Good or Bad

Capítulo Dez

Taeyong deixou subentendido que criar um perfil no tal facebook é algo bem simples de se fazer… vamos ver se é mesmo fácil até para uma pessoa que nunca acessou uma página sequer distinta dos sites de estudos escolar e bíblico, antes. Com o auxílio do querido tubão. 

Após esticar os braços com os dedos entrelaçados, eu encarei a tela do computador que lembra uma tv antiga com um teclado enganchado, que fica exclusivamente aqui no quarto de estudos que têm como decoração rústica alguns livros bem antigos. Aqui é uma área perigosa para uma pessoa que está tentando fazer coisas que são até então proibidas, afinal a porta tem que permanecer aberta enquanto eu estiver aqui. Não há outra alternativa como do tipo levar o tubão para o meu quarto, ele tem muitos fios que eu com certeza não irei saber reconectar. A única alternativa que me sobrava era permanecer aqui e pensar como Taeyong… o que ele faria se estivesse no meu lugar? Ele era a única pessoa que conheço que entraria nessa situação e a contornaria da melhor forma que encontrasse e isso talvez não seja um elogio. Conseguir mentir para os pais não é um motivo para se orgulhar.

Abri duas páginas, uma era de estudos bíblicos que conheço bem e a outra era do Facebook a qual me deu instruções do que eu precisaria para criar uma conta. Olhei por cima dos meus ombros em direção a porta para saber se eu não estava sendo observada… — ufa — respirei aliviada, um suor tenso começava a criar forma em minha testa, senti escorrer nas laterais do meu rosto. Sinal verde, posso continuar.  Até que o passo a passo não era difícil, precisei confirmar algumas informações sobre mim e de um e-mail. Olhei para trás mais uma vez, meu coração enlouquecido de ansiedade transmitia isso para os meus dedos que estavam trêmulos sobre o teclado no intervalo de tempo em que observei a porta não encontrando ninguém e na dúvida de qual nome eu colocaria no meu usuário. Preciso de algo que lembre o meu nome para que Taeyong possa saber que sou eu… hmm… acho que Hana não é uma má ideia, é um nome bonito e tem a consoante h inicialmente, como o meu. Em poucos minutos consegui criar a conta. É estranho de se pensar mas eu estou um pouco orgulhosa de mim mesma… não deveria mas estou. Não tive nenhuma complicação com nada que me foi explicado e para uma pessoa que nunca fez algo parecido antes o tempo de execução foi muito bom. Porém eu ainda não terminei, a parte mais complexa já foi concluída, agora tenho que achar Taeyong e falar com ele.  

Antes de mais nada dou uma passada no corredor do primeiro andar para me certificar que a minha mãe não estava em algum lugar escondida me espiando, mas não há ninguém aqui e nem nas proximidades. Soltando todo ar que poupei devido a apreensão retornei para o quarto de estudos, me sentando na cadeira de rodinhas retomando minha concentração no que eu estava fazendo. Ele me disse que para encontrá-lo eu precisava achar uma lupinha e digitar o seu nome, rapidamente identifiquei a tal lupa e fiz o que me mandou hoje mais cedo. Bingo. Encontrei você, meu grande causador de problemas. A foto que destacava o seu perfil tinha um ar misterioso, os olhos de que bem me lembro — escuros e perspicazes, intensos como o pretume do céu igual como seus cabelos, a única coisa na qual senti falta foi do piercing. O que pode indicar que a foto não é recente.

— Que metido, olha só o tanto de curtida e comentário. — Disse baixo para mim mesma. Não sabia que ele era popular e tão pouco querido por tantas garotas.
Isso não é da minha conta, eu não vou mais me distrair com essas coisas, o objetivo de estar aqui não é esse. Sem demora acho um negócio chamado bate-papo. Deve ser aqui onde eu mando mensagem para ele.

— Oi, sou eu, Hye.

Olho para trás depois de enviar a mensagem, se eu não estivesse de bexiga vazia iria fazer xixi na calcinha. E para piorar ele não estava online.

— Taeyong, estou aqui me arriscando com suas ideias mirabolantes e você não me responde.

Estava começando a ficar impaciente com a demora dele de ler as mensagens. Foi ele quem deu a ideia e ao  invés de esperar por mensagens minha, está fazendo sei lá o que. Meus pés balançavam em pura ansiedade, intercalava na página de estudos e no bate-papo com Taeyong.

Quando me aparece uma notificação verifico ligeiro, não tenho tempo a perder como outras pessoas tipo Taeyong.

— Santinha? Você fez mesmo uma conta? Estou orgulhoso 👏🏻 está finalmente saindo do casulo.

— Aí Taeyong não tenho tempo pra isso, me fala logo o que você quer.

— Eu falei com os caras que vão ajudar a organizar, eles gostaram da nossa ideia. Um dos grupos que vão se apresentar tem como tema o tambor de Dancheong. Podemos fazer uma festa com tema de palácio.

— Palacio? O pessoal vai concordar com isso?

— Amanhã a gente pergunta e se eles concordarem a gente começa a ver as decorações pra festa.

Até que ele sabe usar o cérebro de vez em quando. Sorri com o pensamento.

— Ok, então amanhã a gente conversa mais sobre isso. Vou sair aqui.

— Você fez uma conta só pra falar comigo, vou ficar mal acostumado.

Ele está tão convencido. Deve ser graças àquele tanto de comentários que ele tem na foto.

Meu Deus, meu Deus, eu preciso sair dessa página agora! Pelos passos arrastados que estou ouvindo é mamãe e ela está vindo pra cá. Se eu olhar em direção a porta vai dar muito a entender que eu estou desconfiada, então finjo que estou lendo “dez palavras de Deus para refletir.”

— Hye, o que tanto faz nesse computador? Está aí a uma hora.

Uma hora?! O tempo passou tão rápido aqui que nem percebi ou só é exagero dela.

— Estudos bíblicos mamãe.

Desconfiada ela se aproximou de mim e do tubão para ter certeza que eu estava falando a verdade. Mal sabia mamãe que eu estava a um passo à sua frente. Mesmo tendo a comprovação diante dos seus olhos, ela demorou mais alguns minutos no cômodo, na espera de algum vacilo meu. Minutos esses que pareceram eternos junto do meu esforço descomunal de não transparecer meu nervosismo, continuando a ler tudo embolado na minha mente. Mais ou menos convencida mas sem alternativas ela vai embora e só depois de ouvir passos cada vez mais distantes de onde estou, eu começo a apagar do meu histórico de pesquisa o site do Facebook. Não tendo mais nada para fazer e sem cabeça para leitura, desligo o computador e vou para o meu quarto.

O plano de Taeyong deu certo mas não podemos sempre contar com a sorte. Da mesma forma que não podemos conversar o tempo inteiro na igreja, eu não posso sempre usar o computador com a mesma desculpa. Minha mãe desconfia até da própria sombra, ela é muito mais esperta do que eu. Contudo não consigo negar que se arriscar é um tanto divertido, viver com adrenalina nas veias é puro êxtase mas ao mesmo tempo acho tudo isso errado. E o que me salva da consciência pesada é saber que irei ganhar pontos mais tarde.