A dúvida de contar a minha mãe sobre a decisão do professor estava martelando em minha mente. Eu nunca tive coragem de mentir, mamãe sempre dizia que pessoas mentirosas são condenadas ao inferno. Desde que me lembro eu ouço repetidamente essa história e agora tenho medo de contar uma mentira sequer. Mas como poderia contar que vou fazer dupla com o garoto que ela não quer nem que eu troque diálogos? O melhor a se fazer é…
— Algum problema Hye? — Mamãe pergunta, percebendo que estou aérea.
— Não, nenhum.
Mexo minha comida já sem apetite e me dou conta de que já contei mais uma mentira. Aquela na igreja e esta. Ao todo já são duas. Minha passagem para ir ao inferno com certeza já está garantida. Que Deus me perdoe.
Quando comecei a mentir? Antes eu nem conseguia, agora está indo sem eu nem perceber.
— Vou para o meu quarto agora. — Me retiro sem mal ter tocado na comida.
Como não tenho uma daquelas telas brilhantes para conversar com alguém e nem amigos, eu costumo escrever, desabafar em um diário que deixo bem guardado por precaução. O livrinho de folhas coloridas e aroma doce foi preenchido em várias linhas o quanto Lee Taeyong vai me arruinar caso a minha mãe descubra que nós temos agora um pequeno envolvimento graças a um trabalho. Tenho noção de que a culpa não é dele, mas as mentiras começaram a surgir quando a gente se conheceu e talvez isso seja um mal sinal. Preciso culpar alguém e esse alguém não vai ser eu.
— Se eu contar ela vai me proibir de fazer o trabalho. Se não contar, eu farei o trabalho e ganharei nota. Qual a opção mais vantajosa?
Balanço os pés no ar de bruços na cama falando comigo mesma.
— Se ao menos eu tivesse amigas que me dessem conselhos...
Encaro um ponto cego ao lembrar que não tenho amigos. Suspiro triste e guardo meu precioso diário no lugar secreto.
Acho que poucas pessoas da minha idade nos dias de hoje tem um diário, mas é a minha única maneira de não absorver tudo e entender melhor os meus problemas.
Narradora
Enquanto Hye se preocupava e se questionava em fazer o trabalho ou não, Taeyong estava disposto a realizar aquela pesquisa. Queria mudar alguns dos seus antigos hábitos. Ele é muito inteligente quando quer. Conseguiu uma bolsa de estudos por puro mérito seu, não que sua família não pudesse pagar a mensalidade. Ele é um garoto rico mas nunca quis a ajuda dos seus pais para conseguir entrar na universidade que queria. Mas seu defeito era ser muito preguiçoso e ocupado demais com assuntos seus…
No dia que Hye o convidou ele tinha um compromisso importante e ela teve que ficar em segundo plano, mas hoje Taeyong estava disposto a fazer a pesquisa, por mais entediante que ela fosse. De alguma maneira ele se divertia vendo a "santinha" nervosa com a sua presença. Ele sempre intimidou as garotas de uma maneira boa, mas esta tem medo dele.
E isso o divertia.
Park Hye
— Quatro da tarde nos encontramos na biblioteca daqui, tá bom pra você? — Taeyong encostou na parede me encarando mas eu não dou muita atenção a ele, não sou boa em contato visual.
— É... acho que sim.
Acho que estou preparada para uma mentira do bem. Notas são sempre bem vindas, eu não posso me recusar a fazer por causa da problematização que a minha criou com Taeyong.
— Acha? Por que? Tem outro compromisso? — Taeyong questiona, estreitando os olhos na minha direção me fazendo recuar o olhar novamente.
— Não... está combinado. — Dou um sorriso torto, ainda nova nessa coisa de passar por algo que minha mãe ordenou, me gela o sangue mas sigo tentando. E vou embora já nervosa pensando no que vou dizer para sair de casa mais tarde. Nunca tive que pensar numa mentira para sair com alguém mesmo que isso de trabalho não seja um encontro.
. . .
As horas se passaram rápido demais e eu não sabia o que dizer a minha mãe. Andava de um lado para o outro pensando e com medo de perder a hora. E de supetão tive uma ideia, espero que ela funcione. Desço as escadas mais rápido que qualquer pessoa preocupada em cair.
— Mãe, eu vou estudar na biblioteca da universidade pra fazer um trabalho, tudo bem? — Minhas mãos estavam suando e eu tentava disfarçar esfregando no meu vestido sem que ela notasse.
— Pode ir, mas por que está nervosa?
— Nervosa...? É que o trabalho é importante e o primeiro do ano, tem que ficar perfeito.
— Isso mesmo, então vai logo estudar.
Ela me deu a benção e eu fui pegar o ônibus para fazer logo essa pesquisa e encerrar esse assunto de uma vez.
. . .
Olhei no meu relógio de pulso e vi que tinha chegado na hora exata mas ele ainda não estava aqui. Então resolvi esperar lendo um livro de contos. Perdida entre as palavras me assusto com o tilintar de algo batendo contra a mesa onde eu estava sentada. Era Taeyong e a chave da sua moto querendo a minha atenção.
— Custava falar antes?
— Você estava tão concentrada, não quis atrapalhar. — Quando ele sorriu eu soube que fez de propósito pra me assustar.
— Tá, vai, senta aí pra gente começar.
Fomos atrás dos materiais necessários sobre o assunto que ficamos responsáveis no trabalho e depois nos sentamos próximos um do outro para começar. Para facilitar as coisas eu separei nossas partes dando a mais fácil a ele. E talvez esse tenha sido meu erro.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Pode, mas não prometo que eu irei responder — digo ainda concentrada nas minhas anotações.
— Por que você usa roupas assim?
Direto e certeiro como uma lâmina nova.
— Porque é doutrina da minha igreja usar roupas assim. — Respondo simplista.
— Ah, é verdade, estou lembrando de ter visto você naquela igreja.
Os dedos batucando na capa dura de um dos livros ao seu alcance, a postura preguiçosa, quase deslizando da cadeira, os braços cruzados e seus olhos escuros a me estudar. Era a minha vez de questionar.
— O que estava fazendo lá? Não parece ser sua vocação — mordo a ponta da minha caneta, sendo tão direta quanto ele foi comigo.
— Por nada, às vezes eu vou a cultos para ter a certeza de que eu não quero entrar nesse mundo de religião. E cada vez que vou fico mais convicto de que estou no caminho certo — se espreguiçou com os dedos entrelaçados acima da sua cabeça.
— Você é ateu? — Eu não queria soar alarmante, mas foi inevitável.
— Sim.
Essa é a primeira vez que converso com um ateu e mamãe estaria arrancando meu cabelo se soubesse disso.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Good or Bad
Novela JuvenilCriada em uma família tradicional evangélica, Hye não sabe distinguir bem o que é melhor para si mesma sem ser baseado nas coisas que sua mãe fala. Ela concluiu o ensino médio, mas agora sua nova jornada é numa universidade onde tudo irá mudar. Con...