?

— Não vai doer nada, pelo contrário.

Nossos rostos estão a alguns milímetros de distância, podendo sentir a respiração um do outro.

Sinto algo esquentando entre minhas coxas e paro de ficar lembrando. Que ódio, porque o meu corpo está respondendo assim às lembranças de hoje cedo com Taeyong? Isso é esquisitice demais.

Termino meu banho o mais rápido que posso depois de ter me banhando bem. Quero parar de deixar inscientemente minha mente divagar sobre o ocorrido.

Good or BadOnde histórias criam vida. Descubra agora